Coalizão Vozes pela Ação Climática debate tema central do FOSPA, Justiça Climática

Compartilhe essa notícia com seus amigos!

Comunidades que mais protegem também são as que mais são impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas. Foi a partir desta constatação que dezenas de vozes da própria Amazônia se uniram nesta sexta-feira (29), durante a roda de conversa “Justiça climática: visões e vozes amazônidas”, em Belém, dentro da programação do 10º Fórum Social Pan-Americano (FOSPA).

O momento contou com a participação de grandes nomes na luta pela defesa das florestas, como a ambientalista e filha de Chico Mendes, Ângela Mendes, e Suzy Evelyn Silva, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB.

Esse encontro faz parte do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa (VAC), que atua em 7 países. Na Amazônia, o objetivo é ocupar espaços e dar voz e visibilidade às populações para tomada de decisões. “A ideia é fortalecer essas pessoas para que elas cada vez mais tenham a sua visão de mundo no Brasil e fora também”, explicou Juliana Strobel, da Fundação Avina.

Justiça climática é o tema central do Fospa em 2022. Foto: Fábio Pena/PSA.

O foco das iniciativas do VAC é principalmente a Amazônia, onde são apoiadas e fortalecidas organizações da sociedade civil que levam para as realidades locais a discussão da agenda climática, com ribeirinhos, quilombolas, indígenas e populações tradicionais.

No oeste paraense, o Projeto Saúde e Alegria é uma das iniciativas que realizam os debates através do projeto “Vozes do Tapajós: combatendo mudanças climáticas”.

“É uma pauta global, mas muitas vezes aqueles que mais protegem o meio ambiente, porque dependem mais desses recursos, são os mais impactados. A discussão é sobre quem paga a conta final pelos impactos causados às vidas de todo mundo. Precisamos defender programas e políticas públicas que defendam essas populações”, destacou Fábio Pena, coordenador de educação e comunicação do Projeto Saúde e Alegria.

Apesar da importância da Amazônia à saúde do planeta, ainda segundo Pena, o Brasil perdeu nos últimos anos força nessas discussões e as políticas públicas se enfraqueceram. “Vemos um processo de degradação ambiental aumentar e uma narrativa de que essa problemática não existe. Se a gente nega um problema, uma hora a conta chega e quem sofre mais são os menos favorecidos economicamente”.

Na quinta-feira (28), participantes da marcha de abertura do 10º Fospa, manifestaram contra as ações predatórias em áreas de conservação da Amazônia. Foto: Fábio Pena/PSA.

Fazem parte da coalização do “Vozes do Tapajós” na região do alto e médio Tapajós e Baixo Amazonas: PSA, Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (SAPOPEMA), Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), Conselho Indígena Tupinambá (CITUPI), Suraras do Tapajós, Coletivo Audiovisual Munduruku Dajekapapeypi e Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR).

A indígena Iane Borari integra o coletivo Suraras do Tapajós’. Para ela, as discussões ampliadas dentro do fórum fortalecem o trabalho já desenvolvido nas bases. “Utilizar esse espaço de forma dinâmica para que as organizações possam falar sobre o que tem sido feito dentro dos territórios e como é que pode compartilhar esse modo de atuação e captar de outras organizações o que eles estão fazendo para somar junto com as atividades que têm sido feitas”.

Durante a roda de conversa, a coordenadora-executiva da COIAB destacou a transformação causada pelo poder de contribuir e potencializar lutas e discursos, principalmente no período de negação a tantos direitos indígenas no Brasil. “É um trabalho das comunidades como um todo. É uma luta diária, e ela parte das forças das nossas bases, que nos fortalece, se une e se mobiliza para defender os direitos indígenas”, disse Suzy Evelyn Silva.

O momento de discussão, troca e diálogo foi mediado por Ellen Acioli, integrante da Fundação Avina. Entre as trocas ela destaca a importância de explicar a aplicação dos termos “Justiça Climática” e “Mudanças Climáticas” e os impactos nos territórios.

“A gente só pode criar soluções e pensar em estratégias de mitigação, adaptação e suporte se a gente ouve as comunidades. Potencializar essas vozes para que cheguem além dos territórios é extremamente importante. Fazer justiça climática é a construção a partir das perspectivas de cada que está sofrendo com os impactos.”

Os trabalhos começam a dar mais efeitos a partir das trocas de experiências entre as comunidades, como a realizada durante o Fórum. Segundo a ambientalista Ângela Mendes, é preciso alinhamento e organização nas frentes de lutas e resistência, principalmente no atual cenário de ataques e ameaças aos povos tradicionais e territórios. “Ter esse ambiente de integração, debate e construção, às vezes de soluções coletivas, é ter um espaço estratégico na nossa luta de hoje”

Ao final da roda de conversa, Ângela leu a carta que o pai Chico Mendes deixou para encorajar tantos outros protetores das florestas. A ambientalista ressaltou que o que o pai plantou no passado nos seringais do Acre foi abraçado pelos povos tradicionais e comunidades. “É mais uma forma de luta por tudo que eu trago e já vivenciei, e também é uma história de legado por essa luta. A gente sabe que são milhares os herdeiros de chico”, finalizou.

*Geovane Brito para o Projeto Saúde e Alegria.

Compartilhe essa notícia com seus amigos!

Deixe um comentário

Rolar para cima