PUSURUDUK – Encontro que reuniu caciques, pajés, lideranças e educadores Munduruku constrói propostas para o futuro do território

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V Encontro Pusuruduk foi realizado no período de 20 a 25 de maio na Aldeia Santa Maria, região do Alto Tapajós. Organizado por lideranças indígenas, evento debateu a melhoria de vida das populações que sofrem constantemente violações de direito no território. Dentre outros encaminhamentos, a decisão histórica de aprovar o processo para reivindicar Kerepoca (“cachoeiras que abrigam lugares sagrados visíveis e invisíveis”) como “Patrimônio Sagrado para toda Humanidade”

A situação em que estão expostos os indígenas no Tapajós nunca preocupou tanto quanto agora, contam as lideranças mundurukus que vivem sob fortes pressões e ataques por defenderem seu território. Em meio a lama dos garimpos que avança no rio Jamanxim, vivem crianças, mulheres, jovens e idosos que dependem da água barrenta do rio e do peixe, infelizmente contaminado pelo mercúrio. A qualidade da água alerta para a saúde das populações, que buscam alternativas.

O tema foi um dos assuntos discutidos no V Encontro Pusuruduk (traduzido simultaneamente para o munduruku e português) que contou com a participação de indígenas, associações representativas e instituições convidadas como FUNAI, DSEI (Distrito Sanitário Especial Indigena), COIAB, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e Ministério Público do Estado.

Contaminação preocupa povos mundurukus que dependem dos rios para sobreviver. Fotos: Caetano Scannavino.

Foram seis dias de debates, reflexões, saberes e aprendizados no encontro de caciques, pajés, lideranças e educadores Munduruku, com construções importantes para o território.

Após todo um trabalho anterior de cartografia social e mapeamento da situação das escolas, foi debatido como avançar na implementação do Projeto Pedagógico Indígena (PPI) e do Currículo Escolar Munduruku, de forma articulada com a realidade local, com a cultura indígena, que valorize as tradições, “para que os estudantes entrem na escola como Munduruku e saiam como Munduruku, não como pariwat = homem branco” – argumentaram.

Na área da saúde, exerceram seu papel cidadão no controle social das políticas públicas, fazendo um balanço dos serviços e identificando pontos a melhorar juntamente com os representantes do DSEI-Tapajós presentes no encontro. Destacaram também a necessidade de projetos de acesso à água de qualidade para reduzir a dependência das águas contaminadas pelos garimpos, origem da grande incidência de doenças de veiculação hídrica, e a maior causa da mortalidade infantil, decorrente das diarreias e da  desidratação.

“A gente sabe do desafio que é para o DSEI fazer chegar a saúde num território tão grande, com limitações de pessoal, de recursos, infraestruturais e logísticas. Nesse sentido, temos sido demandados pelo Distrito e pelas Associações Indígenas a ajudar nessa soma de esforços” – ressaltou o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino, presente no encontro. “Na região do Médio Tapajós, conseguimos avançar na implantação de banheiros e sistemas de água encanada nas aldeias. Agora para o Alto, além dos laboratórios de saúde movidos a energia solar que estamos instalando nas UBSI, apoiaremos também com novos sistemas de água nas áreas mais impactadas pelos garimpos. Mesmo assim, ainda será preciso muito mais” – complementou.

Além da saúde, a economia da floresta é uma outra área em que o Projeto Saúde e Alegria vem sendo demandado para ajudar. No encontro, foi bastante debatido a busca por alternativas econômicas ao garimpo, um território rico em produtos da sociobiodiversidade como castanha e copaíba. Foram encaminhados estudos dos potenciais produtivos e aprovada uma comissão envolvendo uma soma de esforços da FUNAI, COIAB, PSA, com abertura para outros parceiros potenciais no suporte às associações indígenas por caminhos para geração de renda, alimentos, com águas limpas e a floresta em pé.

Para o coordenador da Organização dos Educadores Indígenas Munduruku do Alto Tapajós, Edivaldo Poxo Munduruku, a parceria renova a esperança de dias melhores para os povos da região: “Que essa parceria seja de muita esperança, alegria e cheia de realizações para o Tapajós. Foi uma reunião de muito diálogo e de montar um projeto onde podemos trabalhar com o compromisso que nos fortalece e pode nos beneficiar” – destaca.

Decisão Histórica

Edivaldo Poxo liderou a aprovação em assembleia de uma decisão histórica que pode também ajudar a proteger o Território e a identidade Munduruku pelo viés da cultura e do sagrado.

Durante o encontro, aprovaram em Assembleia a entrega formal do pedido ao Ministério Público reivindicando que Kerepoca (“cachoeiras que abrigam lugares sagrados visíveis e invisíveis”) seja reconhecida como Patrimônio Sagrado para toda Humanidade.

Caciques, pajés, lideranças e educadores Munduruku aprovaram o processo para reivindicar KEREPOCA (“cachoeiras que abrigam lugares sagrados visíveis e invisíveis”) como “Patrimônio Sagrado para toda Humanidade”. Foi construído e deliberado em assembleia o documento formalizando o pedido para iniciar o processo, entregue à Dra. Lilian Braga, representante do Ministério Público presente no encontro.

“Genial! E pode gerar uma jurisprudência para outras etnias reivindicarem o mesmo. Tem todo nosso apoio” – enalteceu Caetano Scannavino. “Só gratidão aos Munduruku pelo convite, oportunidade de participar e pelas tantas lições aprendidas nessa aula de vida desse povo guerreiro que não luta só pelas suas terras, mas pelo futuro, seu, meu, nosso, de todo mundo” – finalizou.

Isolamento

A aldeia Santa Maria, localizada às proximidades da serra do Cachimbo, está geograficamente isolada dos centros urbanos. Para chegar até o local, é preciso partir de Itaituba de voo até a missão São Francisco do Rio Cururu e seguir de lancha por mais quatro horas. Além da dificuldade geográfica, os indígenas possuem limitações para se comunicar: a região não possui sinal de telefonia celular e internet, nem energia de rede.

Durante a visita do PSA, um dos coordenadores que também é radioamador, recuperou o  sistema de rádio da aldeia – que é responsável por possibilitar a comunicação entre os aldeados. Graças ao novo rádio e antena disponibilizados pelo DSEI/RT SESAI, Paulo Lima conseguiu revitalizar o espaço – um desejo antigo dos moradores: “Uma das prioridades da aldeia é a comunicação. Atualmente estavam sem comunicação. Agora a antena está mais alta e a instalação foi feita dentro de padrões técnicos e voltou a funcionar muito melhor. Agora a enfermeira pode se comunicar com Jacareacanga e as aldeias entre si dentro da rede de rádios da Funai” – comemorou.

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