Gastronomia social na floresta: comunitários aprendem a reaproveitar alimentos e melhorar valor nutricional

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Quatro meses após realização do primeiro ciclo, oficinas de gastronomia social da floresta promovidas pelo Projeto Saúde e Alegria, Gastromotiva e ONG Banco de alimentos, ampliam formações para Aldeia Takuara e Nova Vista do Tapajós

Evitar o desperdício, garantir um bom acondicionamento dos alimentos, usar a criatividade e melhorar a nutrição foram temas da formação realizada no período de 28 a 29 de setembro em comunidades e aldeias da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns e Floresta Nacional do Tapajós. Na primeira etapa, realizada em junho deste ano, profissionais realizaram oficinas sobre higienização, manipulação, preparo, armazenamento e conservação de alimentos, nas comunidades Vista Alegre, Capixauã, Solimões, Pedra Branca, Anumã e Carão na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns. “Falamos sobre higiene, armazenamento, como guardar e manipular esses alimentos, evitando desperdício. Estou muito feliz em participar desse projeto junto com o PSA e representando a ONG Gastromotiva”, ressaltou Nayara Matos, nutricionista.

A partir da vivência dos territórios e identificação dos alimentos regionais com maior fartura nas comunidades e aldeias, nutricionistas, cozinheiros e participantes, elaboraram mais de cinquenta receitas ricas em nutrientes, explicou o cozinheiro da Gastromotiva, Rodrigo Sardinha: “Foi muito proveitoso. No primeiro ciclo desenvolvemos cinquenta receitas e algumas lições ficaram pra essa segunda. Falamos muito sobre insegurança alimentar, receitas direcionadas para os alimentos que tem nas comunidades. Foi super importante essa troca de conhecimentos”, conta.

A presença de crianças, jovens, adultos e idosos marcou as oficinas nas duas comunidades. Segundo a pedagoga do PSA, Adma Guimarães, os participantes ficaram muito entusiasmados com as capacitações que se tornaram grandes eventos comunitários. “A aderência das comunidades foi muito positiva. As comunidades compareceram e a gente recebeu um público maior interessado em participar das oficinas”.

Aos 78 anos de idade, Nezilda Rocha, moradora da comunidade Nova Vista do Tapajós, fez questão de participar e se comprometer a multiplicar o conhecimento: “Achei muito importante e a gente precisa levar para outros comunitários. Eu moro aqui e sei a dificuldade. É preciso que esse conhecimento seja para todos. Nós às vezes jogávamos as cascas, folhas. Eu achei importante aproveitar. Eu jogava e a partir de hoje nós vamos aproveitar tudo”, comenta.

O destaque da segunda edição das oficinas foi para a adaptação de receitas regionais, a partir de proteínas como peixes e derivados como o piracuí, carboidratos como farinhas e frutas, legumes e verduras regionais. A surpresa comum foi o aproveitamento de cascas e talos que normalmente eram descartados:

Foi incrível porque as famílias, pais também participaram da oficina para saber como preparar os alimentos. Aprendi a como fazer a semente do jerimum que a gente não utilizava para comer. Eu não sou muito chegado a comer verduras, mas eu achei bacana a preparação da salada” -Paulo Santos, aldeia Takuara.

Fiquei muito feliz de receber essa capacitação e me senti muito grata de aprender coisas que ainda não tinha visto para produzir as comidas para as crianças, e o aproveitamento que a gente não tinha. As vitaminas principais das frutas a gente não aproveitava” – Maria Suely, servente da Escola da Aldeia Takuara.

A gente tem muito alimento e tem coisas que a gente não sabia. Salada de arroz com manga e gergelim foi uma novidade. O gergelim dá bastante e a gente não aproveitava. Hoje em dia eu já sei” – Ciléia Dias, presidente da comunidade Nuquinin.

Com o apoio da editora Mol, foram distribuídas 145 cestas de alimentos para as comunidades Takuara, Martanxin, Nova Vista do Tapajós, Samaúma e Nukinin. Foram incluídos produtos regionais como o piracuí, tapioca e farinha. “Para realizar essa grande ação, dezesseis pessoas trabalharam diretamente nesse projeto que envolve bastante planejamento. Desde a mobilização comunitária até chegar aqui, temos que conversar com os líderes de cada comunidade, muitas vezes não tem acesso a internet, sinal telefônico, engenharia financeira, etc”, explicou Bianca Lopes, responsável pela logística que também entregou 440 cestas para a ADEFIS e Espaço Mãe Natureza.

O encerramento das oficinas foi por conta do Gran Circo Mocorongo. Com muita alegria, crianças, jovens, adultos e idosos apresentaram o resultado das formações promovidas  durante o dia. Além da capacitação em gastronomia, os moradores participaram de oficina de vídeo, rádio, de arte educação e circo. Foi um momento de muita emoção para quem participou pela primeira vez e pôde abraçar os palhaços da trupe. O chefe de cozinha Sardinha, virou o palhaço piaba, que sonhava em ser chef, mas não tinha tanto talento.

Hoje a gente está feliz de ter recebido a equipe que veio fazer essa formação”, contou emocionado o Tuxaua da Aldeia, Leonardo Pereira, que homenageou o médico e fundador do PSA, Eugênio Scannavino e o presenteou com um cocar.

Tuxaua Leonardo e o médico Eugênio Scannavino. Fotos: Kevin Gonzalez.

Confira mais fotos das oficinas na galeria abaixo:

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