Seminário Vozes do Tapajós sobre mudanças climáticas é realizado em Santarém

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Gerido pelo Saúde e Alegria, o projeto é parte da iniciativa global Vozes da Ação Climática (VAC), que ocorre até março de 2024 e é coordenado pela Fundação Avina. Evento foi realizado no período de 22 a 23 de junho

Um grande mapa representando o rio Tapajós, Arapiuns e Amazonas, integrou as diferentes comunidades participantes do seminário que debateu as mudanças climáticas na região Oeste do Pará. A dinâmica foi uma das ações realizadas no evento, que buscou mapear a situação de cada uma das aldeias e comunidades, ligadas aos efeitos das mudanças climáticas.

“Invasões de madeireiras, assoreamento dos igarapés, são problemas presentes na nossa Terra indígena. Em São José 3, formou-se um lago onde era uma reserva de buritizeiro e araras. Hoje já não existem mais, porque as árvores morreram e as aves foram embora” – contou Clenilson Arapiun da Terra Indígena Maró.

“Antes existia uma grande concentração de árvores frutíferas e agora com a erosão do solo e desmatamento que está acontecendo, estão desaparecendo. Apontamos aqui, algumas soluções como o reflorestamento e cuidados ambientais. Meu pai é pescador. Quando eu era pequeno ele pegava tambaqui de dez, vinte quilos, e hoje nem pra consumir nem comercializar” – relatou Gabriel Bernardes da comunidade Tapará Miri, região de várzea.

Jovens de diferentes territórios mapearam efeitos das mudanças climáticas nas comunidades. Fotos: Pedro Alcântara.

O mapa evidencia a gravidade dos efeitos das mudanças climáticas e como os impactos já afetam a vida dos moradores de áreas ribeirinhas da Amazônia. Para o arte educador Walter Kumaruara, a proposta foi caracterizar as mudanças nos territórios: “É um mapeamento participativo, onde eles colocam o que acham que acarreta as mudanças climáticas, porque são eles que estão sofrendo com os barrancos estão caindo, a praia suja, peixes morrendo”.

Lucas Tupinambá do Conselho Indígenas Tupinambá, que representa vinte e três aldeias da margem esquerda do rio Tapajós, chamou atenção para as alterações que vêm impactando a subsistência nas aldeias: “Hoje já não sabemos a época pra se plantar na região do Tapajós, pelos efeitos das mudanças climáticas. Hoje está chovendo muito, mudaram as estações do ano. Hoje a nossa produção já não rende como nos anos anteriores”.

Edilson Silveira, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, apontou ações predatórias que contribuem para as mudanças climáticas: “A gente vive um contexto da disputa do nosso território que está relacionado a nossa floresta, ao nosso rio, aos nossos igarapés. Se a gente não se alertar de falar com a juventude, a gente vai perder esse nosso território”.

O Seminário faz parte das ações do Projeto Saúde e Alegria que coordena o projeto ‘Vozes do Tapajós combatendo as Mudanças Climáticas’ que integra uma coalizão de seis instituições com atuação na região do alto e médio Tapajós e baixo Amazonas. Juntos, Saúde e Alegria, Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (SAPOPEMA), Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA), Conselho Indígena Tupinambá (CITUPI), Suráras do Tapajós, Coletivo Audiovisual Munduruku Dajekapapeypi e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR), estão promovendo uma agenda comum sobre o tema das mudanças climáticas, agregando e fortalecendo iniciativas que já compõem a agenda de trabalho das organizações.

“Essas mudanças estão se acelerando e afetando todos nós. A gente se acostumou a olhar e pensar sobre as mudanças climáticas relacionados ao derretimento das calotas polares, como um assunto distante, mas temos que olhar como um todo, e a Amazônia no centro das discussões. A proposta desse projeto sobre mudanças climáticas é fazer com que as organizações locais que atuam em diferentes territórios e populações urbanas, possam discutir com uma linguagem popular e acessível e como a gente pode se organizar como sociedade para combater os efeitos. Trazendo conhecimento científico e conectar com o que as pessoas trazem dos territórios, suas percepções sobre as mudanças dos ciclos da chuva, alterações das enchentes, trazendo a experiência do seu dia a dia, para que juntos, saber popular e científico, construam uma proposta de ação e debate sobre isso na sociedade em geral” – Fábio Pena, coordenador do PSA.

O encontro oficina de planejamento discutiu dentre as representações das atividades desenvolvidas pelas instituições, movidas pelo desejo de entender o que pode ser feito nas comunidades para minimizar os impactos das mudanças climáticas e quais ações no dia a dia podem contribuir para diminuir a degradação ambiental.

Cada uma das organizações terá a liberdade de construir agendas para defesa de soluções climáticas em territórios que estão ambientalmente ameaçados, por meio da criação de espaços de diálogo, formação e estratégias de comunicação. A intenção é construir narrativas potentes que deem voz às suas causas e mobilizem a sociedade na busca por soluções para os problemas das mudanças climáticas na região do Tapajós, destacou a coordenadora programática do programa Vozes Pela Ação Climática Justa/Avina no Brasil, Elen Aciole: “O programa Vozes Pela Ação Climática Justa tem essa atuação no Brasil para a Amazônia com foco em gênero e jovens. Pra gente trabalhar com esse território que tem muitos empreendimentos que ameaçam os territórios e afetam esses territórios fazendo com que seja agravados, como o garimpo ilegal, desmatamento, criação de rebanhos bovinos são propulsores das mudanças climáticas. Trazer para a discussão os principais e mais afetados é extremamente importante”.

Jovens, mulheres e lideranças comunitárias serão estimulados a debater o tema, entender como as mudanças climáticas estão afetando a nossa vida e discutir soluções que as comunidades já têm para a defesa ambiental, do território. “Em todos os locais somos afetados pelas mudanças climáticas, seja com o aumento da temperatura, diminuição do rio, seca, enchente, migração dos peixes, a gente tem vários fatores que são necessários serem dialogados para debater e encontrar de forma coletiva soluções para mitigar os problemas causados no nosso território e em todas as regiões que atuamos” – pontuou a coordenadora da SAPOPEMA, Wandicleia Lopes.

O seminário integrou as ações do Acampamento Santarém Terra Indígena, seguindo a proposta da mobilização nacional do Movimento Indígena. Auricélia Arapiun, coordenadora do CITA, destacou a necessidade de debater o assunto e integrar o tema durante o evento: “Somos parceiros de todas as organizações da coalizão, com os mesmos objetivos de defesa do território. Essa é uma atividade paralela ao acampamento para que as organizações pudessem somar a luta do nosso acampamento trazendo vários atos em defesa da vida na Amazônia”.

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