Para evitar que indígenas Mundurukus se deslocassem às cidades, se expondo ao risco de contaminação da covid-19, o PSA dedicou seu apoio em diferentes frentes de trabalho, para possibilitar acesso à água e energia limpa, laboratórios equipados para testagem na aldeia e distribuições de kits de higiene, proteção e alimentação;
Em meio aos conflitos gerados pela atividade garimpeira ilegal que contamina as águas com uso de mercúrio, afetando diretamente e intensamente os povos Mundurukus do Alto Tapajós, as aldeias Sawré Jauby, Datie Watpu, Boa fé, Sawré Muybu, Sawré Aboy, Dajé Kapap, Karo Muybu, Poxo Muybu e o PAE Montanha-Mangabal foram beneficiadas com 112 (cento e doze) sistemas construídos em caráter emergencial com banheiros e fossas sanitárias para cada família, sistemas de bombeamento de água, de captação das chuvas, de distribuição através de redes hidráulicas até as casas, como parte das metas do Programa Cisternas implementado pelo PSA na região.
As entregas às nove aldeias Munduruku do Médio Tapajós foram realizadas entre os dias 25 e 26 de junho, através da parcerias da ASPROC (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), co-executora das obras, envolvendo também a FUNAI, o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Rio Tapajós, e a Associação Pariri dos Povos Munduruku.
O processo de construção durou cerca de cinco meses, priorizando a mão de obra local através da contratação dos moradores das próprias aldeias, principalmente os jovens indígenas. Eles receberam capacitação técnica para executar os serviços e para manutenção dos sistemas.
“Melhorou muito pra gente, agora que não precisa mais carregar água de longe. Minha esposa, que já tem idade, não garantia mais lavar roupa na beira do rio. Quando ela vinha de lá chegava com dor no peito, nas costas” – Cacique Juarez, da Aldeia Sawre Muybu.
Além dos sistemas de abastecimento de água e construção de banheiros, o PSA implementou outras tecnologias para melhorar a vida das populações mundurukus. 51 famílias indígenas das aldeias Munduruku do médio Tapajós/Itaituba-PA – Sawré Jaybu, Dace Watpu e Sawré Muybu Munduruku foram beneficiadas com sistemas fotovoltaicos para bombeamento de água implantados pelo Projeto Saúde e Alegria com apoio da Fundação Mott.
“A partir das instalações fotovoltaicas as aldeias passam a utilizar uma fonte de energia renovável e ter mais autonomia no abastecimento, sem depender exclusivamente do diesel, o grupo gerador, que tem um alto custo e logística de transporte complexo. Além disso, os moradores receberam capacitação para operação e gestão dos sistemas e controle na qualidade da água, que visa instruí-los quanto aos aspectos técnicos operacionais, ambientais e sociais que envolvem um sistema de abastecimento de água” – disse coordenadora do núcleo de Água & Energia do PSA, Jussara Batista.
Laboratórios no Alto Tapajós
Visando promover atendimento laboratorial e farmacêutico para que os indígenas possam realizar exames na própria aldeia, foram montados dois laboratórios em pontos distantes e estratégicos para dar suporte aos pacientes indígenas de áreas mais isoladas, contemplando emergencialmente o atendimento à pandemia junto aos povos Munduruku, para alavancar de forma mais permanente a qualidade da atenção primária a estas populações, realizada pelas equipes multidisciplinares do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Aproximadamente 9 mil indígenas Munduruku da região do Alto Tapajós serão beneficiados através dos dois polos: 1) Polo de Cobertura da BALSA DE SERVIÇOS ITINERANTES do DSEI (Missão Cururu, Restinga, Santa Maria, Teles Pires, Waro Apompo) e 2) Polo da Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) KARAPANATUBA (Caroçal do Rio das tropas, Katô, Sai Cinza).
Os labs vão atender gestantes, idosos, hipertensos, diabéticos, pacientes com doenças endêmicas e em situação de urgências e emergências com através dos métodos laboratoriais adequados à realidade local. A iniciativa é uma linha de ação do Projeto Saúde e Alegria para promover qualidade na atenção prestada para os povos indígenas, explicou o médico do PSA, Fábio Tozzi: “As equipes de saúde indígena que fazem atenção de saúde para as aldeias mundurukus, não contavam com suporte de laboratório próximo dessas aldeias. Com essa iniciativa, terão métodos laboratoriais para acompanhar adequadamente os pacientes, não somente no combate à Covid-19 como também para qualificar a assistência básica”.
Em dezembro, a equipe de energias renováveis instalou o sistema fotovoltaico para o lab de análises clínicas na Aldeia de Karapanatuba. Os equipamentos do laboratório também já foram instalados e testados, comentou Jussara Batista, do programa de Energias Renováveis do PSA.
O projeto do laboratório remoto que pretende dirimir a ausência de acesso aos procedimentos de coleta devido às longas distâncias amazônicas, recebe financiamento do Fundo Casa, União Amazônia Viva e Fondazione Eremo Madonna Del Faggio. O apoio permitirá ampliar os serviços de atenção primária indígena e aumentar as condições locais para a resolutividade dos atendimentos a partir da viabilização de exames nas próprias aldeias, sejam de sangue, urina, fezes, entre outros, destacou o coordenador do PSA, Caetano Scannavino.
Para a liderança, Alessandra Korap Munduruku, a unidade cumpre um importante papel para evitar que indígenas saiam de suas aldeias: “Quando os indígenas começam a passar mal, ficam sem ar. Com esse laboratório não precisa o indígena sair pra cidade, facilita ele ficar se curando dentro da aldeia sem precisar ficar saindo. O equipamento chegando a gente fica mais feliz ainda porque nosso parente não precisa ser deslocado e se curar dentro da aldeia”.
Kits de higiene e proteção aos Mundurukus
Desde maio de 2020, a campanha #ComSaudeeAlegriaSemCorona tem apoiado os indígenas com kits de pesca, higiene e cestas de alimentação visando reduzir a necessidade de deslocamento para cidade e riscos de novas contaminações. Diversas ações foram realizadas com o apoio do Instituto Arapyaú, Fundo Canadá e Fundo Casa para ampliar o suporte às populações desse território.
“Essa campanha está baseada num amplo quadro de alianças. A gente vem dando suporte a Secretaria Especial de Saúde Indígena, Dsei Rio Tapajós, as organizações de base como a Associação Pariri dos Povos Mundurukus. Isso é importante porque a gente acaba fazendo todo um trabalho de ação conjunta com eles fazendo uma seleção das situações de maior vulnerabilidade, para priorizar áreas, aldeias e famílias, sobretudo mulheres distantes, mães solteiras para receber esses benefícios” – acrescentou o coordenador do PSA, Caetano Scannavino.
O Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, responsável por quase treze mil e quinhentos indígenas. Segundo a enfermeira especialista em saúde indígena e saúde coletiva, Coordenadora DSEI, Cleidiane Carvalho a preocupação em garantir a prevenção nesses territórios continua e as parcerias são fundamentais: “E o Saúde e Alegria tem sido grande parceiro, a gente tem trabalhado em conjunto. O Dsei Rio Tapajós tem 13.496 indígenas localizados em cinco municípios diferentes.” – esclarece.