Cada uma das sete organizações integrantes da Escola de Redes Comunitárias (Pará, Amazonas e Acre) receberão as atividades de imersão. A iniciativa faz parte do projeto Conectando os Desconectados que no Brasil, é realizado pelo Saúde e Alegria e engloba cinco países coordenados pela Associação para o Progresso das Comunicações;
Iniciaram no último sábado (19/02), as ações de campo da Escola de Redes Comunitárias. A primeira organização a receber visita dos técnicos foi a aldeia Solimões, localizada na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns. A metodologia usada no encontro envolveu dinâmicas participativas, onde os participantes (estudantes, comissão gestora da escola e lideranças), puderam falar sobre seus territórios, suas fortalezas, desafios e sonhos. A partir das respostas, foram produzidas mandalas com a síntese de cada pergunta.
“Esse projeto busca fortalecer iniciativas de comunicação comunitárias como rádios comunitárias, telecentros, pontos de acesso à internet público e gratuito nas comunidades para um uso melhor e mais qualificado para saúde, educação e agricultura familiar. Indica um acúmulo de experiências do PSA, onde essas comunidades farão intercâmbio com outras instituições que integram o projeto na Amazônia. Esse projeto faz parte de uma iniciativa executada em cinco países, apoiado pela Associação Para o Progresso das Comunicações” – esclareceu o coordenador do PSA, Paulo Lima.
O objetivo do projeto “Conectando os Desconectados”, do qual escola é o pilar de formação e treinamento, é buscar conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy e mobilização comunitária.
Por meio da metodologia de criação coletiva, está sendo feito um mapeamento coletivo dos temas importantes para fortalecer as redes comunitárias envolvidas. Os alunos da primeira turma começam a participar dos encontros no período de junho a dezembro de 2022.
A aldeia Solimões, possui 55 famílias e 185 habitantes e abriga a Escola indígena da Aldeia Solimões, Nossa Senhora das Graças que oferta educação infantil até o nono ano e o ensino modular indígena. Para a gestora da unidade, Aurenice Fernandes, integrar a iniciativa representa a oportunidade de realizar um sonho antigo dos moradores: “O nosso sonho hoje é ter uma rádio comunitária. Nós temos vários jovens que já trabalharam com rádios comunitárias em outras comunidades. A nossa expectativa é que esse projeto concretize o nosso sonho” – diz.
Esse também é o objetivo dos alunos que representarão o projeto, fortalecendo as experiências de comunicação dentro da aldeia. “Eu fiquei muito feliz de ser convidado. Que nós possamos aprender muito e trazer alegria e conhecimentos para nossa aldeia. Nós trabalhamos com jornal durante muito tempo e agora temos essa perspectiva de conseguir a rádio comunitária” – contou Jardson Assunção.
“Estamos na expectativa do início das aulas. Através desse projeto, agora estamos mais perto de realizar o nosso sonho. Estamos muito felizes” – Varley Cardoso.
A Escola de Redes Comunitárias da Amazônia
A Escola é parte da iniciativa global “Conectando os Desconectados”, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria.
A escola terá 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará). As aulas iniciam no mês junho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes comunitárias envolvidas.
As comunidades selecionadas que possuem integrantes que participarão da formação são: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.
O conselho de especialistas é formado por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).
O que são Redes Comunitárias?
As redes comunitárias são grupos organizados para realizar sonhos coletivos para o território, onde partilham conhecimentos e expressam o desejo de conquistar o direito ao uso da internet, ao acesso de tecnologias para participação social, participação em rádios comunitárias e processos formativos de comunicação.
Um dos pilares de uma Rede comunitária é o processo de gestão compartilhada em que um grupo de pessoas se organiza para debater e articular ações em torno de suas necessidades, qualidade de vida e bem estar. Nesse processo de empoderamento social e autonomia, as organizações e associações comunitárias buscam formas de integrar os membros da rede, buscando levar o acesso à informação e/ou a tecnologia para dentro da comunidade.
Criadas com o viés de um espaço democrático, as Redes comunitárias partem do princípio de respeito à liberdade e neutralidade da rede. Com uma dinâmica de participação ativa de seus membros, operam com ou sem apoio de entidades do terceiro setor, objetivando uma propriedade coletiva.
Apesar da rede possibilitar o fortalecimento de experiências locais, promover espaços de sociabilidade, engajamento ambiental e acesso à informação em processos participativos, ainda existem muitos desafios na implementação de redes comunitárias. Dentre eles:
QUESTÃO LEGAL: necessidade de instituição de lei e novos incentivos que legalizem as redes comunitárias.
ENERGIA: comunidades ribeirinhas sofrem com a dificuldade de acesso à energia, o que prejudica o uso da internet e de rádios comunitárias. Há necessidade de instalação de sistemas de energia solar.
EXCLUSÃO DIGITAL: muitas redes estão localizadas em áreas de difícil acesso, em que a conexão à internet é precária.