Com previsão de inauguração no primeiro trimestre de 2023, empreendimento é fruto de um sonho antigo da Aldeia e gera expectativa de melhoria no turismo local
“Enquanto não acontece, a gente imagina”, a frase estampada na blusa de Irenilse Batista, cacica da aldeia Vista Alegre do Capixauã, representa o desejo da construção de uma pousada na região. Atuando há cerca de 25 anos com o turismo de base comunitária, as 32 famílias sonham com a conclusão da obra iniciada em outubro deste ano, após a suspensão de dois anos, devido a Covid-19. “A gente sempre teve o sonho de ter uma pousada. Nós conseguimos ganhar em 2019, mas por causa da pandemia, parou um pouco. No momento está sendo construída”, conta.
A obra envolve uma complexa operação logística para conduzir materiais de construção da área urbana de Santarém até a aldeia. Transportados por balsa, ferros, concreto, areia e madeira, seguem pelo rio Tapajós até Vista Alegre e são descarregados em puxirum (organização comunitária que envolve todos os moradores). “Não está sendo fácil por causa da seca que está muito intensa. Como nós somos suraras, somos guerreiros aqui na aldeia, homens e mulheres pelo empreendimento que é nosso, nós estamos muito felizes. Uma pousada bonita, vamos ter um local para receber o turista”, ressalta a cacica.
Liderado pelo Programa de Economia do Projeto Saúde e Alegria, o Floresta Ativa, a iniciativa conta com o apoio do BNDES e FUNBio. “Além do investimento, nós realizamos capacitações para os comunitários envolvidos, em manipulação de alimentos, culinária regional e vegana e boas práticas de hospitalidade”, conta o coordenador do Programa de Economia da Floresta do PSA, Davide Pompermaier. Há mais de duas décadas, os moradores se dedicam ao Turismo de Base Comunitária.
Atualmente, os visitantes ficam hospedados nas casas familiares. A expectativa é que com a pousada, possam desfrutar de um espaço adequado para apreciar as belezas naturais, comidas típicas e conhecer a cultura local. Euclides Melo, professor e morador da aldeia, explica que o receptivo recebe os turistas com danças indígenas, carimbó e tipiti. As atividades incluem caminhada na trilha, onde conhecem a casa de farinha, tomam banho de igarapé, prestigiam apresentação de arco e flecha e ouvem os cantos de pássaros. O cardápio oferece opções regionais aos turistas, que também podem aproveitar o grafismo indígena (pintura no corpo, a base de tinta de jenipapo) feita pelos jovens da aldeia.
A mobilização dos moradores na chegada do material é uma tarefa do técnico do PSA, Moacir Imbiriba. Ele comenta que devido a distância da margem dos rios, a dificuldade é ainda maior. “Usamos trator pra puxar o material para outro local para que a bajara possa chegar à aldeia. Muita dificuldade, mas estamos muito otimistas com a construção dessa pousada. Esperamos que muitos turistas visitem e possam conhecer a cultura local”, diz.
Com o desembarque de todo o material, fase que envolve planejamento e dedicação, foi iniciada a fase que é de mão na massa. “As obras começaram em outubro e a previsão é de que a pousada comece a operar em fevereiro de 2023”, conta a responsável pela operação logística, Ana Daiane.
Para a aldeia, o futuro está mais perto. O porvir será de melhores condições com a possibilidade de aliar geração de renda à conservação da floresta. “É uma forma de agregar valores aos aldeados, além da farinha, extrativismo, pesca. Uma forma de sustentabilidade, que não agride o meio ambiente e a floresta que é fonte de vida”, comemora Melo.
“Nós gostamos muito de receber as pessoas que vêm conhecer a aldeia. E é muito bom poder dar esperança para os jovens que moram aqui” – Glenda Kumaruara.