Câmara Municipal de Santarém realizou entrega de títulos a personalidades nesta quarta-feira (15/12). Solenidade marcou encerramento das atividades legislativas do ano;
Vinte e uma pessoas foram agraciadas com o título de cidadão de Santarém e outras 21 com títulos de honra ao mérito. A sessão especial homenageou personalidades que contribuem para o desenvolvimento do município, dentre elas o médico e fundador do Projeto Saúde e Alegria, Eugênio Scannavino, como reconhecimento pelos serviços prestados em favor da coletividade, indicado pela vereadora Biga Kalahare.
Eugenio Scannavino Netto é médico sanitarista e, desde 1983, atua em Santarém, no Pará, em comunidades extrativistas na Amazônia, com a ONG Saúde e Alegria, da qual é fundador e coordenador. Também é consultor internacional em Educação Ambiental e Comunitária. Eugenio vem de São Paulo, e decidiu se aventurar na Amazônia para ajudar a população local com programas de saúde, educação, cultura, infância e juventude, inclusão digital, economia da floresta, meio ambiente e pesquisa participativa. Essas ações transformaram a vida de milhares de pessoas, e seu exemplo de empreendedor social é reconhecido em todo o mundo.
Para Scannavino, o reconhecimento confirma o sentimento de pertencimento ao município que o acolheu na década de 80, quando decidiu se dedicar ao cuidado da saúde dos povos ribeirinhos no município. “Adorei essa homenagem porque eu me sinto santareno, já há muitos anos. Me sinto muito honrado com este título, depois de 35 anos vivendo nesta linda cidade e seu lindo povo, onde escolhi dedicar minha vida. Só tenho a agradecer por tudo que pude aprender e pelo carinho e amizade que recebi aqui e de construirmos juntos nossos sonhos que me deram sentido de viver,que foi imensamente mais do que pude oferecer”.
Paulo Lima, um dos coordenadores do PSA, representou Scannavino na sessão e recebeu o título das mãos da vereadora Biga Kalahare que indicou o médico à homenagem, realizando a proposição à casa legislativa para a indicação. Para Lima, o título é também um reconhecimento à história do PSA que se mescla à do fundador. A entidade trabalha atualmente com 150 comunidades da floresta, atingindo mais de 30 mil pessoas com projetos de saúde e saneamento básico, ordenamento territorial, fundiário e ambiental, organização social, cidadania e direitos humanos, produção agroextrativista e geração de renda, energias renováveis, educação, cultura, comunicação e inclusão digital. “Representamos o Dr Eugênio nesta importante homenagem e ressaltamos nossa gratidão à sociedade que reconhece a relevância das ações realizadas por ele ao longo de todos esses anos em Santarém” – disse.
Quem é Eugênio Scannavino?
Eugenio Scannavino Neto é filho de imigrantes italianos no Brasil. Formou-se em medicina escola no Rio de Janeiro. Ao terminar residência médica no Rio de Janeiro percebeu a necessidade de saúde em áreas distantes dos grandes centros urbanos. Em 1984, foi contratado pelo município de Santarém como médico rural para chegar a áreas remotas, e foi designado para as comunidades da Amazônia.
Eugenio Scannavino criou a Saúde e Alegria para alcançar comunidades isoladas que vivem ao longo do rio Amazonas. Usando a saúde como um ponto de entrada, o PSA começou ajudando 16 comunidades a melhorar suas vidas por meio da eletrificação solar e ambiental, educação e acesso a tecnologias. O PSA também incentiva atividades de geração de renda (incluindo agricultura e artesanato), ação juvenil e uma série de outros projetos para melhorar a qualidade de vida em um dos lugares mais bonitos e ecologicamente valiosos do mundo.
Scannavino também idealizou o circo mocorongo que leva com bom humor, conteúdos educativos em saúde para as comunidades. É também o autor do personagem Cidão do Bem (Se dando bem) – um político que aparece nos eventos de inauguração de água para se promover e conquistar votos do povo. Um personagem cômico – em crítica aos políticos interesseiros e que abandonam o povo durante quatro anos e só voltam em período eleitoral.
Falas de Eugênio
“Eu não fiz medicina só pra querer ser médico. Eu fiz medicina porque é a coisa mais complicada que tem pra entender biologia, o mundo. Quando eu cheguei na Amazônia no primeiro ano de faculdade, foi a primeira vez que eu vim. Eu falei opa, é aqui”.
“Eu virei médico de floresta, médico de expedição. A gente tem uma mala de emergência aguda. Aconteceu qualquer coisa, não precisa pensar, você põe a mochila nas costas e sai”.
“A coisa que eu mais amo na vida é trabalhar com as comunidades, na casa dos pacientes. A gente conversa, dá tempo de perguntar, de ver que ele tem um violão lá, que ele estava fazendo farra e foi aí que o cachorro mordeu ele. A gente também fica de olho no paciente, não é só na doença não”.
“A gente resolveu a questão do saneamento, de educação, mobilização. Mas não tinha ainda solucionado o atendimento. Então a gente sempre sonhou em ter um barco hospital que pudesse fazer o atendimento regular e de qualidade para as comunidades”
“A gente montou o barco Abaré. Abaré foi o nome que as comunidades escolheram que em tupi significa ‘o amigo cuidador’. Barco lindo com todos os recursos, tem odontologia, enfermagem, informatizado, semi-intensiva, isto associado ao saneamento básico, a gente conseguiu indicadores muito bons. 98%de cobertura de vacina, 100% acompanhamento pré-natal, acompanhamento de diabéticos, hipertensos”.
“É muito arrogante. O médico se acha o máximo. A gente acha que o nosso conhecimento é o máximo. A gente olha pra uma pessoa com uma doença e dá um remédio seco, e manda a pessoa fazer um exame qualquer pra despachar ela. Isso não é medicina né”.
“Eu não queria ser mais uma peça num sistema de doença. Eu queria ver se eu conseguia fazer a diferença pra construir a saúde”.
“Eu não me sinto herói coisíssima nenhuma. Não gosto que me chamem de herói. Não sou nada disso. Eu não fiz nada a mais que minha obrigação. Não acho que a gente deva viver só pra gente. Num país que tem todas essas dificuldades, você passar por uma favela, por uma pobreza, ver uma população dessa, bonita e isolada, você passar e não fazer nada”.
“A gente não quer substituir o governo. A gente quer desenvolver tecnologias que possam se tornar política pública e ganhar larga escala”.
“Nessa hora todo mundo tem que se juntar e fazer o que for possível”.