O primeiro Barco Hospital credenciado pelo SUS para levar saúde às populações ribeirinhas de áreas remotas da Amazônia recebeu a visita do presidente Lula nesta segunda-feira (07). Criado pela ONG Projeto Saúde e Alegria (PSA) em parceria com as Prefeituras de Santarém e Belterra, Universidade Federal do Oeste do Pará e Organizações locais, virou modelo de saúde pública nas regiões da Amazônia e do Pantanal
O símbolo do modelo de saúde pública fluvial da família ribeirinha recebeu o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva e de autoridades federais, como o Ministro da Educação Camilo Santana, Ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, e do governador Helder Barbalho, o presidente visitou a unidade que deu significado ao atendimento médico em áreas isoladas da floresta.
O momento foi marcado pela emoção dos relatos de quem já foi atendido pelas UBSF. Durante o encontro, pacientes de áreas atendidas pela embarcação relataram como a unidade representa a importância da humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma dessas pessoas, foi Maria Ferreira, 40, indígena da etnia Kumaruara e moradora da aldeia Solimões, região da Resex Tapajós-Arapiuns em Santarém. Dividindo o palco com as autoridades e acompanhada dos familiares e lideranças indígenas da aldeia, representou muitas famílias que, como ela, foram beneficiadas pelas ações do hospital móvel fluvial. Em uma jornada do Abaré, ela fez cirurgia na vesícula.
De dentro do Abaré, Lula conversou por videoconferência com diretores do hospital Getúlio Vargas de Manaus, pacientes de Parintins e Iranduba atendidos por telemedicina, serviço que deve ser melhorado e ampliado com a internet da infovia 01 que chegará a escolas, hospitais e órgãos públicos, possibilitando a ampliação de polos de telemedicina em comunidades e aldeias. “Temos o desejo de garantir que a pessoa que mora no lugar mais distante do Brasil possa receber inclusive através da internet uma assistência médica de primeiríssima qualidade. Que um médico possa ajudar o outro em outra localidade, outra cidade, numa aldeia, em qualquer lugar que as pessoas estiverem, a gente tem que dar um atendimento de qualidade”, contou Lula.
A agenda presidencial, destacou a iniciativa do “amigo cuidador” (Abaré em Tupi) que passou a atender cerca de 15 mil ribeirinhos de 72 comunidades das áreas rurais dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro, através de rodadas de visitas com frequência média de retorno a cada 40 dias, em parceria com as prefeituras municipais. “Uma soma de esforços para fazer esse barco que está atendendo cerca de 15 mil ribeirinhos nas duas margens do Tapajós, em três municípios, com resultados bastante importantes com a resolutividade de 93%”, avaliou o coordenador da ONG, Caetano Scannavino, que comemorou a visita do presidente do palco.
Um momento marcante para o médico e fundador do PSA e do Abaré, Eugênio Scannavino: “Um modelo que a gente criou em 2006 e a partir de lá, hoje, existem mais de cem embarcações por meio do SUS. Conectando isso com telemedicina, pesquisa, monitoramento territorial. É um modelo que tem que ser replicado, levando saúde e alegria para quem precisa”.
Em 2010, inspirado no Abaré, o Ministério da Saúde lançou a estratégia de Saúde da Família Fluvial, política pública nacional para apoiar os municípios ribeirinhos com barcos de atendimento para as regiões da Amazônia e do Pantanal, sua área de abrangência.
Segundo o MS, atualmente são mais de 100 UBSF’s (Unidades Básicas de Saúde Fluvial) operando, em construção ou entrando na água. Com os avanços da experiência na forma de política pública, o Programa de Saúde do PSA se voltou para o aprofundamento, disseminação e expansão do modelo. Em 2011, o PSA adquiriu o Abaré II, uma segunda embarcação repassada na forma de comodato à Prefeitura de Santarém para atender à região do Arapiuns.
O Abaré I se tornou patrimônio público em 2017, em um arranjo pensado para incrementar a geração de conhecimentos e disseminação de boas práticas, sendo oficializado o repasse definitivo da embarcação pela Terre Des Hommes (parceira e apoiadora do PSA no projeto) para a UFOPA, durante a gestão da então Reitora Raimunda Monteiro. Hoje, o barco é mantido através de um acordo de cooperação entre a Universidade, responsável pela gestão naval, e a Prefeitura de Santarém, responsável pela gestão das ações assistenciais através da SEMSA (Secretaria Municipal de Saúde), como proponente da política de Saúde da Família fluvial junto ao Ministério. A política prevê repasses federais de R$ 1,2 milhão anuais por UBSF para apoiar o custeio das operações.
“Com o envolvimento da universidade, além dos atendimentos, o Abaré I passou a ter condições para diversificar o seu papel social, também como um barco-escola, voltado para o ensino, pesquisa, extensão, receptivos de estudantes, voluntários e residentes, formação de novos profissionais para atuar na região e avançar na interiorização da medicina, um laboratório de boas práticas para disseminar para as demais embarcações”, complementa o Dr. Fábio Tozzi, coordenador-médico do PSA que esteve à frente das operações do barco.