Laboratório instalado para atender povos indígenas mundurukus no Alto Tapajós para promover atendimento laboratorial e farmacêutico para que os indígenas não precisem se deslocar às cidades, se expondo ao risco de contaminação da covid-19;
Indígenas Mundurukus da região do Alto Tapajós serão beneficiados através do Polo da Unidade Básica de Saúde Indígena Karapanatuba (Caroçal do Rio das tropas, Katô, Sai Cinza). O lab vai atender gestantes, idosos, hipertensos, diabéticos, pacientes com doenças endêmicas e em situação de urgências e emergências com através dos métodos laboratoriais adequados à realidade local. Ele foi instalado estrategicamente em ponto distante para dar suporte aos pacientes indígenas de áreas mais isoladas, visando contemplar emergencialmente o atendimento à pandemia junto aos povos Munduruku, assim como alavancar de forma mais permanente a qualidade da atenção primária a estas populações, realizada pelas equipes multidisciplinares do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI).
A iniciativa é uma linha de ação do Projeto Saúde e Alegria para promover qualidade na atenção prestada para os povos indígenas, explicou o médico do PSA, Fábio Tozzi: “As equipes de saúde indígena que fazem atenção de saúde para as aldeias mundurukus, não contavam com suporte de laboratório próximo dessas aldeias. Com essa iniciativa, terão métodos laboratoriais para acompanhar adequadamente os pacientes, não somente no combate à Covid-19 como também para qualificar a assistência básica”.
Nesta semana, a equipe de energias renováveis instalou o sistema fotovoltaico para o lab de análises clínicas na Aldeia de Karapanatuba. Os equipamentos do laboratório também já foram instalados e testados, comentou Jussara Batista, do programa de Energias Renováveis do PSA.
O projeto do laboratório remoto que pretende dirimir a ausência de acesso aos procedimentos de coleta devido às longas distâncias amazônicas, recebe financiamento do Fundo Casa, União Amazônia Viva e Fondazione Eremo Madonna Del Faggio. O apoio permitirá ampliar os serviços de atenção primária indígena e aumentar as condições locais para a resolutividade dos atendimentos a partir da viabilização de exames nas próprias aldeias, sejam de sangue, urina, fezes, entre outros, destacou o coordenador do PSA, Caetano Scannavino.
Para a liderança, Alessandra Korap Munduruku, a unidade cumpre um importante papel para evitar que indígenas saiam de suas aldeias: “Quando os indígenas começam a passar mal, ficam sem ar. Com esse laboratório não precisa o indígena sair pra cidade, facilita ele ficar se curando dentro da aldeia sem precisar ficar saindo. O equipamento chegando a gente fica mais feliz ainda porque nosso parente não precisa ser deslocado e se curar dentro da aldeia”.
Apoio aos Mundurukus
Desde maio de 2020, a campanha #ComSaudeeAlegriaSemCorona tem apoiado os indígenas com kits de pesca, higiene e cestas de alimentação visando reduzir a necessidade de deslocamento para cidade e riscos de novas contaminações. Diversas ações foram realizadas com o apoio do Instituto Arapyaú, Fundo Canadá e Fundo Casa para ampliar o suporte às populações desse território.
“Essa campanha está baseada num amplo quadro de alianças. A gente vem dando suporte a Secretaria Especial de Saúde Indígena, Dsei Rio Tapajós, as organizações de base como a Associação Pariri dos Povos Mundurukus. Isso é importante porque a gente acaba fazendo todo um trabalho de ação conjunta com eles fazendo uma seleção das situações de maior vulnerabilidade, para priorizar áreas, aldeias e famílias, sobretudo mulheres distantes, mães solteiras para receber esses benefícios” – acrescentou Scannavino.
O Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, responsável por quase treze mil e quinhentos indígenas. Segundo a enfermeira especialista em saúde indígena e saúde coletiva, Coordenadora DSEI, Cleidiane Carvalho a preocupação em garantir a prevenção nesses territórios continua e as parcerias são fundamentais: “E o Saúde e Alegria tem sido grande parceiro, a gente tem trabalhado em conjunto. O Dsei Rio Tapajós tem 13.496 indígenas localizados em cinco municípios diferentes.” – esclarece.
Água e saneamento para aldeias mundurukus
Em meio aos conflitos que afligem os Povos Munduruku e às águas contaminadas pelos garimpos, as aldeias Sawré Jauby, Datie Watpu, Boa fé, Sawré Muybu, Sawré Aboy, Dajé Kapap, Karo Muybu, Poxo Muybu e o PAE Montanha-Mangabal foram beneficiadas em 2021 com tecnologias de abastecimento de água e saneamento.
As entregas às nove aldeias Munduruku do Médio Tapajós foram realizadas entre os dias 25 e 26 de junho. Foram cento e doze sistemas foram construídos em caráter emergencial e mobilizaram uma complexa logística com caminhões e balsas no transporte de materiais para construção de banheiros com fossas sanitárias para cada família, sistemas de bombeamento de água, de captação das chuvas, de distribuição através de redes hidráulicas até as casas, entre outras tecnologias sociais, como parte das metas do Programa Cisternas implementado pelo PSA na região.
Contou com as parcerias da ASPROC (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), co-executora das obras, envolvendo também a FUNAI, o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) do Rio Tapajós, e a Associação Pariri dos Povos Munduruku.
O processo de construção durou cerca de cinco meses, priorizando a mão de obra local através da contratação dos moradores das próprias aldeias, principalmente os jovens indígenas. Eles receberam capacitação técnica para executar os serviços e para manutenção dos sistemas.
“Melhorou muito pra gente, agora que não precisa mais carregar água de longe. Minha esposa, que já tem idade, não garantia mais lavar roupa na beira do rio. Quando ela vinha de lá chegava com dor no peito, nas costas” – Cacique Juarez, da Aldeia Sawre Muybu.
Energias renováveis
Além dos sistemas de abastecimento de água e construção de banheiros, o PSA implementou outras tecnologias para melhorar a vida das populações mundurukus. 51 famílias indígenas das aldeias Munduruku do médio Tapajós/Itaituba-PA – Sawré Jaybu, Dace Watpu e Sawré Muybu Munduruku foram beneficiadas com sistemas fotovoltaicos para bombeamento de água implantados pelo Projeto Saúde e Alegria com apoio da Fundação Mott.
“A partir das instalações fotovoltaicas as aldeias passam a utilizar uma fonte de energia renovável e ter mais autonomia no abastecimento, sem depender exclusivamente do diesel, o grupo gerador, que tem um alto custo e logística de transporte complexo. Além disso, os moradores receberam capacitação para operação e gestão dos sistemas e controle na qualidade da água, que visa instruí-los quanto aos aspectos técnicos operacionais, ambientais e sociais que envolvem um sistema de abastecimento de água” – disse Batista.