Com aproveitamento de legumes e verduras, moradores de comunidades da floresta evitam o desperdício, garantem bom acondicionamento dos alimentos e usam a criatividade para melhorar a nutrição
Um panelão cheio sobre a lenha atrai os olhares atentos de crianças, jovens, adultos e idosos na Floresta Nacional do Tapajós. A comunidade é Prainha I e moradores e moradoras participam de um encontro do Projeto Saúde e Alegria, durante visita de instituições parceiras e apoiadores (as) da iniciativa. A oficina de gastronomia social tem como metodologia a construção de conhecimento a partir da vivência nos territórios e identificação de alimentos regionais com maior fartura nas comunidades e aldeias.
O prato principal é o famoso caldo verde – um marco das ações de saúde e prevenção da ONG que há mais de trinta anos promove diferentes frentes de trabalho, visando o desenvolvimento integrado. “Trabalhamos com 150 comunidades envolvendo trinta mil pessoas, tentando construir com eles soluções na área de saúde, comunicação, geração de renda, meio ambiente, ordenamento fundiário, apoio às mulheres, jovens, professores, escolas e alimentação saudável em um grande circo”, lembra o coordenador geral do PSA, Caetano Scannavino.
O caldo verde é simbólico, cheio de significado e de importância para quem iniciou os trabalhos na Amazônia, visando a promoção da saúde. “Hoje amanhecemos em Prainha encontrando o Abaré no atendimento e nosso glorioso Saúde e Alegria com uma linda oficina de Gastronomia social, Caldo verde e o maravilhoso GranCirco Mocorongo. Equipe afiadíssima, tudo sai perfeito e circo maravilhoso, redondo e dinâmico”, destaca o fundador do PSA, Eugênio Scannavino.
Nutricionistas, cozinheiras, cozinheiros e participantes interagem e recriam receitas ricas em nutrientes, a partir de itens disponíveis nas casas das comunidades. Ana Torrellas Quintero, chefe da cozinha, foi a responsável pela atividade de gastronomia social na expedição realizada na última semana de abril. Um momento especial para a experiente ministrante: “A ideia era resgatar uma tradição do Saúde e Alegria. Foi muito lindo fazer isso. Cada pessoa trouxe da sua casa algum ingrediente e todos juntos fizemos o caldo verde de hoje”, explica.
Além do prato principal, moradores e moradoras aprenderam a fazer soro caseiro para evitar desidratação e sucos de babosa, cenoura, couve, laranja, beterraba e limão. Um item importante para fortalecer o sistema imunológico com os elementos cultivados nos quintais produtivos. “Pra mim foi muito satisfatório participar. Eu gostei muito de aprender a desenvolver essa sopa maravilhosa que vai trazer muita energia pra nós. Eu fico muito feliz em saber que a equipe do PSA voltou a trabalhar aqui com a gente”, avaliou Marcos Andrey – morador da comunidade.
Para enriquecer receitas tradicionais da comunidade, o PSA também incentiva a inclusão de legumes, frutas e verduras. A auxiliar de cozinha Adria, ressalta que o peixe com farofa ganha valores nutricionais importantes com uso de banana, por exemplo. “A gente elaborou prato à base de peixe com farofa com farinha de mandioca e banana da terra. Foi muito importante porque eu pude observar o quanto as pessoas ficaram interessadas no lado gastronômico, ver a participação de jovens, mulheres e homens”.
Os grupos puderam provar o caldo verde, os sucos e soro, ao mesmo tempo em que participavam de atividades artísticas de circo, teatro, música, paródia e brincadeira. Construindo de forma multilateral, soluções a essas necessidades. Os palhaços Curumin e dona Câmbia lideram a festa, conduzindo o espetáculo que destacam com ludicidade temas de saúde. “Conseguimos fazer a apresentação do circo. As crianças fizeram o banho do tiozão [incentivo a lavar bem as mãos], as mulheres fizeram a sua apresentação e o circo aconteceu com a mensagem. Foi um sucesso”, considera Rosival Dias, arteeducador.
Para quem visita a atividade, a sensação é de aprendizagem com alegria. “Pra mim foi gratificante observar o quanto as mulheres participaram das atividades com muita alegria e conexão. A participação das crianças no circo foi muito feliz. É uma comunidade que muitas vezes fica isolada, mas o Saúde e Alegria leva essas atividades” diz Rayane Barros, historiadora.
Colaboraram na ação: Elis Lucien, Carlos Dombroski, Silvanei Rodrigues, Livaldo Sarmento, Luana Arantes, Mônica Carvalho, Marcela Brasil.