Energia solar garante bombeamento de água para aldeias mundurukus 

Compartilhe essa notícia com seus amigos!

Equipe de Energias Renováveis do Projeto Saúde e Alegria concluiu primeira etapa de implementação em quatro aldeias mundurukus do alto Tapajós em Jacareacanga 

A implementação de sistemas de energia fotovoltaica marca uma nova fase para mil quinhentos indígenas do alto Tapajós. Com as instalações concluídas para as aldeias Santa Maria, Restinga, Missão São Francisco e Waró Apompo, 363 famílias estão sendo beneficiadas, deixando de usar motores movidos à óleo diesel.

Está funcionando bem, porque antes, quando só funcionava no motor a gente passava semanas sem água, mas agora deu certo. Todo dia, de dia e de noite tem água suficiente. Antes acabava o óleo diesel e passava quase duas semanas sem água”, contou Celso Tawe Munduruku da Missão São Francisco.

Graças à articulação dos povos indígenas e o envolvimento das organizações:  SESAI-DSEI Tapajós, Associação Indígena Pariri do Médio Tapajós,  Projeto Saúde e Alegria, MOTT e WWF/Bengo, a primeira etapa feita no período de 01 a 20 de agosto, já tem oportunizado melhoria nas condições de vida das populações que vivem em meio ao caos da falta de acesso à água potável.

Em 2020, o PSA com seus parceiros realizou a perfuração de poços profundos, marcando a mudança na dinâmica de uso de água que era consumido dos rios contaminados por lama dos garimpos, mas condicionado ao uso de geradores movidos a combustíveis. A nova etapa de instalação de painéis solares e inversores já tem resultado na economia e sustentabilidade nas aldeias. “Muito feliz aqui dentro da aldeia e dentro da floresta”, comentou Eliseu Munduruku, liderança indígena da aldeia Santa Maria.

Na próxima etapa de instalações, o Programa implementará os sistemas nas aldeias Teles Pires, Bom Futuro, Caroçal Cururu e Rio das Tropas. Uma missão árdua devido às complexas logísticas amazônicas para fazer chegar os equipamentos de manejo delicado com segurança, transportados em caminhões, balsas e bajaras.

Acabamos de colocar pra funcionar uma bomba trifásica de um cv bombeando e mandando água para aldeia que está a cerca de mil metros de distância. Nossa equipe com apoio da aldeia depois de muito trabalho, coloca em operação pra valer no território munduruku. Missão cumprida”, comemorou o técnico do PSA, Silvanei Rodrigues [veja o vídeo abaixo].

A previsão é de que o sistema de energia poupe muitos litros de combustível por mês. Uma estimativa que anima quem coordena esses trabalhos. Para Jussara Batista, responsável pelo Programa de Energias Renováveis do PSA, promover qualidade de vida é uma meta desafiadora e satisfatória.

Águas de esperança 

As intervenções mais recentes do Programa de Acesso à Água do Projeto Saúde e Alegria iniciaram em agosto de 2022, beneficiando diretamente 181 indígenas que sofriam com a contaminação dos garimpos.

A lama do garimpo despejada nas águas do Tapajós tem impactado a vida de centenas de populações que dependem do rio para sobreviver. A liderança indígena do alto Tapajós, região do município de Jacareacanga, Maria Leusa Munduruku, ressalta que a contaminação tem adoecido principalmente mulheres, idosos e crianças: “O rio virou uma lama despejada dentro do nosso rio. A gente está buscando projetos para ajudar a gente. A gente está muito preocupado e muito triste. Os nossos peixes estão contaminados e já sentimos na pele, sofrendo esses impactos. O nosso rio está doente, a mãe terra está doente e nós somos doentes”.

Preocupado com a situação dos indígenas, o Projeto Saúde e Alegria vem desde 2020 empreendendo esforços para apoiá-los com investimentos para melhoria dos serviços de saúde básica, como o acesso à água limpa. “A água sempre foi entendida como uma prioridade do Saúde e Alegria. É uma contradição ter populações ribeirinhas que vivem às margens da maior bacia hidrográfica do mundo, vivendo estresse hídrico”, comentou o coordenador geral do PSA, Caetano Scannavino.

Uma grande mobilização para implementar sistemas de água e saneamento em seis aldeias do alto Tapajós iniciou em agosto de 2022. Nessa jornada de perfuração de poços profundos, construção e implementação de sistemas solares, foram contempladas as seguintes aldeias com os serviços:

  • Sawré Apompo: Instalação de filtro para remoção de ferro, limpeza e desenvolvimento do poço tubular;
  • Fazenda Tapajós: Perfuração de poço com 154 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5mil litros;
  • Aldeia Ariramba do Kadiriri: bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5 mil litros;
  • Aldeia Waró Baxé Watpu: Perfuração de poço com 55 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5mil litros;
  • Ariramba do Teles Pires: Ariramba do Teles Pires: Limpeza e desenvolvimento do poço tubular.
  • Kabarewun: Perfuração de poço com 54 metros, instalação de bomba submersa, rede de distribuição, sistema de energia solar para bombeamento e elevado de madeira com reservatório de 5 mil litros.

Durante conferência de Água na ONU, promovida pela Fundação Avina sobre empoderamento comunitário para soluções de água, com experiências da América Latina, África e Ásia, Alessandra Munduruku fez um apelo contra a privatização da água e a necessidade de ações para mitigar os impactos do garimpo em  territórios indígenas Munduruku no Pará.

A coisa mais linda é você ver e poder beber água. Maior felicidade é quando o cacique liga pra nós e diz – obrigado por você trazer água. Chega de sofrimento, precisamos de água potável. Não precisamos privatizar a água, queremos ter para todas as comunidades e povos. Por isso, estamos trabalhando com parceiros para que nossas comunidades tenham acesso à água”, defende.

Esta ação faz parte do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF. A realização é feita por um consórcio de parceiros formado por Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Comitê Chico Mendes, Fiocruz, Fiotec, Imaflora, Kanindé, Pacto das Águas, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e WWF-Brasil.

Fotos: Silvanei Rodrigues/PSA.
Compartilhe essa notícia com seus amigos!

Deixe um comentário

Rolar para cima