Preocupados com a vulnerabilidade de populações indígenas da região transfronteiriça do norte do Pará, Roraima e Amapá, entidades estão articulando documento com medidas sanitárias para evitar contaminação de doenças;
Estudos recentes têm indicado que os povos indígenas amazônicos estão em situação de vulnerabilidade durante a pandemia da Covid-19 e apresentaram risco aumentado de morte pela doença. As evidências aumentam a preocupação com o público que está sujeito a outros tipos de contaminações, como gripes e doenças infecciosas. Antes mesmo da pandemia, um grupo composto pela OPAS (Organização Pan Americana de Saúde), OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) com participação de instituições como o Projeto Saúde e Alegria, Instituto Iepé, entidades governamentais e lideranças indígenas e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estão articulando um plano com medidas para proteger os povos indígenas.
O plano de contingência na área de saúde para indígenas pretende definir estratégias para a região transfronteiriça do norte do Pará, Roraima e Amapá, abrangendo a Guiana e o Suriname, onde habitam vários povos, como Tiriós, Wai Wai e Zoé, explica o coordenador do Programa de Saúde Comunitária do PSA, Fábio Tozzi, “nosso objetivo é discutir além da pandemia, a situação de saúde desses povos e elaborar plano de contingência para mitigar os efeitos das doenças do dia a dia, com atenção básica de saúde”.
O médico esclarece que a taxa de mortalidade é muito maior em indígenas do que na população em geral. O estudo publicado pela Publimed, afirma que 3.122 casos de indígenas com SARS no Brasil foram notificados durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19. Destes, 1.994 foram diagnosticados com COVID-19 e 730/1.816 (40,2%) deles morreram. A taxa de mortalidade entre indivíduos com SARS-CoV-2 foi três vezes maior quando comparada ao grupo de indivíduos com outras enfermidades aéreas (OEA). Vários sintomas (mialgia, perda do olfato e dor de garganta) e comorbidades (cardiopatia, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus) foram mais prevalentes no grupo COVID-19 quando comparados aos indígenas com OEA. As informações alertam para a urgência de medidas para o público, ressalta Tozzi “Nos povos da Amazônia, principalmente de Roraima e Amapá, constatamos que foi a maior mortalidade mundial em relação ao número de habitantes, mostrando que nós temos muito o que fazer, pra gente poder oferecer planos e resposta rápida”.
Nesta terça-feira (18), o grupo de trabalho composto pelas instituições se reuniu para definir as etapas de elaboração do plano, explicou o Coordenador do Plano de Contingência para a proteção em saúde dos povos indígenas vulneráveis, Carlos Macedo: “Uma das fases fundamentais é fazer um estudo da situação de saúde territorial. Um dos territórios escolhidos é a fronteira entre Brasil, Guiana e Suriname. Para ter esse levantamento trabalhamos com atores governamentais, sociedade civil e comunidades indígenas. Estamos aqui preparando o território, vamos nos próximos meses falar com as lideranças, e apresentar diretrizes produtos dessa reunião aqui” – explica.
Para realizar o plano, são considerados componentes culturais para que os indígenas o entendam e contemple suas propostas. Para a coordenadora do programa Tumucumaque Iepé, Denise Fajardo, que atua diretamente com comunidades mais isoladas e menos isoladas, os desafios são grandes, no contexto da pandemia e uma das prioridades é buscar entender as particularidades de cada aldeia, para que sejam atendidas conforme seus modos e tradições.
Namofo Leo kaxuyana da aldeia Maharawani, etnia Kaxuyana, participa ativamente do processo de elaboração do plano e ressaltou a importância da prevenção para os povos indígenas durante os períodos críticos da pandemia em 2020/2021: “A gente conseguiu manter o povo nas aldeias. Orientou a não ir pra outra comunidade, não compartilhar as coisas como a gente tem costume. Com isso a gente diminuiu o risco”.
Do encontro serão definidas novas ações com recomendações, parcerias e articulações nacionais e internacionais para publicação e efetivação do Plano de contingência na área de saúde para indígenas.