No período de 6 a 10 de junho, equipes de profissionais do Projeto Saúde e Alegria, Gastromotiva e ONG Banco de alimentos, realizaram oficinas sobre higienização, manipulação, preparo, armazenamento e conservação de alimentos, nas comunidades Vista Alegre, Capixauã, Solimões, Pedra Branca, Anumã e Carão na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns e famílias associadas ao Instituto de Mulheres e Cooperativa de reciclagem do Perema
Talos, cascas, folhas e sementes são normalmente descartados na culinária tradicional. Apesar de serem itens comumente dispensados nos preparos, são os mais ricos em nutrientes e podem contribuir para a saúde e economia nas refeições. Uma surpresa para Francisco Gomes, fundador da aldeia Vista Alegre do Capixauã durante uma das oficinas de Gastronomia Social na floresta: “aprendemos a reaproveitar os alimentos que nós jogávamos. Aprendemos que tudo tem que ser aproveitado. Essa parte nós não sabíamos e hoje vamos aproveitar” – conta.
O ensinamento veio da nutricionista da ONG Banco de Alimentos, Luana Rocha, que tem junto da equipe da Gastromotiva e PSA, incentivado o aproveitamento total de frutas, legumes e verduras: “A gente acredita que não é só doar o alimento e matar a fome, mas ensinar a população a usar esse alimento da melhor forma possível. A gente tem um pilar de educação nutricional que a gente ensina receita e preparações com partes não convencionais de alimentos, talos, cascas, folhas e sementes dos alimentos que é onde está a maior concentração de maior valor nutricional dos alimentos que geralmente a gente descarta e vai para o lixo” – ressalta.
Além do aproveitamento, os participantes aprendem técnicas para implementar boas práticas na manipulação dos alimentos como higienização, preparo, armazenamento e conservação, sempre considerando o que se tem em casa: “Como fazer cardápios especiais, pensados com alimentos tradicionais da nossa região. É um projeto piloto e a gente acredita que isso impacta positivamente essas famílias. Tudo pensado com nutricionistas” – esclareceu a assistente social do PSA, Ananda Pacheco.
As oficinas iniciaram no dia 6 de junho com mulheres do Instituto de Mulheres e Cooperativa de reciclagem do Perema na creche Seara na área urbana de Santarém e seguiram até 10 de junho, atendendo comunitários de Vista Alegre, Capixauã, Solimões, Pedra Branca, Anumã e Carão na Resex. “Foi um momento de muita troca de saberes sobre alimentação, resistência e território para fortalecer a segurança alimentar, falando de saúde e alegria, geração de renda, permanência e fortalecimento” – considerou Renata Peixe-Boi da ONG Gastromotiva.
Gastronomia social para a saúde e para a renda de populações tradicionais
“A comida alimenta o corpo, o corpo alimenta a alma e a alma nos conecta”. Com este lema, as oficinas foram implementadas em Santarém e possibilitaram aos participantes criar receitas nutritivas com alimentos básicos. A iniciativa do PSA, Gastromotiva e ONG Banco de Alimentos, oportunizou meios para alimentação saudável e novas formas de geração de renda para comunidades tradicionais que também atuam com receptivos turísticos. “A gente já recebe o turismo há vinte anos e a cada dia a gente vem inovando. E hoje nós aprendemos principalmente a aproveitar os alimentos que a gente descartava e isso para o turismo de base comunitária é muito importante” – acrescentou Kenedy Colares, diretor da escola da aldeia.
“As três instituições fazem parte de uma rede internacional chamada Catálist que faz cooperação entre as soluções que possuem, tecnologias sociais para acelerar os objetivos do milênio trabalhando juntos. A iniciativa é importante porque são três ONGs que estão trabalhando juntas, integrando e interagindo com as mesmas metodologias” – pontuou o médico e fundador do PSA, Eugenio Scannavino.
A programação se integrou à uma série de eventos realizados pelo PSA na semana do meio ambiente, marcando o modelo de saúde pública implementado pelo PSA e se junta às ações alusivas ao aniversário de Santarém.
Foi também um marco para a Gastromotiva, organização que utiliza o alimento como ferramenta de transformação social por meio da educação, inclusão produtiva e combate à fome e desperdício de alimentos. A Gastromotiva trabalha para gerar impacto social positivo no Brasil e México, e em cooperação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“Essa parceria vai ao encontro do apoio da Gastromotiva à iniciativas com atuação permanente no combate à fome e que, conjuntamente, contribuem para o fortalecimento do desenvolvimento local de comunidades tradicionais e urbanas no território amazônico. Além das oficinas de aproveitamento integral e valorização da cultura alimentar, a Gastromotiva também entregará um livro de receitas com preparos zero desperdício com itens que compõem a cesta básica que os participantes receberão”, conta Winnee Louise, especialista em Impacto Social na Gastromotiva.
O caderno de receitas “Comida Que Transforma – da cesta básica ao prato” foi elaborado por Rodrigo Sardinha, cozinheiro residente do Refettorio Gastromotiva, e Renata Peixe-Boi, cozinheira social de Manaus formada pela Gastromotiva, e reuniu preparos personalizados que combinam o uso integral dos alimentos e a cultura alimentar amazônica. O projeto faz parte do investimento institucional no fortalecimento de territórios vulnerabilizados para a superação da fome em prol da segurança alimentar.
Lançada em 2020, em resposta aos impactos socioeconômicos da COVID-19, o programa Cozinha Solidária Gastromotiva tem como objetivo atender diretamente à população por meio da implantação e formação de cozinhas comunitárias lideradas por microempreendedores, cozinheiros, lideranças locais, organizações sociais e coletivos. A produção de refeições é destinada para indivíduos e famílias em situação de insegurança alimentar.
A ONG Banco de Alimentos, atua desde 1998 auxiliando pessoas em situação de insegurança alimentar através do combate ao desperdício de alimentos, atuando com 3 pilares fundamentais: evitar o desperdício, aproveitar melhor os recursos disponíveis e compreender o problema.
As três instituições se juntam fornecendo os insumos (serão entregues trezentas cestas básicas para as famílias durante as oficinas), apoio logístico e treinamento para a montagem dos cardápios nutritivos.
Entre as dificuldades geradas pelo cenário socioeconômico do Brasil e a pandemia, a fome tem se manifestado aumentado a vulnerabilidade da população. Esta atividade faz parte dos esforços do PSA para assegurar a segurança alimentar das famílias que mais precisavam. Com a Campanha Com Saúde e Alegria Sem Corona, distribuímos mais de 20 mil cestas de alimentação. Nesta iniciativa estamos indo além, capacitando as comunidades sobre como aproveitar melhor os alimentos que recebem e os que tem disponível na própria comunidade.