No Dia Mundial da Saúde em Santarém, as Unidades Básicas de Saúde Fluvial (UBSF) Abaré II, Abaré I e Ailton Barros realizam atendimentos no rio Arapiuns, Tapajós e Amazonas, respectivamente
O dia é de comemoração e promoção à saúde nas três regiões de Santarém. O Abaré II se juntou nesta quinta-feira (7) ao Abaré I e Ailton Barros em uma ação promovida pela Semsa de Santarém alusiva ao dia mundial da saúde. As três UBSF’s desaportaram do Pier na frente da cidade com destino à São Miguel no rio Arapiuns, Maripá no Tapajós e Piracãoera de Cima na região de várzea do Rio Amazonas, respectivamente e devem atender a mais de 30 mil pessoas. “São atendimentos voltados à atenção básica de saúde com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, aplicação de vacina contra a covid, contra sarampo, H1N1, serviços odontológicos com todos equipamentos montados para atender os ribeirinhos” – explicou a secretária municipal de saúde, Vânia Portela.
O Barco Hospital Abaré II, com conclusão da reforma em março de 2022 com revitalização estrutural, pintura, instalação de novos equipamentos náuticos, de comunicação e segurança, assim como equipamentos hospitalares, inicia a jornada em fase de testes em comemoração ao dia mundial da saúde.
“É uma viagem inaugural, piloto, que coloca esse barco em ação, demonstrando a segurança navegando até São Miguel para uma ação de saúde. Depois disso, esse barco passa pela supervisão da Sespa e então será habilitado como Unidade Fluvial de Saúde para o rio Arapiuns. É uma grande vitória para o Saúde e Alegria, comunidades, Conselho Municipal de Saúde e Semsa. Faz parte de um esforço coletivo” – ressaltou o coordenador de saúde do PSA, o médico Fábio Tozzi.
Para o fundador e coordenador do PSA, Eugênio Scannavino, presenciar a saída das três unidades para atender populações ribeirinhas é um momento para comemorar: “É muito emocionante para nós que estamos na semana mundial da saúde. Uma história que começamos há 17 anos com o Navio Hospital Abaré I que agora vemos se multiplicar, fazendo de Santarém uma referencia deste modelo para toda Amazônia. Hoje a gente também aproveita para homenagear os profissionais da saúde que estão nas três embarcações”.
Segundo o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar, os atendimentos fortalecem a atenção primária em saúde em áreas de difícil acesso e por meio das embarcações, médicos chegam à áreas remotas: “É um momento histórico de muita alegria para o atendimento à população ribeirinha, reforçando a parceria entre a prefeitura de Santarém e o Projeto Saúde e Alegria. Santarém é o berço da Unidade Básica de Saúde Fluvial. Uma política pública que deu certo e virou espelho para a política nacional”.
Abaré II repassado à Semsa
Com a reforma naval e instalação dos equipamentos de saúde, o Barco Hospital Abaré II está sendo credenciado junto ao Ministério da Saúde, para que a Prefeitura receba verbas federais da política de Saúde Fluvial e inicie rodadas regulares de atendimentos. Para isso, iniciaram os trâmites para o repasse do Barco Hospital pelo Projeto Saúde e Alegria ao Município de Santarém, com as minutas do comodato, inventários e termos de cooperação entre as partes.
Uma reunião realizada em março (15/03) entre a Secretaria de Saúde e o Saúde e Alegria, definiu as últimas vistorias a serem feitas, documentos e pareceres necessários para o repasse da embarcação.
A unidade hospitalar fluvial foi adquirida em 2011 pelo Projeto Saúde e Alegria com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Foi repassada na forma de comodato à Prefeitura de Santarém para atender à região do Arapiuns, mas ficou sem navegar nos últimos anos, precisando de reparos.
A maior parte dos serviços está sendo executada com aplicação de recursos do Projeto Saúde e Alegria através de seus doadores, como o BNDES e a Fundação OAK. Somam-se ainda as verbas de emenda parlamentar do deputado Airton Faleiro repassada à Prefeitura de Santarém.
Para moradores de comunidades do Arapiuns, o anúncio de retorno dos atendimentos de saúde é motivo de muita esperança, conta Benezildo Costa de São Pedro: “Esta política pública foi conquistada por todos nós e se adequa a nossa região. Através do Abaré II os atendimentos conseguem ser mais acessíveis porque vêm até a nossa comunidade. Pra gente continuar com esse bem estar com a natureza, Amazônia, precisamos estar bem e saudáveis”.
Modelo Abaré
Com estrutura adaptada à realidade amazônica, a primeira Unidade Básica de Saúde Fluvial foi o navio-hospital Abaré que começou a navegar nas águas do Rio Tapajós em 2006 através do Projeto Saúde e Alegria (PSA), em parceria com as prefeituras locais e com apoio da ONG holandesa Terre Des Hommes (TDH), então sua proprietária. Nesse primeiro contato, foram aproximadamente 15 mil ribeirinhos de 72 comunidades das áreas rurais dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro que passaram a ter acesso regular aos serviços básicos de saúde, com visitas a cada 40 dias, percorrendo longas distâncias e chegando em locais praticamente excluídos da rede pública.
Com 93% de resolutividade – apenas 7 a cada 100 pacientes sendo encaminhados para os centros urbanos- a exitosa experiência tornou-se objeto de estudo do Ministério da Saúde, para então lançar em 2010 a política de Saúde da Família Fluvial para levar, através de barcos de atendimento, serviços regulares de saúde e prevenção para brasileiros que vivem em locais isolados.
A partir dela, o ministério faz repasses federais diretos aos municípios da área de abrangência, que giram em torno de um milhão e cem mil reais anuais por embarcação. São destinados para uso exclusivo das unidades de atendimento no apoio às despesas com combustíveis, medicamentos, tripulação, equipe médica, entre outras necessidades.
“Desde que a iniciativa do Abaré inspirou o governo e virou política pública, os municípios passaram a ter melhores condições para implementar e replicar essa experiência que a gente começou no Tapajós” – explicou o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.
Em agosto de 2017, foi oficializada a doação do Abaré I pela TDH a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Hoje o Abaré é mantido através de um termo de acordo de cooperação mútua, entre a Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) e a Ufopa. A universidade é responsável pela manutenção e guarda da embarcação e a Semsa pelas ações assistenciais de saúde para as comunidades.
Atualmente existem mais de 70 projetos de embarcações aprovados. Algumas estão em construção, outras já operantes. Em janeiro de 2019 foi inaugurada a unidade da cidade de Nhamundá, no estado do Amazonas, que teve a primeira Unidade Básica da Saúde Fluvial (UBSF) do estado totalmente construída com recursos federais inaugurada em 2013. Nomeada ‘Igaraçu’, que na língua tupi significa Canoa Grande, a USBF tem 24 metros de comprimento e conta com consultórios de atendimento médico, enfermagem e odontológico. Seus aposentos internos acomodam farmácia, laboratório, salas de vacinas, curativo, coleta de material e esterilização. A embarcação atende comunidades do Estado que vivem às margens dos rios Madeira, Madeirinha, Autaz-Açu, Canumã, Abacaxis e Sucunduri.
Além do Pará e Amazonas, outras embarcações foram construídas, ou estão em processo de construção /inauguração nos estados Acre, Amapá, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte Maranhão e Pantanal Sul-Mato-Grossense.