Limpa e renovável, energia é uma realidade para todas as casas da comunidade da Resex Tapajós Arapiuns que receberam kits com painéis, baterias, controladores e inversores;
Com as instalações dos sistemas fotovoltaicos em trinta e quatro casas da comunidade, a sensação coletiva é de gratidão por parte dos comunitários que não possuíam acesso ao fornecimento de energia. “Era um sonho muito antigo nosso e hoje graças a Deus chegou até nós. Agora temos energia 24 horas” – contou o morador da aldeia, Adailson Sousa.
O sentimento compartilhado pelos moradores é ainda maior porque entendem a importância de ter acesso a energia limpa, sem poluentes ao meio ambiente. Para a Cacique de Aldeia, Maria da Neves o impacto ambiental e social das instalações é positivo: “É um benefício que vai ser muito útil pra nossa vida porque ele não tem poluição, não vai causar problemas visuais, nem respiratórios. A gente se sente feliz com isso porque foi uma oportunidade que a gente teve, primeiro com abastecimento de água e agora com painel solar”.
Os sistemas domiciliares compreendem a instalação de um painel de 155 watts, uma bateria de 105 amperes, um controlador de 20 amperes e um inversor de 350 watts, explicou a técnica em energia do PSA, Jussara Salgado: “Esse sistema residencial individual tem autonomia para iluminação, com capacidade para atender quatro lâmpadas por casa, cinco horas de TV e tomadas para celulares, aparelhos de som e etc”.
Além das residências, a escola da região recebeu em agosto deste ano geladeira, painel solar e sistema de energia. Neste mês de outubro, o educandário receberá um novo sistema para iluminação e tomadas. “A gente fica muito feliz porque hoje a gente já tem como fazer um suco, fazer chopinho e merenda que a gente já pode produzir da nossa própria aldeia. Pra mim houve uma mudança muito boa” – comentou a servente da escola, Néia Branches.
Durante a entrega oficial realizada nesta quarta (16), os moradores de Arapiranga na região da Resex Tapajós Arapiuns, assinaram o termo de entrega e receberam um cartaz com informações sobre os sistemas, como devem ser usados e o que não pode ser conectado. O projeto foi realizado com apoio da Mott Foundation.
Diferentemente da atual matriz energética do país, pautada nos grandes projetos como as hidroelétricas, que além de gerarem grande impacto social e ambiental, não beneficiam diretamente as populações locais, esta experiência aponta soluções para fontes renováveis que podem chegar até às comunidades mais isoladas.
Na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns – RESEX, 74 comunidades ainda não dispõem de redes de energia elétrica permanente. Embora o Programa Luz para Todos do Governo Federal tenha ampliado bastante o acesso para quase 99% do brasileiros, essas comunidades fazem parte dos cerca de 2 milhões que ainda não são atendidos, entre os quais a maioria está exatamente na Amazônia.
Nestas comunidades a energia é produzida a partir de geradores movidos à diesel, utilizados durante algumas horas por dia. Para o perfil de comunidades de baixa renda como estas, além de ser uma fonte poluente, o serviço se torna caro, pois depende da compra do combustível na cidade, encarecendo por causa dos custos de transporte.
A falta de uma fonte de energia segura é um dos principais entraves para o desenvolvimento dessas comunidades, que além de não contarem este direito básico para uso doméstico, não podem desenvolver atividades produtivas como o armazenamento de frutas, entre outras atividades que poderiam melhorar sua renda.
Para superar esse desafio é que está sendo desenvolvido o Projeto Energias Renováveis para o Desenvolvimento Comunitário do Tapajós. A região é propícia para o uso desta tecnologia devido à alta incidência de raios solares na maior parte do ano.
Por isso, desde o ano 1998 o Projeto Saúde e Alegria já vem fazendo experiências com energia solar para uso em espaços comunitários, como telecentros, escolas, postos de saúde, barracões comunitários.
Já a partir de 2006, iniciou novas experiências. No CEFA – Centro Experimental Floresta Ativa, por exemplo, onde são feitas capacitações em tecnologias socioambientais, as instalações já funcionam com cerca de 80% de independência de gerador à diesel, com a implantação de um sistema de energia solar utilizado para iluminação, bombeamento de água e irrigação.
Além da implantação dos sistemas, o projeto vem capacitando os “eletricistas do sol”, pessoas das próprias comunidades que estão aprendendo a instalar e fazer a manutenção dos sistemas, já prevendo a ampliação da tecnologia para mais comunidades.