Realizada pela equipe de Educação, Cultura e Comunicação do Projeto Crianças com Saúde e Alegria, a formação busca apoiar processos pedagógicos nas escolas das comunidades e aldeias, adaptados às realidades amazônicas
Trabalhar questões identitárias e tornar atividades pedagógicas atrativas à criança são desafios dos professores na educação básica. Nesse contexto, o método da contação de histórias está entre as práticas exitosas para captar a atenção do público infantil. Pensando nisso, o Projeto Crianças Saúde e Alegria realizou no último dia 25 de fevereiro, uma formação em contação e leitura de história de expressão amazônica com escolas que atuam com o público de 4 a 6 anos.
“Foi uma das necessidades evidenciadas nas entrelinhas das falas dos professores, gestores e instrutores de notório saber e língua nheengatu, durante a fase de escuta das comunidades e aldeias polos desse projeto, quando colocaram que, no passado, as crianças eram mais habituadas a ouvir as histórias dos mais velhos”, explicou a pedagoga do PSA, Adma Guimarães.
O facilitador da formação, Francisco Vera Paz, abordou o tema da leitura e contação de histórias voltado para atuação dos professores das escolas das comunidades Carão, Anumã, Pedra Branca e aldeias Vista Alegre e Solimões. Para o palestrante, o conteúdo possibilitou a multiplicação das propostas de narração e história no contexto do repertório de histórias populares amazônicas.
“Foi uma oficina fundamentada em metodologias e abordagens narrativas. Momento dos participantes conheceram essa abordagem da narrativa projetada e uma leitura coletiva a partir dela. A proposta é narrar histórias com objetos da cultura popular que se encontram presentes no cotidiano das comunidades” explicou Vera Paz.
Durante a formação, foi projetado o uso de caixas de memórias com histórias de vida dos estudantes, a partir da presença de objetos de família e fotografias, que possam auxiliar no estabelecimento de memórias afetivas e nortear a contação de histórias reais nos territórios.
“A primeira infância é um período vital para construção da identidade e autoestima da criança, e conforme está estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, as crianças de territórios tradicionais têm direito de reconhecer os feitos do seu povo ou comunidade, por meio de abordagens pedagógicas“, ressalta Adma Guimarães.
Professores e professoras da Educação Infantil e 6º ano do Ensino Fundamental das escolas polos do projeto, gestores, pedagogos e instrutores da língua nheengatu e notório saber, destacaram a importância da formação. Dailon Alves, professor na aldeia Solimões, contou que o momento foi de muita experiência e despertar para uma nova forma de ensinar. “Primeira oficina sobre construção e leitura das histórias amazônicas. Nunca tinha tido uma oficina dessa pra nós professores. A gente veio pra cá bastante entusiasmado e saímos daqui com novas ideias e formas de contar histórias. O professor [Francisco Vera Paz] foi muito feliz nas colocações dele e isso mostrou pra gente novos caminhos que vamos adotar nas nossas escolas”.
A professora da Escola Madalena Rodrigues da comunidade Carão, Lucenita Pereira, ressaltou que saiu da formação com a vontade de novos desdobramentos a partir da atuação do PSA na Resex. Diz que é um trabalho que contribui para a formação da identidade cultural e que através dele, as pessoas conseguem desenvolver o sentimento de pertencimento e relação com o território. “A oficina trouxe uma intenção de como ensinar os alunos em sala de aula. Me surpreendi com a forma que o professor [Francisco Vera Paz] trouxe essa informação. Eu gostei muito e foi muito proveitoso. Com isso, nossas crianças vão querer aprender mais a gostar de leitura. Assim como a gente gosta também“, conclui.
A ação do Projeto Crianças Com Saúde e Alegria estimula o uso do lúdico nas propostas de educação, objetivando o compartilhamento das histórias das culturas retratadas de forma positiva. A expectativa é que as professoras/professores utilizem as literaturas doadas (‘Marias e Encantarias’ de autoria de Egon Pacheco) e as metodologias apresentadas como o marco do surgimento de novas práticas, embasadas na formação, atrelada à criatividade e o repertório dos docentes.