A Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER), realizou assembleia geral nesta segunda-feira (06), onde apresentou relatório de gestão, aprovou o Plano de Trabalho anual e falou sobre os novos desafios de implementação do Ecocentro, Casa do Mel e Unidade de Beneficiamento de Óleos
Em vias de conclusão das obras do Ecocentro/Casa do Mel/Unidade de beneficiamento de óleos, extrativistas estão entusiasmados com a implantação de um espaço apropriado para o processamento e a comercialização de itens das cadeias da sociobiodiversidade, dentre eles, mel de abelha, frutas, sementes, óleos e essências vegetais. Enquanto seguem os serviços estruturais para implantação dos dois espaços sediados na avenida Cuiabá, em espaços anexos à Sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Santarém, os produtores se organizam para a comercialização após a inauguração estimada para o mês de abril.
A assembleia histórica da ACOSPER (Cooperativa Agroextrativista do Oeste do Pará) contou com a presença de produtores do Tapajós, Arapiuns, Amazonas, Várzea e Planalto. O encontro discutiu temas relacionados à prestação de contas da entidade e atualizações sobre a montagem de uma plataforma regional de oportunidades para agricultura familiar, restauração florestal e negócios sustentáveis.
“A Acosper está no processo de reconstrução e revitalização e a participação dos cooperados tem correspondido a nossa expectativa. A nossa assembleia foi muito positiva, porque discutimos a prestação de contas financeira, o nosso relatório de gestão em 2022. A expectativa é que o nosso planejamento em 2023 seja muito mais valioso porque o nosso plano inclui a execução e funcionamento do entreposto do mel e agroindústria para extração de óleos”, ressaltou o presidente da Acosper, Manoel Edvaldo.
Presentes na assembleia, representantes de entidades de base como o STTR-Stm, Feagle e Tapajoara, defenderam a união das instituições para a defesa dos direitos de populações tradicionais e se manifestaram em apoio às lideranças: Auricélia Arapyun (CITA), Edilson Silveira (STTR), Ivete Bastos (STTR) e Maria José (Tapajoara) que no último dia 03 de março, sofreram ameaças por defenderem o direito à Consulta Prévia, Livre e Informada no território da Resex Tapajós Arapiuns.
“Nós somos a resistência e é importante ter a Acosper porque tem sido uma organização de resistência nos territórios que representa os trabalhadores da base, isso pra nós é uma forma de enfrentamento do agronegócio. Demonstrar que existe dentro dos territórios formação suficiente é muito importante” – Presidenta da Feagle, Rosenilce dos Santos.
“A gente não tem medo. Só o fato de estarmos vivos já é um grande desafio. Hoje nós estamos de mãos dadas para desenvolver” – Presidente da Tapajoara, Maria José Caetano.
“Reafirmamos essa parceria e estamos fazendo esse enfrentamento. Esse ataque é um ataque a todos nós e a cada um que está aqui e ameaçado. É inadmissível as nossas lideranças sendo captadas pelas empresas. Qual projeto que a gente defende? de Vida, de morte? De beneficiar o coletivo? Sem o recurso que Deus deu pra nós, não somos ninguém” – Presidente do STTR-STM, Ivete Bastos.
Próximo de mais um sonho saindo do papel e se tornando realidade, o Ecocentro será fundamental como polo para o processamento, beneficiamento, armazenamento, escoamento, controle de qualidade e comercialização de produtos da sociobiodiversidade como mel e óleos, ampliando frentes para atender as demandas do setor de cosméticos (sementes, óleos, manteigas), de vestimentas (borracha para sapatos orgânicos), entre outras potenciais.
A previsão de investimentos para o Ecocentro/Casa do Mel/Unidade de beneficiamento de óleos é de mais de quatro milhões de reais (4.069.586,58). Situado no antigo galpão da Acosper, vizinho a sede do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém na rodovia BR 163 (Santarém-Cuiabá), a perspectiva é que o centro de bioeconomia de base comunitária processe e agregue valor aos produtos, com usina extratora de óleos, destiladora de copaíba, casa do mel, despolpadeira de frutas.
“É uma honra participar de mais uma assembleia da Acosper que é uma cooperativa histórica na região, simbolizando a economia agroextrativista. Hoje ela estar hospedando e sediando o Ecocentro é um marco ainda maior para incrementar sua produção com óleo, mel, copaíba, polpa de fruta”, contou Caetano Scannavino, coordenador geral do PSA sobre a entidade que se fortaleceu com a participação de jovens e mulheres, mobilizando diferentes polos como Arapiuns, Tapajós, Amazonas, Terra Firme, Várzea, Planalto. “Tudo está caminhando para que seja uma referência, um símbolo de que é possível promover economia, inclusão social produtiva de acordo com a vocação cultural que traga receita, segurança alimentar com a floresta em pé. Tecnologias de ponta, na ponta para garantir segurança alimentar e gerar renda a partir das vocações e culturas locais”, esclarece.
A Casa do Mel foi planejada e está sendo equipada para conseguir o selo de inspeção artesanal da Adepará. Será a primeira a operar com previsão no próximo mês. O coordenador de ATER do PSA, Márcio Cunha explica que este é um processo que envolve três principais frentes de atuação: 1) Viabilidade econômica do mel; 2) Treinamento da equipe da Acosper para gestão do empreendimento; 3) Capacitações das pessoas que vão manejar internamente o produto. No período de 13 a 15/03 equipe técnica do PSA, cooperados e corpo técnico da Acosper participarão de treinamento para manipulação de alimentos visando a certificação para atuação na agroindústria.
O espaço será o polo da produção direta de 180 manejadores capacitados para a coleta do mel conforme as regras de higiene e contará com a atuação de cinco manipuladores. A grande expectativa do Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria, é que com a padronização do processo, o espaço seja inaugurado já com o Selo de produção Artesanal do Mel, garantindo ainda maior segurança ao consumidor final. “A assessoria do PSA em parceria com a Acosper está em processo de finalização de legalização junto a Adepará onde a gente está buscando o selo artesanal desse mel de abelhas sem ferrão. Agora entramos na etapa de instalação de equipamentos. Em meados de abril fazemos a entrega oficial já com o mel saindo rotulado..
Até abril estará pronto o sistema de geração de energia solar conectado à rede, que permitirá utilizar energia renovável e reduzir expressivamente os custos de produção.
O Floresta Ativa tem prestado assistência técnica aos agricultores e extrativistas para melhoria da segurança alimentar e da renda familiar, com práticas que aumentam a produtividade, diversificam a produção, recuperam áreas degradadas e reduzem a necessidade de abertura de novas áreas, do uso do fogo e riscos de incêndios florestais. A cada ano, novas famílias se mobilizam para restauração florestal, coleta de sementes, produção de mudas, implantação de SAF’s (sistemas agroflorestais), culturas de quintal, pequenas agroindústrias, manejo para extração não-madeireiros, e criação de abelhas sem ferrão. Nesta empreitada, conta com o financiamento de apoiadores como o BNDES e Rewild, CAF, Natura, FUNBio, WWF Brasil e Good Energies.
“Em abril a gente inaugura a casa do mel e em agosto a agroindústria. os cooperados estão muito felizes. A gente fez grandes alianças com o Projeto Saúde e Alegria, que é o nosso parceiro e mentor na execução desse projeto como o STTR”, comemora Manoel Edvaldo.