No período de 5 a 7 de junho, representantes de populações tradicionais de territórios protegidos da Amazônia, organizações de base, instituições privadas e da sociedade civil e órgãos governamentais se reuniram no I Encontro da Rede Conexão Povos da Floresta, na vila de Alter do Chão no Pará
O Encontro da Rede foi o primeiro evento presencial do projeto Conexão Povos da Floresta, uma iniciativa conjunta que tem como objetivo conectar em rede, através de internet banda larga, mais de 5 mil comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas em territórios protegidos da Amazônia Legal. A ideia da iniciativa é aliar conectividade e energia a programas de inclusão, segurança e empoderamento nas comunidades beneficiadas.
Um momento de convergência de membros da rede Conexão, beneficiários, parceiros e agentes públicos, com o intuito de promover a interação entre todos, a troca de conhecimentos e a discussão de pautas pertinentes ao desenvolvimento do projeto, como o fomento de políticas públicas voltadas aos povos tradicionais e o avanço dos grupos de trabalho que compõem a rede. Além disso, o evento da Rede marcou um ano de implementação do projeto e celebrou os principais avanços realizados pela iniciativa.
“Uma honra integrar essa Rede e receber em nossa região o “I Encontro Conexão Povos da Floresta” . Foram 3 dias intensos de debates, aprendizados, imersões de campo, carimbó, muita saúde e alegria”, destacou o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.
A iniciativa soma esforços de organizações e movimentos liderados pela CONAQ (Quilombolas), COIAB (Indígenas) e CNS (Extrativistas) para fazer chegar internet de qualidade aos 1 milhão de amazônidas excluídos do acesso à informação e comunicação. “Um desafio que não se limita apenas a entregar antenas. Tão importante quanto o sinal é empoderar a comunidade, é a capacitação para autogestão, para o bom uso das Tls (leitura crítica das mídias, cuidados com fake news, conteúdos adultos)”, ressaltou Scannavino.
As atividades aconteceram no Espaço de Lazer e Restaurante Caranazal, no Centro de Empoderamento Digital Paulo Lima, na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns; na comunidade quilombola Murumuru; aldeia indígena Vista Alegre e no auditório do Hotel Mirante da Ilha em Alter do Chão com a plenária de encerramento ‘Conexão Povos da Floresta: Oportunidades e desafios para garantir dignidade, segurança, saúde e prosperidade numa Amazônia integralmente conectada’.
A abertura do evento no dia mundial do meio ambiente contou com ritual indígena, depoimentos dos participantes, lideranças e do Gran Circo Mocorongo com direito a invasão à canoa (pequena embarcação de madeira, movida a remo). A trupe do Gran Circo Mocorongo abordou o tema da inclusão digital com apresentações na programação. “Fazemos parte pelo Saude e Alegria do Conselho da rede e temos o desafio de ampliar o acesso das comunidades a internet com mediação social e educativa para garantir acesso seguro e promover a saúde, o empreendedorismo, proteção territorial e a cultura dos povos da floresta”, contou o coordenador de Educação, Comunicação e Cultura do PSA, Fábio Pena.
O que é Conexão Povos da Floresta?
A rede Conexão Povos da Floresta é liderada pelas organizações de base Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), em parceria com mais de 30 organizações da sociedade civil, instituições e empresas.
O projeto atua com base em três principais pilares – infraestrutura, controle comunitário e inclusão digital consciente -, de modo que a internet funcione como uma ferramenta de transformação social para as comunidades beneficiadas, permitindo o acesso à saúde, educação e oportunidades profissionais e, com isso, ajudando na conservação da floresta e no uso consciente da rede.
A iniciativa em rede realizou a fase-piloto de instalação em março de 2023, em 31 comunidades, e alcançou recentemente, em abril de 2024, a marca de mais de 600 comunidades conectadas. Até o final de 2025, o objetivo é conectar aproximadamente 1 milhão de pessoas moradoras de áreas protegidas da Amazônia Legal, responsáveis por conservar 120 milhões de hectares de floresta.
Inauguração Centro de Empoderamento Digital (CED) Paulo Lima
A estreia do Centro de Empoderamento Digital (CED) Paulo Lima marcou um passo importante para as populações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. O evento emocionante celebrou a concretização da estruturação do espaço idealizado para promover a inclusão digital em regiões remotas da Amazônia. Uma luta incansável de Paulo Lima e agora em operação no Centro Experimental Floresta Ativa.
Instalado no CEFA, o centro representa o compromisso com o futuro por meio da educação e do empoderamento digital, garantindo que as comunidades do entorno da comunidade Carão estejam atuantes na era da informação. O CED que irá atender de forma presencial e remota as comunidades do entorno do CEFA, conforme o aumento de comunidades atendidas pelas instalações das antenas de conexão banda larga, foi implementado a partir da parceria com a RECODE, organização que atua no campo da inclusão digital para a cidadania e que compõe o projeto Conexão Povos da Floresta. Para tanto, foram realizados diagnósticos participativos sobre os benefícios do acesso à internet para fortalecimento dos territórios de acordo com suas demandas e potencialidades, para que os moradores sejam capacitados os moradores através das práticas de bom uso da internet.
“Uma homenagem ao nosso querido colega de batalha, que sempre lutou pra fazer a internet chegar (e de forma responsável) pros que precisavam e não tinham acesso. E com as coisas começando a se encaminhar por aqui, foi chamado pelo universo para conectar outras estrelas. Só gratidão, Plima! E muitas saudades!”, disse Scannavino.
https://youtu.be/zo_Gbzz_aJ8
Saúde e Alegria com inclusão digital da floresta
O Programa de educação, cultura e comunicação tem por objetivo ampliar as oportunidades de aprendizagem para contextualizar a população em seu meio, universalizar saberes, fortalecer identidade cultural e possibilitar o acesso a novos conhecimentos e tecnologias, a fim de formar cidadãos confiantes e autônomos, capazes de gerir suas comunidades, defender seus territórios e direitos fundamentais.
Dentre as ações foram implementadas entre 2023 e 2024 pelo PSA, se destaca a instalação de 43 pontos de acesso a internet por meio de antenas satelitais que promovem acesso à comunidades, aldeias, Unidades Básicas de Saúde (UBSF) para operar telemedicina e agilizar atendimentos médicos à moradores dessas regiões.
Também foram realizados cursos de capacitação, a exemplo do curso de mediadores digitais que formou 38 jovens e líderes comunitários em inclusão digital, ampliando conhecimentos sobre o uso consciente e educativo da tecnologia para promover a autonomia digital das comunidades. A iniciativa liderada pelo Projeto Saúde e Alegria – PSA fez parte das capacitações planejadas pela Escola Floresta Ativa, lançada em Santarém, com ênfase no fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade e no acesso às novas tecnologias.
Como braço de formação das ações do PSA, a Escola Floresta Ativa tem “a proposta de capacitar a juventude em relação a essas temáticas que unem tecnologia e a realidade socioambiental das comunidades. Fazer uma inclusão digital de fato, porque não basta promover o acesso, mas sim facilitar os usos sociais, culturais e econômicos nos potenciais das comunidades”, ressaltou Pena.