Segunda edição do curso exclusivo para mulheres forma novas vinte e duas profissionais de seis territórios em energia solar
Em comunidades e aldeias da Amazônia onde a energia da rede elétrica tradicional não chega, a luz que ilumina as casas, escolas e postos de saúde vem do sol. No entanto, a manutenção desses sistemas solares fotovoltaicos sempre foi um desafio, muitas vezes exigindo técnicos de fora e altos custos. Para mudar esse cenário e ampliar a autonomia das comunidades, o Projeto Saúde e Alegria (PSA) realizou a segunda edição do curso Eletricistas do Sol, voltado exclusivamente para mulheres.
A formação, realizada no Centro Experimental Floresta Ativa (CEFA), reuniu 22 mulheres de 17 comunidades, aldeias e quilombos dos municípios de Santarém, Óbidos e Oriximiná. Elas se somam às 21 participantes da primeira edição, totalizando 43 mulheres formadas. O objetivo é garantir que elas possam não apenas cuidar dos sistemas solares de suas próprias casas, mas também contribuir com as necessidades coletivas de suas comunidades.

“A gente busca dar essa autonomia para que os territórios não dependam exclusivamente da mão de obra da cidade, que tem um custo muito maior”, explica Jussara Salgado, coordenadora de Infraestrutura do PSA. “Essas mulheres podem fazer suas próprias manutenções, ajudar a comunidade e, quem sabe, até desenvolver uma atividade profissional”.
Para muitas participantes, a formação foi um desafio inicial, mas também um passo importante para romper barreiras. “Quando eu vi esse curso, pensei: mas isso não é só para homens?”, lembra Andreia dos Santos Anjos, quilombola do município de Óbidos. “Mas aí eu percebi que nós, mulheres, também podemos aprender”. Com a experiência adquirida, ela pretende levar o conhecimento para sua comunidade, onde todas as 68 famílias utilizam energia solar. “Se é pra chamar técnico de fora né se tem uma pessoa que já está qualificada pra fazer isso, nada melhor do que a gente poder contribuir com o território da gente nessa parte”, afirma.
Luiza Carmen Lopes Pereira, da Comunidade Carão, também destaca a importância do curso para sua realidade. “Quando a gente recebe um sistema solar, muitas vezes não sabe como fazer a manutenção”, diz. “Aprendi que a placa precisa ser limpa, que a bateria tem que ser medida. São detalhes simples, mas que fazem toda a diferença”.
Além de garantir o funcionamento dos sistemas solares, a oficina também abre portas para a geração de renda. “Aprender uma profissão significa valorizar nosso trabalho”, ressalta Andreia. “Claro que a gente pode ajudar a comunidade, mas também precisa ser reconhecida e remunerada”.
O curso Eletricistas do Sol integra uma estratégia para fortalecer as comunidades e oportunizar novas oportunidades de geração de renda. Antes, em turmas mistas, apenas uma ou duas mulheres se inscreviam. Agora, com as 43 mulheres qualificadas, o número total de eletricistas formados pelo programa subiu para 192, mostrando que a inclusão feminina na área está crescendo. “Além de estar empoderando os segmentos femininos nas comunidades, é uma forma também de autonomia, é uma forma de emancipação comunitária” – conta o coordenador geral do PSA, Caetano Scannavino.
Para Daniel Castro, da Fundação Kas, parceira do PSA há mais de 30 anos, o impacto do projeto é visível. “É lindo ver essas mulheres colocando a mão na massa, medindo painéis, aprendendo na prática”, destaca.
Fotos: Marina Macião, Samela Bonfim, Caetano Scannavino.