Curso promovido pelo Projeto Mulheres Empreendedoras da Floresta, formou lideranças de organizações de base comunitária, visando fortalecimento dos negócios a partir do uso de ferramentas digitais para impulsionar comercialização e organização de processos
Usar redes sociais, computadores e planilhas eletrônicas está na rotina de quem atua com a comercialização de produtos. Mas para quem mora na floresta, essa aproximação ainda é um desafio, sobretudo pela dificuldade de acesso aos equipamentos e sistemas. Pensando no uso de recursos digitais importantes para a gestão de cooperativas e associações e para a estruturação dos negócios da sociobiodiversidade liderados por mulheres de regiões da floresta, o Projeto Mulheres Empreendedoras iniciou em 2022 diferentes ações para garantir o fortalecimento desses negócios. Um dos primeiros passos foi a construção do Telecentro para formação de agroextrativistas na gestão de negócios da sociobiodiversidade.
O curso será realizado por módulos ao longo de 36 meses e o público prioritário é formado por jovens, mulheres e lideranças envolvidas nas organizações comunitárias. Os educandos e as educandas serão também multiplicadores dos conteúdos em suas comunidades e organizações. No primeiro módulo aprenderam sobre Sistema Operacional Chrome OS, uso do Chromebook, email, nuvem, documentos, planilhas, agendas, slides e formulários.
“É um curso voltado para as pessoas que estão envolvidas nas cooperativas e associações com empreendimentos comunitários. Para que jovens e mulheres aprendam a usar as ferramentas digitais em favor dos seus negócios e saibam publicar, fazer edições de vídeo. Esse módulo específico é sobre o chromebook, ferramenta indicada porque é mais próxima do celular e as pessoas têm mais familiaridade no uso”, explica a coordenadora do núcleo de negócios da sociobiodiversidade de base comunitária do PSA, Olivia Beatriz.
Durante uma semana, os participantes aprenderam a editar documentos online, criar planilhas, manusear agenda e elaborar apresentações. Para facilitar a compreensão, foi produzida cartilha técnica com detalhes sobre as funções operacionais do sistema. A responsável pela consultoria, Daniele Oliveira, ressalta que apesar de pouco conhecido, por ser mais rápido e ágil, esse sistema possibilita a realização de várias tarefas simultâneas. “Eles aprenderam sobre o computador e como utilizar ferramentas como agendas, docs, planilhas. Nós da Tapera estamos muito felizes por saber o impacto que isso vai gerar na vida das pessoas e das comunidades que elas estão”.
Renata Vasconcelos, da Federação Quilombola- FOQS, avaliou a formação como uma importante estratégia para apoiar as empreendedoras da floresta. “Eu gostei de mexer com as teclas. Eu não sabia. Quando eu cheguei eu estava com vergonha. Mas depois eu vi que foi fácil mexer. Pra mim vai ajudar muito na minha associação, a fazer planilhas, documentos”, conta.
Rudson Rocha, integrante dos Guardiões do Bem Viver do Pae Lago Grande, confessa que chegou no curso apreensivo. “Eu estava muito nervoso, minhas mãos estavam suando e com medo da máquina. Depois eu consegui dominar o computador e agora me sinto bastante confiante”.
O curso promovido pelo Projeto Mulheres Empreendedoras da Floresta, liderado pelo Projeto Saúde e Alegria e STTR-STM com apoio da União Europeia, terá ao final de duas semanas, a participação de duas turmas, formadas por mulheres e jovens de organizações comunitárias. Keyse Oliveira da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Santarém, mãe de uma bebê de três meses, fez questão de participar. Com a filha nos braços, e com o apoio das outras mulheres, estava atenta aos conteúdos ministrados para compartilhar com as demais mulheres da entidade. “É pra gente é muito importante porque as redes sociais são uma porta que se abre. Nós trabalhamos com produtos regionais que precisam ter essa visibilidade. Esse curso vai proporcionar essa interação com o público”.
Para a Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós (AMPRAVAT), integrar os processos digitais também é fundamental. Ana Vitória Brás, da aldeia Surucuá, diz que a partir de agora, a iniciativa ganhará reforço: “A gente vai poder ajudar a nossa cooperativa e fazer a exposição dos nossos produtos nas redes sociais”.
Diego Silva de Retiro, no PAE Lago Grande, participou da formação representando a Feagle. O jovem conta que foi uma experiência nova que vai ampliar a atuação da entidade. “Não tinha ainda participado de um curso que relaciona computadores. Usar as ferramentas digitais vai ser muito útil pra mim e para as pessoas que eu possa ajudar”.