Coletivo Munduruku Poy avalia safra da castanha e investiga impactos das mudanças climáticas para cadeia sustentável 

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IV Encontro promovido na Aldeia Waro Apompu, Terra Indígena Munduruku em Jacareacanga-Pará, foi um marco importante para as lideranças indígenas, representantes de organizações e membros das aldeias que se reuniram para discutir a safra da castanha e iniciativas de desenvolvimento sustentável no território

Realizado entre os dias 20 e 22 de maio na Aldeia Waro Apompu, na Terra Indígena Munduruku Jacareacanga-Pará, o IV Encontro do Coletivo Munduruku Poy foi um marco importante para a região. O evento celebrou a riqueza da cultura Munduruku e ao mesmo tempo, discutiu os desafios da colheita anual, com o compartilhamento das diferentes experiências dessa safra: alguns indígenas relataram dificuldade em encontrar castanhas, enquanto outros obtiveram sucesso na coleta.

Em 2024, 282 latas de castanha foram coletadas, envolvendo onze de trinta e uma aldeias integrantes da estratégia. Segundo o responsável pelo acompanhamento técnico do PSA, Marlisson Borges, os coletores enfrentaram grandes dificuldades para atender a demanda do mercado da castanha in natura que está aquecida após o período da pandemia. A produção ficou abaixo do esperado na região do Alto Tapajós, mesmo considerando a variação anual da dinâmica da castanha. Alguns fatores podem ter contribuído para a diminuição na produção de sementes, como por exemplo, as consequências das alterações climáticas, como diminuição das chuvas e aumento das temperaturas.

Castanha coletada na safra em 2024 foi menor que nos anos anteriores. Fotos: Marllisson Borges/PSA e Audiovisual Da´Uk.

Os indígenas relataram que árvores esse ano produziram menos, ocorrendo abortamento de flores e frutos. Isso tem dificultado o planejamento das atividades de coletas que até então, são realizadas com base nas estimativas de produção natural da espécie que é bianual com altas e baixas de produção. “Esse ano nos evoca uma reflexão sobre o futuro do horizonte de previsibilidade em safras de produtos da sociobiodiversidade, considerando o cenário de mudanças climáticas globais num ritmo acelerado que coloca as comunidades que nela trabalham em estado de fragilidade econômica, financeira e social”, esclareceu Borges.

Na safra deste ano, algumas famílias se deslocaram aos castanhais até quatro vezes às regiões do Alto Tapajós próximas ao rio Cururu e Barra de São Manuel, não encontrando nem para o consumo. Um cenário desafiador para as comunidades que atuam com cadeias da sociobiodiversidade.

Na safra deste ano, algumas famílias indígenas Munduruku se deslocaram aos castanhais até quatro vezes no Alto Tapajós e não encontraram castanha nem para o consumo. Na outra margem do rio, mesma região, em outra área protegida na comunidade da Barra de São Manuel, os extrativistas relatam as mesmas dificuldades de não haver produção nos castanhais. Um cenário desafiador para as comunidades que atuam com cadeias da sociobiodiversidade.

Economia da floresta em pé: novas cadeias

Promover práticas de coleta sustentável preserva a floresta e seus recursos, proporciona alternativas econômicas para as comunidades, desencorajando a participação no garimpo ilegal. Atualmente a coleta da castanha opera como primeira atividade piloto de muitas que virão e se torna uma estratégia-chave para enfrentar o problema do garimpo, protegendo o meio ambiente e fortalecendo as comunidades.

Além da safra da castanha, o encontro abordou temas como a formalização e estatuto da associação, merenda escolar tradicional indígena e o Projeto de Copaíba, borracha e agricultura, diversificando a produção, para que os indígenas tenham renda o ano todo, podendo ficar na aldeia.

Com o início das orientações e acompanhamento técnico para o manejo da copaíba, a expectativa de comercialização do produto aumenta as possibilidades de geração de renda com a floresta em pé. O território possui grande potencial para produção com assistência técnica regular.

O fornecimento de frutas, hortaliças, verduras e legumes oriundos da produção agroextrativista indígena para escolas também está animando a população que poderá produzir organicamente, fornecer o alimento para as escolas e gerar renda, contribuindo para a segurança alimentar das crianças atendidas nas unidades escolares, numa parceria com as prefeituras e atendendo as recomendações das varas agrárias.

O cacique Josimar Aldeia Waredí ressaltou a importância de continuar com as atividades produtivas. Para muitas pessoas, essa é a única fonte de renda para sustentar suas famílias. Ele enfatizou que, mesmo diante das dificuldades, é possível avançar com pensamento positivo e tranquilidade. Os indígenas veem esse trabalho como uma oportunidade de melhorar sua qualidade de vida, e a participação ativa no encontro reflete o compromisso contínuo com a sustentabilidade e proteção do território Munduruku.

O povo Munduruku, com uma população de cerca de 14 mil pessoas, reside em dez Terras Indígenas distribuídas entre os estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas. A TI Munduruku, um território de aproximadamente 2.382.000 hectares, é um espaço de significativa importância histórica e cultural, conhecido como Mundurukânia. Este território, que inclui cerca de 145 aldeias, é compartilhado com o povo Apiaká e está próximo às TIs Sai Cinza e Kayabi, formando uma região de profunda relevância ecológica e cultural.

Nos últimos anos, a TI Munduruku tem enfrentado crescentes desafios devido à intensificação do garimpo ilegal, impulsionado pelo aumento no preço do ouro durante a pandemia de COVID-19. A atividade não só provoca um desmatamento recordista, como também resulta em graves problemas de saúde para a comunidade devido à contaminação dos rios e peixes com mercúrio, que coloca em risco a sobrevivência e bem-estar das comunidades locais, incluindo crianças, mulheres, jovens e idosos.

Com a organização social do povo em busca de alternativas, nos últimos anos, dezenas de aldeias na TI se organizaram em um coletivo para discutir a sustentabilidade do território e a manutenção e defesa do modo de vida, o que originou diversas frentes de atividades e  coletivos sinérgicos entre si, como o coletivo Munduruku Poy e o coletivo Da´Uk com um objetivo em comum: “a defesa da vida no território”.

Participaram do encontro, representantes do PSA, Conexsus Sustentáveis, Associação dos Educadores Munduruku Arikico e representações da Secretaria Municipal de Assuntos Indígenas de Jacareacanga – SEMAPI.

Coletivo Munduruku Poy

O Coletivo Munduruku Poy, criado no final de 2022, reúne membros das comunidades indígenas Munduruku, na região do Rio Cururu, Teles Pires e Tapajós. Atualmente, o coletivo, composto por aproximadamente 31 aldeias e 126 famílias, está empenhado em preservar tradições culturais, promover o desenvolvimento sustentável e enfrentar os desafios decorrentes da expansão do garimpo ilegal.

Já apresentando resultados, organizando no ano de 2023 a coleta de mais de 32 toneladas de castanha manejada e negociada pelos próprios indígenas diretamente com processadoras, iniciando um movimento de governança e discussão através desse coletivo que são os encontros do Coletivo Poy onde se discute sobre a produção extrativista, cultura e questões socioambientais relacionadas ao território.

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