Indígena da Aldeia Marajaí no Médio Solimões, Mariany Martins defendeu a tese de mestrado na Universidade do Estado do Amazonas. Pesquisa aborda ações da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia para fortalecimento de iniciativas de comunicação
A experiência da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia foi documentada na dissertação intitulada “Constituindo uma pesquisa autoetnográfica a partir de minha trajetória de comunicadora indígena Mayoruna”. Produzida para obtenção do título de mestre no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas da Universidade do Estado do Amazonas PPGICH / UEA e orientada pelo Prof. Dr. e conselheiro da Escola de Redes, Guilherme Gitahy de Figueiredo, a pesquisa foi aprovada no último dia 06/07.
Mariany Martins é da aldeia Marajaí, terra indígena do povo Mayoruna, localizada na margem direita do Rio Solimões no município de Alvarães Amazonas, composta por 192 famílias e 900 habitantes. Em 2021, a aldeia foi selecionada para participar da Escola de Redes Comunitárias por meio de três alunos, dentre eles Maryane. Durante a formação, os estudantes puderam aprofundar seus conhecimentos sobre comunicação comunitária, produções de conteúdo, segurança digital, meio ambiente e defesa de território através do combate à desinformação.
Em 2022, a Aldeia Marajaí recebeu as ações de campo da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. Lideranças, professores e alunos da escola participaram da oficina para refletir sobre o território, mapear fortalezas, desafios e sonhos do coletivo. O processo foi conduzido por Adriane Gama e Guilherme Gitahy de Figueiredo – especialista da escola. A partir dos encontros presenciais que ocorreram nas sete comunidades participantes, o conselho da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia compôs a grade curricular da formação que foi realizada até dezembro de 2022.
As experiências protagonizadas pela Escola na aldeia foram objeto de estudo científico da pesquisadora. Ao analisar o impacto das ações no território, Mariany estabeleceu relação entre a iniciativa, o fortalecimento da comunicação na aldeia e o conhecimento pautado na ciência. “Quando a gente fez a formação da escola de Redes Comunitárias da Amazônia a gente elaborou um projeto que vai criar um telecentro para nossa aldeia e que vai ser um espaço onde a gente vai poder desenvolver nossas atividades enquanto comunicação e valorização da nossa cultura”, ressaltou a jovem sobre o projeto em andamento que resultará em um espaço de acesso à internet.
Um dos resultados da iniciativa foi a criação de um coletivo que formalizou o grupo. Até então os jovens desenvolviam as atividades de maneira informal. Organizados nessa estrutura, estão habilitados para receber novos apoios e seguir com a sustentabilidade do projeto. “A gente desenvolveu diálogos e a partir dessas conversas, nós possibilitamos criar um coletivo. A partir do momento que a gente somou esforços, nós traçamos o projeto que se chama Sucuratá. É um pássaro que vive nos mais altos das árvores”, destacou.
A pesquisadora da Escola, Sabrina Costa afirma que o estudo foi importante porque estabelece uma relação concreta do legado da iniciativa. O grupo da Aldeia Marajaí sempre foi destaque pela comunicação e envolvimento nas atividades e durante a criação do projeto de fortalecimento da rede comunitária, pensou na criação de um telecentro para continuar o trabalho de comunicação com os jovens. “Conheci a Marianny em 2022 no evento da rede de notícias da Amazônia junto ao saudoso Plima. Foi notável a boa articulação de comunicação dela e naquele momento ainda estava definindo o desenho da pesquisa de mestrado, e hoje ver que a experiência em Redes Comunitárias contribuiu na trajetória dela, nos deixa com a sensação de dever cumprido”.
A Escola de Redes Comunitárias da Amazônia
A escola foi um dos legados de Paulo Henrique Lima, coordenador do Projeto Saúde e Alegria (in memorian). Ela é o pilar de formação e treinamento do projeto “Conectando os Desconectados”, uma iniciativa global, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria.
O objetivo da iniciativa foi conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy e mobilização comunitária.
Em 2021, um conselho consultivo foi formado para discutir as metodologias e áreas temáticas para as ações da escola. O grupo de especialistas foi composto por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).
A experiência piloto integrou 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará), dos seguintes territórios: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.