Planejamento da próxima safra foi realizado na aldeia Restinga região da TI Munduruku e reuniu lideranças indígenas de trinta e uma aldeias mundurukus. Coletivo Munduruku Poy foi criado em 2022 para estruturar alternativas sustentáveis. Este ano conquistou seus primeiros resultados com quase 32 toneladas de castanhas do Pará comercializadas e para 2024 a previsão é de fortalecimento da estratégia
“Todo mundo fica alegre”, contou o cacique da aldeia Patuazal, Luciano Saw. O encontro é considerado instrumento de luta para as populações que se articulam para ampliar as iniciativas de renda sustentáveis nos territórios da região do Rio Cururu e Alto Tapajós, garantindo renda justa para quem protege a floresta. “Isso que nós estávamos esperando. Pessoal se animou muito pra quebrar castanha. A galera está toda alegre e a gente vai produzir”, ressalta.
Liderada pelo Coletivo Munduruku Poy, a terceira edição do encontro debateu a formalização do coletivo por meio da criação da “Associação Indígena Coletivo Munduruku Poy”, refletindo o compromisso contínuo da comunidade com a conservação ambiental, práticas sustentáveis e fortalecimento econômico das comunidades indígenas. Os indígenas discutiram a necessidade da sustentabilidade, do cooperativismo e associativismo.
“Foi muito produtiva. Ficamos muito satisfeitos. Participaram muitos jovens e ficaram interessados em trabalhar em 2024. Muito importante para fortalecer a nossa resistência e o nosso trabalho. Isso foi muito bom pra gente estar mostrando a nossa capacidade e a força e resistência dos Munduruku para trabalhar e na luta” – destacou o coordenador do coletivo, João de Deus Kaba.
A cadeia de valor da castanha (bertholletia excelsa) representa a necessidade de uma alternativa econômica para os povos originários que vivem em meio às ações predatórias de mineradoras e madeireiras. Neste ano, mais de três mil e duzentas latas de castanha do Pará, equivalente a 31,6 toneladas da semente, oportunizaram renda para 126 famílias de aldeias do alto Tapajós. A coleta simbolizou o retorno aos castanhais e valorização da floresta em pé, em meio a toda degradação, conflitos e consequências da mineração ilegal nos territórios. A atividade, que envolve todos os membros das famílias, é liderada pelo Coletivo Poy, criado em 2022 pelos próprios indígenas.
O trabalho é assessorado pela equipe técnica do Programa Floresta Ativa do PSA que em agosto de 2022, foi demandado para contribuir com o planejamento das atividades produtivas potenciais. “Eles mesmos organizaram quase 70 lideranças do rio Cururu, Teles Pires e início do Tapajós, e a gente realizou as oficinas para começar a construir a organização, estruturação interna intercomunitária, definição dos coletivos, das articulações, responsabilidades e papéis, de modo a poder avançar na estruturação dessas cadeias produtivas”, explicou o coordenador de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski.
As medidas e ajustes adotados para a próxima safra de castanhas refletem o compromisso do Coletivo Poy com a eficiência operacional e a transparência em suas atividades, ressaltou o Assessor técnico de cadeias produtivas do PSA, Marllisson Borges. “A utilização de recibo, contendo informações detalhadas sobre o castanheiro, a sua produção e demais detalhes, visa aprimorar o controle, origem, rastreabilidade da produção e garantir uma remuneração justa para os castanheiros e castanheiras. Além disso, a padronização da medida da castanha, para a “quebra”, e a adoção de medidas padronizadas compatíveis com o mercado representam passos significativos para minimizar perdas, otimizar a produção e se inserir no contexto do mercado nacional de castanha e garantir melhores condições de negociação”, destaca.
Na região que é repleta de árvores centenárias, os indígenas têm conseguido desenvolver a proteção que representa resistência e o sonho dos povos tradicionais para conquistar segurança econômica a partir da coleta de frutos e sementes de espécies de valor comercial. Para ampliar o potencial da organização, eles participaram ainda de oficina sobre cooperativismo e associativismo, promovida pelo Instituto Conexões Sustentáveis – CONEXUS, com a participação da técnica da instituição, Marlena. Durante a apresentação, foi discutida a importância de possuir um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ para formalizar o coletivo. Até o momento, o coletivo está sendo respaldado juridicamente pela Associação dos Professores Indígenas, enquanto busca sua formalização. Marlena destacou as diferenças entre associações e cooperativas e as configurações do estatuto social de uma associação.
Esta ação faz parte do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF. A realização é feita por um consórcio de parceiros formado por Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Comitê Chico Mendes, Fiocruz, Fiotec, Imaflora, Kanindé, Pacto das Águas, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e WWF-Brasil.
Fotos: Frank Akay e Marlisson Borges