Escola de Redes Comunitárias da Amazônia chega ao PAE Lago Grande

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Ameaçada por conflitos territoriais, região é uma das sete a fazer parte do programa internacional de formação que, no Brasil, é liderado pelo Projeto Saúde e Alegria 

No último sábado (12/03), as ações de campo da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia chegaram à comunidade Inanu, localizada no Projeto de Assentamento Extrativista Lago Grande, em Santarém, Oeste do Pará.

Sete representantes do coletivo de jovens Guardiões do Bem Viver se deslocaram de suas comunidades para receber a equipe da Escola e participar das dinâmicas interativas em Inanu.

As atividades propostas tiveram como objetivo refletir sobre o território, mapear fortalezas, desafios e sonhos do coletivo. O processo foi conduzido por Adriane Gama e Priscila Cotta com o apoio dos educomunicadores do PSA, Elis Lucien e Walter Kumaruara.

A partir desses encontros presenciais que vão acontecer até o fim de abril nas sete comunidades participantes, o conselho da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia irá compor a grade curricular da formação que acontece de julho a dezembro –  fazem parte do conselho sete especialistas e sete lideranças de cada organização envolvida.

Guardiões do Bem Viver identificaram fortalezas do território em uma das dinâmicas. Fotos: Priscila Cotta.

“A Escola busca fortalecer iniciativas de comunicação comunitária como rádios comunitárias, telecentros, pontos de acesso à internet público e gratuito nas comunidades para um uso melhor e mais qualificado para saúde, educação e agricultura familiar. Indica um acúmulo de experiências do PSA, que propõe também intercâmbio entre as instituições que integram o projeto na Amazônia” – esclarece o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Paulo Lima. O projeto é o pilar de educação do programa ‘Conectando os Desconectados’, executado em cinco países pela Associação Para o Progresso das Comunicações (APC).

Para a coordenadora da Escola, Priscila Cotta, é fundamental promover uma imersão inicial em cada território e só então propor conteúdos que estejam de acordo com as necessidades dos alunos. “Os Guardiões são jovens com muita capacidade de articulação, cheios de ideias e sonhos, que vivem em um território ameaçado. Eles entendem o poder da comunicação em rede e estão já nesse processo de busca de conhecimento. A Escola vem em boa hora para potencializar esse aprendizado”.

Sobre o coletivo Guardiões do Bem Viver 

O Projeto de Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande – PAE Lago Grande – abriga 154 comunidades e 6.600 famílias indígenas, ribeirinhas, que trabalham com extrativismo e agricultura de base familiar.

A região é palco de inúmeras disputas territoriais, devido à pressão pesqueira, mineração, desmatamento e garimpo.

Foi na luta pela defesa do território que surgiu o coletivo Guardiões do Bem Viver, formado por jovens das três áreas do assentamento – Arapiuns, Arapixuna e Lago Grande. “Os guardiões surgiram depois de uma romaria de 37 km que foi uma forma de luta contra a ameaça das mineradoras, madeireiras e do agronegócio que afetam a nossa região. Inicialmente éramos cinco jovens de cada área, então procuramos aumentar o coletivo. Nós somos guardiões da floresta”, diz Erivelton Guimarães, um dos fundadores e coordenadores do coletivo, que faz parte do conselho da escola.

Os Guardiões atuam na mobilização dos moradores, representando um braço da Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (Feagle) – órgão máximo de representação das comunidades do PAE. Uma das ações do coletivo é a divulgação, nas redes sociais, do trabalho da Federação, além de denúncias do território sobre crimes ambientais.

Pedro Soares, 31, guardião e morador da comunidade Vila Brasil foi um dos alunos eleitos para representar a instituição e participar das aulas da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. Para ele, as capacitações vão auxiliar no fortalecimento do coletivo: “pra gente investir na comunicação, precisamos entender como captar projetos para beneficiar as rádios comunitárias” – explica.

Os jovens do coletivo utilizam uma rádio comunitária de baixa potência para se comunicarem nas comunidades, porém ela não chega a todo o território. Um dos sonhos coletivos é conquistar uma rádio que atinja as três regiões através de um transmissor de alta potência, disse Karina Matos, 22, de Vila Curuai: “A minha expectativa é aprender e interagir sobre os territórios. A falta de comunicação entres as áreas do PAE causa danos à região. O nosso trabalho na rádio comunitária, na maioria das vezes ajuda bastante para informar nossa população e pode melhorar ainda mais” – ressalta.

O sonho é compartilhado por Gean Silva, 19, o terceiro aluno da escola: “Espero que o que a gente aprenda para nos fortalecer para defesa do nosso território”. Para além da rádio comunitária, o coletivo tem diversas outras ideias de ações de comunicação em rede como a criação de um website com histórias da região, capacitação em design para redes sociais, desenvolvimento de projetos para capacitação de recursos, entre outros

Os três estudantes dos Guardiões se integrarão aos 21 alunos de três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará) na primeira turma da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. As aulas iniciam no mês de julho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes envolvidas.

As comunidades selecionadas para participar da formação são: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.

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