Santarém, no Oeste do Pará, sediou o encontro da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia no período de 12 a 17 de outubro. A formação presencial reuniu jovens de sete territórios do Acre, Amazonas e Pará
Possibilitar a implementação de tecnologias de conectividade em áreas remotas foi o objetivo do encontro de formação da iniciativa ‘Conectando os Desconectados’ do Projeto Saúde e Alegria, através da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. No encontro de seis dias, os jovens estudantes descobriram que é possível usar o rádio amador para se conectar a internet, para troca de mensagens e e-mails.
Os alunos dos três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará), se encontraram na oficina que abordou os princípios da energia fotovoltaica e permitiu a construção do Sistema de Intercâmbio Multimídia Rural e Emergência de Alta Frequência (Hermes). Na prática, compreenderam os princípios de uso de energia fotovoltaica e da tecnologia Hermes, a partir de instalações dos equipamentos. A capacitação foi ministrada pelos professores Roger Luiz Godoy, Evandro Oliveira e Matheus Paulino, e conceituou, dentre outros temas, o sistema de comunicação autônomo, história da Rádio, HF Rádio, frequência/amplitude/comprimento da onda, montagem de painel solar, protocolos de comunicação e montagem de antenas.
“Eles foram estimulados a encontrar soluções alternativas de conexão à internet. Estações de rádio com antenas que conseguem fazer comunicações com pessoas distantes. O que o Projeto Hermes trouxe é uma nova tecnologia que acopla o radioamador à mensagens via internet. Ele transforma os pacotes que saem do celular por email, em mensagens instantâneas. É uma oportunidade de conhecer uma nova tecnologia para comunidades isoladas, distantes, sem conexão à internet”, explicou o coordenador da Escola, Paulo Lima.
Um dos princípios do Sistema de Intercâmbio Multimídia Rural e Emergência de Alta Frequência (Hermes) é estabelecer um mecanismo de tecnologia livre (software livre), atendendo os princípios do SL como colaboração e compartilhamento de conhecimentos. Para a pesquisadora da Escola, Adriane Gama, este é um dos requisitos mais importantes para garantir autonomia dos usuários: “É um equipamento livre que atende aos princípios, utilizando energias sustentáveis, livres como os painéis solares”. A também arteeducadora, ressaltou que o encontro foi rico e intenso, com a presença do Gran Circo Mocorongo e envolvimento dos alunos. “O mais incrível de tudo isso aqui é a participação ativa dos jovens. São representantes de coletivos de defesa do meio ambiente e social, que a partir da interação com essa tecnologia, vão fazer com que as pessoas tenham uma comunicação comunitária dentro dos seus espaços sociais”, ressalta.
A proposta é que os estudantes que moram em áreas de comunidades dos três Estados, utilizem as tecnologias para potencializar a conectividade em suas regiões. Na prática, eles aprenderam a montar, cortar, instalar e configurar equipamentos como antenas e painéis solares.
“A comunicação no nosso território tem ajudado muito. Para fortalecer quando as comunidades sofrem com a ameaça. A Escola de Redes tem trazido isso pra gente, nós temos usado, fazendo podcast. A união faz a força. A juventude está em massa lutando pelo nosso território que é o PAE Lago Grande”, contou o integrante do Coletivo Guardiões do Bem Viver, Gean Silva.
Do povo Mayoruna, Aldeia Marajaí, município de Alvarães no Médio Solimões, Mariane Santos viajou muitos quilômetros até chegar à Santarém. A integrante do Coletivo Samaumeira e dos tecedores de paneiro, investe na comunicação para dar visibilidade ao seu povo e à sua cultura. “A comunicação representa o nosso local de fala. As mulheres hoje podem estar hoje junto com os homens somando e multiplicando os trabalhos sociais e comunicacionais na sua comunidade”, ressalta. A jovem liderança participa das aulas da Escola desde Julho deste ano, e tem aprendido lições fundamentais para multiplicar em sua aldeia. “A Escola de Redes é uma das grandes oportunidades nossas de conhecer novas experiências. Além desse fortalecimento, traz visualidade pro nosso povo. A gente vem ampliando os nossos conhecimentos. Além disso, a gente compartilha com os nossos colegas. A escola de redes trabalha com uma comunicação horizontal na qual a gente ouve a nossa voz’, ressalta.
Representando a Casa Preta na Ilha de Caratateua, região da Vila de Outeiro no Pará, Raphael Gnosis também aprendeu técnicas importantes para fortalecer as atividades comunitárias na região de Belém. “Acho muito importante poder obter esses conhecimentos porque não é tão fácil ter acesso a eles. Como montar uma placa solar, como funciona um rádio e poder produzir conteúdo. Às vezes a gente pensa que não é capaz de fazer isso”, comenta.
A atividade da escola que é o pilar de formação e treinamento do projeto “Conectando os Desconectados”, uma iniciativa global, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria, contou com a presença de representações das duas instituições que puderam acompanhar de perto a execução do projeto.
Fundada na década de 90 com objetivo de possibilitar o uso estratégico de tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento sustentável, a APC participou do encontro da Escola através da jornalista Débora Prado. “A APC teve a grande alegria de fazer uma parceria com o Projeto Saúde e Alegria para a Escola que está acontecendo em cinco países diferentes e o Brasil é um deles, junto com a Indonésia, Quênia, África do Sul e Nigéria. É a primeira vez que visitamos a região amazônica e aqui conhecemos as sete comunidades integrantes. Foi bem interessante ver que a escola está criando essa rede de cooperação entre os estudantes, com esse foco de inclusão digital por meio das redes comunitárias”.
O segundo encontro presencial da escola, contou com a participação de jovens de sete territórios: Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém; Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém; Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira e Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima no Acre.