Lançamento celebrou o legado digital deixado por Paulo Lima na Amazônia. Espaço simboliza avanço no acesso à tecnologia e informação e foi oficialmente inaugurado no Encontro da Rede Conexão Povos da Floresta que leva conexão ao interior da Amazônia
A estreia do Centro de Empoderamento Digital (CED) Paulo Lima marcou um passo importante para as populações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. O evento emocionante celebrou a concretização da estruturação do espaço idealizado para promover a inclusão digital em regiões remotas da Amazônia. Uma luta incansável de Paulo Lima e agora em operação no Centro Experimental Floresta Ativa.
A inauguração foi realizada durante o I Encontro “Conexão Povos da Floresta”, que contou com a presença de representantes da COIAB (indígenas), CONAQ (quilombolas), CNS (extrativistas), governos, fundações e organizações parceiras, além de lideranças e alunos locais. Instalado no CEFA, o centro representa o compromisso com o futuro por meio da educação e do empoderamento digital, garantindo que as comunidades do entorno da comunidade Carão estejam atuantes na era da informação.
O CED que irá atender de forma presencial e remota as comunidades do entorno do CEFA, conforme o aumento de comunidades atendidas pelas instalações das antenas de conexão banda larga, foi implementado a partir da parceria com a RECODE, organização que atua no campo da inclusão digital para a cidadania e que compõe o projeto Conexão Povos da Floresta. Para tanto, foram realizados diagnósticos participativos sobre os benefícios do acesso à internet para fortalecimento dos territórios de acordo com suas demandas e potencialidades, para que os moradores sejam capacitados os moradores através das práticas de bom uso da internet.
“Estamos entusiasmados com esta parceria de impacto colaborativo entre Recode, PSA, Reurbi, Nossas, Imazon, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, MapBiomas, além de financiadores como Skoll Foundation e Movimento Bem Maior. O engajamento das lideranças das 5 comunidades envolvidas no novo CED (Centro de Empoderamento Digital) junto ao nosso educador local contribuirão para que a cultura ancestral se una à tecnologia em prol dos povos e da floresta em pé” – Rodrigo Baggio, CEO da Recode.
A Recode é uma organização social com foco em empoderamento digital, atuante há 29 anos no Brasil e em mais 11 países. O CED Paulo Lima contribuirá para a criação e consolidação de ações em andamento, tanto do Projeto Saúde e Alegria como de projetos das comunidades e aldeias da região.
“Uma homenagem ao nosso querido colega de batalha, que sempre lutou pra fazer a internet chegar (e de forma responsável) pros que precisavam e não tinham acesso. E com as coisas começando a se encaminhar por aqui, foi chamado pelo universo para conectar outras estrelas. Só gratidão, Plima! E muitas saudades!” – Caetano Scannavino, coordenador do PSA.
Encontro da Rede Conexão Povos da Floresta em Santarém
No período de 5 a 7 de junho, representantes de populações tradicionais de territórios protegidos da Amazônia, organizações de base, instituições privadas e da sociedade civil e órgãos governamentais se reuniram no I Encontro da Rede Conexão Povos da Floresta, na vila de Alter do Chão, em Santarém, no Pará.
O Encontro da Rede foi o primeiro evento presencial do projeto Conexão Povos da Floresta, uma iniciativa conjunta que tem como objetivo conectar em rede, através de internet banda larga, mais de 5 mil comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas em territórios protegidos da Amazônia Legal. A ideia da iniciativa é aliar conectividade e energia a programas de inclusão, segurança e empoderamento nas comunidades beneficiadas.
Um momento de convergência de membros da rede Conexão, beneficiários, parceiros e agentes públicos, com o intuito de promover a interação entre todos, a troca de conhecimentos e a discussão de pautas pertinentes ao desenvolvimento do projeto, como o fomento de políticas públicas voltadas aos povos tradicionais e o avanço dos grupos de trabalho que compõem a rede. Além disso, o evento da Rede marcou um ano de implementação do projeto e celebrou os principais avanços realizados pela iniciativa.
As atividades aconteceram no Espaço de Lazer e Restaurante Caranazal, no Centro de Empoderamento Digital Paulo Lima, na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns; na comunidade quilombola Murumuru; aldeia indígena Vista Alegre e no auditório do Hotel Mirante da Ilha em Alter do Chão com a plenária de encerramento “Conexão Povos da Floresta: Oportunidades e desafios para garantir dignidade, segurança, saúde e prosperidade numa Amazônia integralmente conectada”.
O que é Conexão Povos da Floresta?
A rede Conexão Povos da Floresta é liderada pelas organizações de base Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), em parceria com mais de 30 organizações da sociedade civil, instituições e empresas.
O projeto atua com base em três principais pilares – infraestrutura, controle comunitário e inclusão digital consciente -, de modo que a internet funcione como uma ferramenta de transformação social para as comunidades beneficiadas, permitindo o acesso à saúde, educação e oportunidades profissionais e, com isso, ajudando na conservação da floresta e no uso consciente da rede.
A iniciativa em rede realizou a fase-piloto de instalação em março de 2023, em 31 comunidades, e alcançou recentemente, em abril de 2024, a marca de mais de 600 comunidades conectadas. Até o final de 2025, o objetivo é conectar aproximadamente 1 milhão de pessoas moradoras de áreas protegidas da Amazônia Legal, responsáveis por conservar 120 milhões de hectares de floresta.
Paulo Lima e o legado de inclusão digital para a Amazônia
Em 2023, aos 56 anos, o historiador, jornalista, professor e coordenador do Projeto Saúde e Alegria Paulo Lima foi vítima de um infarto fulminante. Com uma enorme trajetória de luta pela defesa dos direitos humanos e pela garantia de acesso à internet em regiões isoladas da floresta, Plima, como era carinhosamente chamado, deixou legado para o mundo.
Em meados dos anos 2000, Paulo Lima chegou à Amazônia, com o desejo de contribuir para a vida de populações ribeirinhas. Era um sonho particular, poder diminuir as gigantescas diferenças sociais para quem mora distante dos centros urbanos. Do campo da Inclusão Digital desde o fim da década de 1980, Plima acumulava passagens pelo Ibase / Alternex, Secretaria Executiva da Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS) e, desde 2007 atuava na Coordenação de Inclusão Digital do Projeto Saúde e Alegria.
“Em nossa região implantamos cerca de 40 Telecentros Culturais (desde 2001, quando estava ainda na Rits) e hoje atuamos regionalmente com o Projeto da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, com 7 organizações do Acre, Pará e Amazonas. Estamos também coordenando ações de Telemedicina nos municípios de Santarém, Aveiro e Belterra. Temos muito interesse em contribuir no Conselho do FUST que vimos nascer lá em 2000 e que tanto lutamos para que fosse enfim aplicado para o que foi pensado”, escreveu o próprio, há menos de uma semana sobre sua trajetória.
Paulo Lima, historiador e Mestre em Recursos Naturais da Amazônia, era um apaixonado pela arte de ensinar. Atuava há treze anos como professor no Iespes, onde lecionava para os cursos de direito e jornalismo. Paulo, que também foi consultor da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), era também especialista em avaliação e gestão de projetos sociais. Com experiência na área de História, Sociologia Rural, Ciências Ambientais, Ciência Política, Redes Comunitárias e Comunicação Social, atuava com comunidades tradicionais, Amazônia, sociedade da informação, comunicação alternativa, história, sociedade civil e movimentos sociais.
Estava animado com o projeto de inclusão digital que havia iniciado recentemente, o Conexão dos Povos da Floresta, dos Mundurukus ao baixo Tapajós, que levaria conexão de internet para populações indígenas e ribeirinhas da floresta. De sorriso fácil, era um defensor dos direitos humanos e da equidade. Buscava nos projetos executados por ele, garantir participação social e valorizar os anseios das comunidades beneficiárias. Era querido em todos os lugares que passava.
Histórico de inclusão digital na floresta
O Programa de educação, cultura e comunicação tem por objetivo ampliar as oportunidades de aprendizagem para contextualizar a população em seu meio, universalizar saberes, fortalecer identidade cultural e possibilitar o acesso a novos conhecimentos e tecnologias, a fim de formar cidadãos confiantes e autônomos, capazes de gerir suas comunidades, defender seus territórios e direitos fundamentais.
Dentre as ações foram implementadas entre 2023 e 2024 pelo PSA, se destaca a instalação de 43 pontos de acesso a internet por meio de antenas satelitais que promovem acesso à comunidades, aldeias, Unidades Básicas de Saúde (UBSF) para operar telemedicina e agilizar atendimentos médicos à moradores dessas regiões.
Também foram realizados cursos de capacitação, a exemplo do curso de mediadores digitais que formou 38 jovens e líderes comunitários em inclusão digital, ampliando conhecimentos sobre o uso consciente e educativo da tecnologia para promover a autonomia digital das comunidades. A iniciativa liderada pelo Projeto Saúde e Alegria – PSA fez parte das capacitações planejadas pela Escola Floresta Ativa, lançada em Santarém, com ênfase no fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade e no acesso às novas tecnologias.
Como braço de formação das ações do PSA, a Escola Floresta Ativa tem “a proposta de capacitar a juventude em relação a essas temáticas que unem tecnologia e a realidade socioambiental das comunidades. Fazer uma inclusão digital de fato, porque não basta promover o acesso, mas sim facilitar os usos sociais, culturais e econômicos nos potenciais das comunidades”, ressaltou Pena.