Localizada na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, a aldeia Solimões passou a transmitir informações durante a programação local com notícias comunitárias, músicas e boletins. A região integra o projeto Conectando os Desconectados que no Brasil, é realizado pelo Saúde e Alegria e engloba cinco países coordenados pela Associação para o Progresso das Comunicações
“Estou muito feliz da vida. Eu pensava que não ia ver isso na minha aldeia” – contou emocionada a pajé da aldeia Solimões, Maria Suzete durante a primeira transmissão da rádio comunitária da região. Solimões possui 55 famílias e 185 habitantes que agora podem se comunicar através de ondas de Frequência Moduladas (FM) no raio de um quilômetro.
Com a potência de 15 watts, a rádio instalada no último sábado (23/04) é a realização de um desejo antigo das famílias da etnia Kumaruara que agora sintonizam na 88.0 FM, contou o Presidente da Associação da aldeia de Solimões Jardson Assunção: “É um prazer enorme receber essa rádio comunitária na nossa aldeia. Nós começamos com jornal no ano de 2004 com o Saúde e Alegria que sempre nos deu apoio na comunicação”.
A aldeia abriga a Escola indígena da Aldeia Solimões, Nossa Senhora das Graças que oferta educação infantil até o nono ano e o ensino modular indígena. No educandário, desde crianças, os pequenos são estimulados ao uso de tecnologias para defesa do território. Para a gestora da unidade, Aurenice Fernandes, integrar a iniciativa possibilitou a realização do sonho antigo dos moradores: “Era o nosso sonho ter uma rádio comunitária. Nós temos vários jovens que já trabalharam com rádios comunitárias em outras comunidades” – disse.
Antes de instalar os equipamentos: mesa de som, dois microfones, cabos, fones de ouvido, suporte para microfone, caixa e retorno e transmissor FM 15 watts com antena, o técnico Juscelino Filho realizou Oficina de Gestão Comunitária e Rádio Comunitária.
Na formação refletiram sobre comunicação, contexto das rádios comunitárias no Brasil, monopólio midiático, redes sociais e comunicação, liberdade de expressão e as fake news, cidadania, programação da rádio e roteiro e critérios para escolha do grupo responsável pela rádio. O momento alto do encontro foi a transmissão do primeiro programa ao vivo da Rádio Comunitária FM de Solimões: “Esse é o momento de celebrar o termo de doação” – comentou Juscelino.
Redes Comunitárias
O projeto “Conectando os Desconectados” promovido pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria, tem como pilar de formação e treinamento a Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, que busca conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy e mobilização comunitária.
A escola terá 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará). As aulas iniciam no mês junho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes comunitárias envolvidas.
As comunidades selecionadas que possuem integrantes que participarão da formação são: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.
O conselho de especialistas é formado por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).
“Esse projeto busca fortalecer iniciativas de comunicação comunitárias como rádios comunitárias, telecentros, pontos de acesso à internet público e gratuito nas comunidades para um uso melhor e mais qualificado para saúde, educação e agricultura familiar. Indica um acúmulo de experiências do PSA, onde essas comunidades farão intercâmbio com outras instituições que integram o projeto na Amazônia. Esse projeto faz parte de uma iniciativa executada em cinco países, apoiado pela Associação Para o Progresso das Comunicações” – esclareceu o coordenador do PSA, Paulo Lima.