Documento vai ser encaminhado a representantes governamentais para atuar na questão emergencial que já afeta a região
O Seminário ‘Crise Climática e as ameaças à Segurança Alimentar’ foi realizado no dia 29 de julho, e reuniu lideranças de nove regiões. São elas: Eixo Forte, Curua-Una, Ituqui, Várzea, Tapajós, Arapixuna, Arapiuns, Santarém-Cuiabá e Lago Grande. Representantes desses territórios discutiram os impactos da seca em diversos setores, incluindo a produção familiar que é a base alimentar dessa população, e apresentaram soluções para elaboração de políticas públicas para atender a questão emergencial.
“Nós fizemos um resgate do que foi a crise no ano passado. Mas, é também colocado essa antecipação da seca dos rios, das dificuldades de produção, o sol escaldante e a falta de efetivação de políticas públicas. Para que possamos, pelo menos, amenizar esse sofrimento” disse Maria Ivete Bastos, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém.
“Essas políticas públicas não só de assistência emergencial, que são importantes também, mas cada vez mais com que essas políticas possam pensar na adaptação mesmo a essa nova realidade, porque a gente não está falando mais de uma coisa que vai acontecer. Já está acontecendo, ano passado já teve essa crise hídrica que afetou os transportes, afetou a produção, afetou a saúde das comunidades, a limitação de acesso à água, por exemplo. Então é importante sim pensar em medidas emergenciais, mas é importante também pensar em políticas públicas estruturantes para que cada vez mais essa convivência com essa nova realidade possam ser tratadas via essas políticas públicas” ressaltou Fabio Pena, Coordenador de Educação e Comunicação do Saúde e Alegria.
Entre os efeitos apresentados estão a dificuldade no acesso as comunidades, aumento no valor do transporte terrestre e aquaviário, que impacta no escoamento da produção da agricultura familiar e na locomoção para resolver questões básicas na zona urbana. Outro aspecto apresentado pelas comunidades são as consequências na saúde, e os impactos no transporte de profissionais e pacientes, abastecimento de medicamentos e insumos, e no socorro de urgência. Estácia Oliveira Fernandes, liderança da Comunidade Jatequara, da Região do Tapajós na RESEX Tapajós-Arapiuns participou e afirmou “Diante dessa seca, desse clima, nós já estamos sentido as dificuldades. É no transporte, no acesso à água, que já estamos sentido falta e os microssistemas estão secando. No nosso trabalho, na roça, pra faer o nosso roçado já estamos com dificuldade”.
“O objetivo maior é que nessa conversa, é que a gente consiga colocar no documento aquilo que na nossa visão vai ajudar os agricultores, os trabalhadores, as famílias a melhorar essas condições de vida e sua maneira de produção também. Para ter alimento saudável pra abastecer o mercado, mas acima de tudo o consumo da família” pontuou Ricardo Aires, liderança da Comunidade Membeca, da Região do Arapixuna.
O Seminário foi promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém (STTR) com apoio do Projeto Saúde e Alegria (PSA), Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR), Federação do PAE-Lago Grande, Federação do Eixo Forte, Movimento Tapajós Vivo, Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Sapopema, Federação de Assistência e Formação Popular e Federação dos Agricultores do Estado do Pará.
“Esse esforço de discussão em torno da temática é super importante, e nós estamos acompanhando esse processo na região, discutindo com as comunidades e a gente avalia que é momento de estar juntos, com todos os parceiros, discutindo a situação e encontrando soluções para buscar saídas pra apoiar a população” enfatizou Antônio José Mota, coordenação da Sapopema.
O evento contou com a participação de representantes governamentais que ouviram as demandas de comunidades da região, participaram: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Ufopa, Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Ministério da Integração Social, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Ministério da Pesca e Aquicultura.
CONSTRUÇÃO DAS PROPOSTAS
O Seminário ‘Crise Climática e as ameaças à Segurança Alimentar’ reuniu os impactos causados pela crise em toda a região, uma forma de promover a participação dessa população na elaboração de políticas públicas e nas medidas emergenciais. Por isso, foram apresentados os danos causados pela crise climática que puderam ser observados na seca de 2023 e seguem afetando as comunidades.
Em seguida, representantes governamentais puderam esclarecer as políticas já implementadas na região e questionar as populações sobre as necessidades que ainda afetam os territórios. As comunidades se dividiram em nove regiões para elaborar as principais necessidades de cada área e propor soluções que amenizem os impactos das mudanças climáticas. Todos puderam debater e esclarecer os efeitos da seca, do calor, da falta de água, alimentação e acesso à saúde.
O último momento foi de apresentação das demandas de cada região e união desses impactos em um só documento. A carta de reivindicação foi assinada e enviada a representantes governamentais.
“A gente espera que, principalmente os poderes municipal, estadual e federal, estejam atentos em resolver esses problemas mais imediatos. Tudo que se espera é que tenha uma grande seca na nossa região, e principalmente as famílias interioranas são as que mais sofrem e que tem mais dificuldades no deslocamento, na escoação dos seus produtos, no atendimento à saúde” destacou João Carlos Dombroski, técnico do Programa de Organização Comunitária do PSA.