Pesquisa é resultado de TCC defendido pelas estudantes Leilane Guimarães e Lucélia Figueira, do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Ufopa
Em 2019, o Programa de Água, saneamento e energias renováveis do Projeto Saúde e Alegria, entregou microssistema de água movido à energia solar para trinta e quatro famílias da comunidade Arapiranga, localizada na Reserva Extrativista Tapajós e sistemas fotovoltaicos domiciliares para melhorar as condições de vida dos comunitários. As mulheres da aldeia, principais responsáveis pela gestão da água, relataram à época, como as instalações contribuíram para a saúde coletiva: “A gente bebia dessa água do Rio e tinha muito problema de saúde, diarreia, dor no estômago, esse tipo de alergias… Agora temos uma água de qualidade, uma água potável na torneira, toma banho, molha pequenas hortas. Facilitou muito a nossa vida” – Maria das Neves.
O protagonismo da mulher indígena na tomada de decisão sobre recursos hídricos chamou a atenção das estudantes Lucélia Figueira e Leilane Guimarães (moradora da aldeia), que decidiram investigar as “Relações de Gênero e gestão da água entre os indígenas da etnia Arara Vermelha, da Aldeia Arapiranga, Rio Arapiuns, Pará”. O TCC foi orientado pelo prof. Dr. João Paulo Soares de Cortes e coorientado pela Gestora Ambiental Sabrina Costa.
Um dos resultados do estudo foi a identificação de uma significativa melhoria na qualidade de vida, no quesito “acesso à água”, devido a instalação do microssistema de abastecimento. O impacto foi significativo, em especial, na vida das mulheres da aldeia.
“As melhorias das condições de vida estão associadas, principalmente com a chegada do microssistema de abastecimento de água, no ano de 2017 pelo Projeto Saúde e Alegria […] O acesso à energia elétrica ainda é baseado principalmente na presença de gerador elétrico, com ausência de iluminação pública, porém, hoje há, como alternativa, a presença de placas solares financiadas pelo PSA […] A implementação do microssistema de abastecimento atendeu a principal demanda citada durante o ano de 2012. Dessa forma, destaca-se o papel fundamental do Projeto Saúde e Alegria em prol do acesso ao abastecimento de água em comunidades e aldeias na região Oeste do Pará” – aponta o estudo.
O estudo foi publicado no livro Água e gênero: experiências e perspectivas – com principais referências em gênero e saneamento no país, e organizado pelos pesquisadores Fernanda Matos e Alexandre Carrieri, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“A gente viu que a mulher tinha uma importância na água. Mas na visão dos moradores elas não tinham. Mas tudo envolvia mulher; água para lavar, cozinhar, cuidar dos filhos. Em tudo a mulher estava envolvida. Elas queriam mais reconhecimento. Eu fiquei muito feliz. É uma conquista muito importante não só para nós mulheres, mas para as mulheres indígenas vê que o trabalho delas está sendo reconhecido em um livro importante no país” – relatou Lucélia Itayguara.
Para o Professor e orientador do estudo, João Paulo Cortes, a aproximação de duas pesquisadoras com o objeto, abriu portas para a investigação e contribuiu para a imersão em busca dos dados da pesquisa.
Sabrina Costa, coorientadora, ressaltou que graças aos investimentos do Programa de Água e Energias Renováveis do PSA, houve uma considerável melhoria na qualidade de vida das moradoras, suprimindo a necessidade de percorrerem distâncias para carregar água até as residências. “O recurso, desde essa época, vem direto na torneira. Isso, para as mulheres, significa mudança na qualidade de vida, pois elas desempenham funções diferentes dos homens, quando se trata do uso da água”.