Olhar para a floresta e tirar dela o sustento mas agredi-la. O conceito parece ser difícil de ser colocado em prática, mas em comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, mulheres se uniram para fortalecer a cultura e a renda de suas famílias aliadas à preservação da natureza. São elas as responsáveis por transformar fibras vegetais em peças que já ganharam o mundo e encantam pelas características únicas.
Mas nem sempre foi assim. Ainda em meados da década de 90, a tradição da cestaria com fibras vegetais – principalmente a de tucumã – estava se perdendo. Nascida na comunidade Urucureá, a artesã Rosângela Castro Tapajós lembra como foi feito o trabalho de resgate dos trançados do Arapiuns e o impacto que a produção local assertiva teve na vida de dezenas de mulheres.
“Eu conheci o Projeto Saúde e Alegria através do doutor Eugênio e da Márcia Gama, quando eles chegaram aqui na comunidade. Aí começou um trabalho de iniciativa e fortalecimento do artesanato”, contou a artesã.
O PSA atua desde 1987 em comunidades ribeirinhas e tradicionais de municípios do oeste paraense, promovendo e apoiando processos que contribuem no desenvolvimento comunitário e na sustentabilidade.
De um lado Eugênio Scannavino implantava projetos e ações voltados aos aprimoramento das políticas públicas e qualidade de vida das comunidades, de outro Sandra Gama ajudava os artesãos no resgate cultural, que à época tinha diversas barreiras, inclusive dentro do próprio território.
Segundo Rosângela, as peças eram feitas nas próprias casas dos moradores em núcleos familiares, mas no decorrer do tempo a confecção foi aprimorada em grupos mais amplos. Através de capacitações, oficinas, assessoria organizacional e estruturação, as mulheres encontraram o combustível que faltava para exportar as peças além das fronteiras das próprias comunidades.
“O Projeto Saúde e Alegria ajudou no fortalecimento do artesanato e fortalecimento das mulheres, trouxe os benefícios que até hoje a gente tem. Eles começaram com essa organização junto com nós e posso dizer que isso é fruto do PSA”, destacou.
O conhecimento antes restrito às casas passou a ser compartilhado aumentando a variedade nos formatos, cores e importância do artesanato. A matéria-prima sai da natureza, inclusive os pigmentos usados para colorir o que é produzido dentro da Resex. São cascas, folhas e raízes usadas para dar vida ao grafismo e a identidade das artesãs.
A primeira associação dos artesãos de Urucureá foi criada ainda nos anos 2000, possibilitando a abertura e exploração ampla de mercado. Com os resultados, o modelo de negócio passou a ser exemplo e reconhecido no Brasil. O Projeto Saúde e Alegria recebeu o Prêmio Cidadania e Iniciativas Sociais Inovadoras, do Banco Mundial, em 2002, e o Prêmio Nacional de Planos de Negócios da Ashoka-McKinsey, em 2005.
A iniciativa foi expandida para outras comunidades. Em 2015 surgiu a Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta (TuriArte), que conta com artesãos de comunidades da Resex Tapajós-Arapiuns.
“Hoje a gente já tem muitos frutos que são as comunidades que trabalham com o artesanato. Vivo do meu próprio artesanato e do meu próprio trabalho. A comunidade teve uma grande mudança porque eles trouxeram coisas que vieram beneficiar a todos”, disse Rosângela.
Outras iniciativas também são executadas dentro das comunidades, como o turismo de base comunitária, que se fortalece ao longo dos anos de maneira sustentável.
Para a artesã que viu o fortalecimento e desenvolvimento da comunidade Urucureá, sonhos se transformam em realidade a partir do momento em que há pessoas que se doam para alcançar objetivos. Esse pensamento norteou grandes avanços na comunidade, como o Telecentro de Inclusão Digital, mais saneamento e qualidade de vida, capacitações aos comunitários.
“Nós ainda temos um sonho e nós vamos conseguir, se Deus quiser, que é a nossa casa do artesanato, a nossa lojinha aqui na comunidade”, destacou a artesã.
• • • • • •
Essa é a terceira temporada da série ‘Eu sou Saúde e Alegria’ em comemoração aos 35 anos do Projeto Saúde e Alegria. Nesta jornada, são contadas histórias de vários amigos das comunidades em que o PSA atua, e que foram beneficiados com projetos de desenvolvimento socioeconômico, educação, comunicação e saúde.
• • • • • •
Captura e edição de vídeos e fotos: Priscila Tapajoara
Apresentação do podcast: @jessicakumaruara
Reportagem: @geovanebrit0
Mixagem: @raikpereira2019
Arte: @_vanessacampos
Coordenação editorial: @bonfimsamela
Coordenação Geral: @fabinhopena