Capacitação para manejadores e técnicos, abordou manipulação adequada de mel de abelhas sem ferrão. Curso prepara produtores para comercialização ao futuro entreposto do mel
Em fase de construção na sede da Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará, o entreposto do Mel será referência na comercialização de méis de abelha sem ferrão. Enquanto a obra segue, técnicos do Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria preparam produtores das regiões Ituqui, Resex Tapajós/Arapiuns, Tapará e Lago Grande.
Os meliponicultores tem a missão de abastecer o espaço, com produto de qualidade, conforme as regras higiênicas e sanitárias, estabelecidas pelo órgão fiscalizador. Em 2021, a portaria N°7554/2021 publicada no Diário Oficial do Estado, estabeleceu critérios para qualidade e requisitos para o mel de abelhas sem ferrão. O regulamento foi proposto à ADEPARÁ pelo Projeto Saúde e Alegria e virou política pública estadual.
Embora a meliponicultura represente uma importante atividade econômica aos povos da floresta, esta atividade ainda carece de regulamentação adequada. Desde 2020, têm-se buscado alternativas para promover a legalidade da atividade, que ajuda na segurança alimentar, garante renda, valoriza a cultura local, presta um importante serviço de polinização, e mantém a floresta em pé.
O Saúde e Alegria tem apoiado os meliponicultores na formalização que permite a comercialização no mercado formal. Para isso, está sendo construída a agroindústria onde o produto será processado, envasado e comercializado.
O desafio é organizar um sistema de produção que viabilize a comercialização do mel de abelha nativa no mercado formal, de maneira compatível com as características culturais, ambientais e logísticas da região. A proposta é construir coletivamente tecnologias e técnicas para a extração do mel, promovendo a segurança alimentar, conforme os padrões da vigilância.
“Estamos no processo de legalização dos produtores junto aos órgãos competentes. Hoje estão sendo trabalhados cadastros junto à Adepará e ICMBio. E vamos conseguir ter todos os produtores cooperados na ACOSPER com a atividade formalizada” – Marcio Santos, coordenador de ATER do PSA.
“É uma atividade que eles desenvolvem há mais de duas décadas, mas hoje com novos horizontes e novas fronteiras, buscando a regularização sanitária, ambiental, inclusão desse produto em novos mercados. Aqui é uma oportunidade de trocar informações, tirar dúvidas, ajustar o processo, escutar a opinião da Adepará, ouvir dos produtores se é um sistema que eles se sentem confortáveis, que eles gostam, sentem a vontade de praticar na rotina. A nossa ideia é desenvolver um sistema que seja compatível com a realidade local, e que possibilite que esse mel esteja de forma regular no mercado” – Jerônimo Villas Boas, consultor do PSA.
No período de 12 a 16/09, as comunidades Carão na Resex Tapajos/Arapiuns e Tapará Miri na várzea do PAE Tapará, sediaram a capacitação em manejo de abelhas sem ferrão. Foram cinco dias de intercâmbio prático visando a promoção de técnicas ao manejo das espécies canudo e jandaíra. Vinte e duas pessoas participaram da formação. Além dos manejadores e técnicos do PSA, representantes da Adepará, ICMBio e Acosper, estiveram no evento.
“É uma junção de vários elos. Os produtores estão recebendo caixas modernas, kits padronizados. Só vêm a contribuir para o fortalecimento dessa atividade. Uma parte do curso começou na Resex Tapajós Arapiuns e outra parte na região de Várzea, em Tapará Miri, onde estão sendo realizadas coletas de mel”, acrescentou Santos.
Meliponicultor há 7 anos, Benilson de Sousa da comunidade Nova Vista, região do Rio Arapiuns, foi um dos participantes. Ele pretende ampliar o número de colmeias depois que passou a receber o apoio do projeto: “Essa capacitação tem grande relevância pra mim porque me traz um conhecimento mais técnico para trabalhar dentro dos padrões de exigência pelos setores de regulamento da cadeia produtiva do mel”. Para o produtor, o conhecimento tem contribuído para a melhoria do sistema de criação, “multiplicando a minha produção. Antes a gente trabalhava com qualquer roupa, com menos higiene”.
João Lucivaldo Brito, da comunidade São José 1, região do Rio Arapiuns, explica que apesar de ter uma década de manejo, sem o acompanhamento técnico, era difícil conquistar novos mercados. “Com selo, a autorização vai ser muito importante. Eu já trabalhava na manipulação, mas não com toda essa tecnologia. A gente tinha esperança e um sonho de um dia alcançar esse objetivo. E hoje, vemos que esse trabalho está dando certo com higienização e qualidade do trabalho. É uma porta que se abre pra gente, pra que a gente possa trabalhar com qualidade, pra que a nossa renda melhore e tenha uma renda justa”.
O manejo racional de abelhas nativas sem ferrão tem proporcionado uma renda complementar significativa para a família de Joelma Lopes, de Carão, na Resex. Há quatro anos a atividade que demanda uma dedicação reduzida, tem oferecido serviços ambientais relevantes na polinização de espécies vegetais nativas. “Hoje nós podemos dizer que temos um produto de qualidade. Eu acredito que nós vamos ter mais oportunidades de comercialização. As abelhas são aliadas nossas. Se tratando da Amazônia, floresta. Ela é um inseto de principal importância na nossa vida. Ela é a responsável pela polinização das flores. São com elas que nós conseguimos mais frutos e sementes”.
Com apoio da Fundação KAS e Good Energies, o Projeto Floresta Ativa tem realizado as capacitações e entrega de kit compostos por baldes adequados para a coleta de mel, peneiras de filtragem e caixas padronizadas e adequadas para as abelhas sem ferrão, fomentando a cadeia. As entregas já iniciaram e objetivam implementar equipamentos adequados para extração do mel de forma correta.
“É uma coisa muito importante porque a gente vai poder trabalhar, coletar um mel de qualidade, melhorar a qualidade do nosso produto e a renda. Quando a gente recebe um material desse, com a capacitação prática, com certeza vamos ter um mel pra fornecer com qualidade” – Gracivane Moura, Tapará Grande.
“Vai ajudar muito na sustentabilidade das famílias, complementar a renda porque é uma coisa que a gente só faz colocar lá e elas que produzem. Os kits são muito úteis para nós por causa da higiene porque a gente sabe que tem que ter cuidado na higienização” – Antônio Pimentel, Tapará Grande.
Os meliponicultores cooperados da Acosper são das comunidades Pixuna, Santa Maria, Tapará Miri, Tapará Grande (Tapará), Quilombo Maria Valentina (Ituqui), Arapixuna, São Francisco e Bom Futuro (Lago Grande), Anã, aldeia Aminã, Atrocal, Mucureru, Nova Vista, Carão, Anumã, Santi, Pedra Branca, aldeia Solimões (Resex). Para a cooperativa que se prepara ao novo desafio, fortalecer esse trabalho é fundamental para garantir o sucesso do empreendimento, conta o Vice presidente da Acosper, José Maria de Jesus: “O foco é o mel da região. Estamos com o Ecocentro sendo construído e trabalhando com os cooperados para eles compreenderem o espírito do cooperado. Para ter uma agroindústria nós precisamos do produtor”.