Formação realizada pelo Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria a pedido das lideranças reuniu mais de 80 indígenas na Aldeia Waro Apompo, Rio Cururu, município de Jacareacanga
Conquistar segurança alimentar e econômica a partir da coleta de frutos de espécies manejadas de valor nutricional e comercial, como castanhas, copaíba, cumaru, assim como da produção de mudas, criação de abelhas sem ferrão, de galinhas e outros produtos da sociobiodiversidade são alguns dos anseios dos povos indígenas e tradicionais do Alto Tapajós.
Mais um passo foi dado entre os dias 9 e 12 de dezembro com a realização da 1ª Oficina do Coletivo Munduruku “Poy” com foco na estruturação da cadeia produtiva da castanha do Pará na região, com a participação de mais de oitenta indígenas representantes de 31 aldeias do Alto Tapajós.
É parte do Plano de Trabalho construído no Encontro/Oficina Agroextrativista de líderes ocorrido em novembro, quando foi criado o Coletivo Poy, definido um calendário preliminar de atividades, bem como acertada a assistência técnica inicial aos agroextrativistas através do Projeto Saúde e Alegria (PSA) com a extensão do Programa Floresta Ativa para o Alto Tapajós.
O objetivo da oficina foi realizar um diagnóstico participativo da cadeia produtiva da castanha na terra indígena Munduruku. A metodologia aplicada foi o DRP (Diagnóstico Rural Participativo), onde foi construída a linha do tempo para contextualizar a gestão e o uso de recursos naturais pelos Mundurukus. Também foram feitos mapas mentais para localizar os castanhais e outras áreas potenciais para a extração de outros produtos como a copaíba, andiroba e cumaru.
“A partir de construções coletivas, discussões em grupo e em plenária, foi realizada uma matriz situacional, com o intuito de identificar as fragilidades, desafios e possíveis conflitos internos e externos, ameaças e pressões que impactam negativamente o território mas também oportunidades que possam apoiar iniciativas sustentáveis e garantia dos recursos naturais para as próximas gerações”, explicou a engenheira florestal do PSA, Laura Lobato.
A oficina resultou na planificação da cadeia produtiva da castanha desde a coleta até a fase de comercialização, que servirá de subsídio para os próximos planejamentos de ações e intervenções do Projeto Saúde e Alegria junto ao povo Munduruku.
“Foi muito boa a oficina. A gente agradece a oportunidade que o Saúde e Alegria traz pra nossa organização pra que nós possamos ter a nossa força. A gente tem certeza que nós estamos levando esse projeto para nossa sustentabilidade, pra conservar o nosso território e a natureza”, conta o coordenador do coletivo de Castanha Munduruku Poy, João de Deus Kaba Munduruku.
Para fortalecer a estratégia de manejo da castanha, foram entregues Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) e insumos que serão utilizados pelos coletores de castanha na Safra de 2023.
Alternativas econômicas ao garimpo – antecedentes
Vinte e três aldeias mundurukus instituíram um Coletivo para atuar com produtos da sociobiodiversidade amazônica na região do Alto Tapajós na Oficina agroextrativista realizada nos dias 2, 3 e 4 de novembro junto com o Projeto Saúde e Alegria para levantar os potenciais produtivos da região e formas de organização, com vistas a estruturar alternativas econômicas ao garimpo, que gerem renda, valorizem as culturas locais e mantenham a floresta em pé, em meio a toda degradação, conflitos e consequências da mineração ilegal nos territórios indígenas.
A oficina na Escola Indígena de Waro Apompu reuniu 66 participantes de 23 aldeias. Durante os três dias de atividades, foram discutidas ações de mapeamento, coleta, plantio e capacitações regulares através do Programa de Assistência Técnica do Floresta Ativa do PSA. Um dos encaminhamentos foi a aprovação de um Coletivo que apoie a coleta da castanha, copaíba e cumarú, bem como a escolha da Associação Arikico como ente jurídico com CNPJ para atender aos requisitos legais para execução. Para o Coletivo que representa as 23 aldeias, foi instituída uma coordenação executiva e até a logomarca da iniciativa. Como definição da agenda de continuidade, decidiu-se por uma nova oficina, no período de 9 a 12 de dezembro, focada na cadeia da castanha e etapas a serem seguidas desde a coleta até a comercialização.
“É fundamental ter alternativas econômicas ao garimpo, mostrando que não se faz dinheiro só com ouro. O que a gente testemunha lá é que o ouro está beneficiando alguns poucos, e deixando a conta do estrago pra todo mundo pagar. Não se sabe pra onde vai esse ouro extraído de lá. Até porque se a gente olhar as sedes municipais, Jacareacanga por exemplo, se fosse um modelo de progresso, deveria estar 100% com saneamento, ruas asfaltadas, hospitais e escolas de primeira. Só que não, o que a gente vê é que o município está no andar de baixo dos indicadores sociais do país”, avalia o coordenador geral do PSA, Caetano Scannavino.