Os rios que dão sustento a centenas de famílias e que servem de estrada aos moradores das comunidades na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no oeste do Pará, trazem lembranças do encontro que transformou vidas e hoje contribui no desenvolvimento dentro do próprio território. No final de 1986, o agente comunitário de saúde Djalma Lima viu a equipe do Projeto Saúde e Alegria chegar de barco à comunidade de Suruacá.
Na bagagem, a organização levava propostas e sonhos, e foi o pontapé na fase de mudanças no cotidiano dos moradores. “Eles subiram na comunidade perguntando se aqui queriam uma organização que trabalhava com saúde, educação, agricultura, então fizemos uma reunião lá na primeira escola. A comunidade aceitou o Projeto Saúde e Alegria e desde lá eu conheço eles”, lembrou Djalma.
A partir daquele momento os moradores começaram a ter acesso às ações do PSA, organização que promove desde a década de 80 processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável em comunidades ribeirinhas, tradicionais e indígenas de Santarém, Belterra, Aveiro e Juruti.
Participante na vida da comunidade desde 1984, quando passou a morar em Suruacá, Djalma Lima não só viu os projetos chegarem como também arregaçou as mangas para integrar as equipes do PSA. A motivação foi fazer chegar os serviços básicos e melhorar a saúde dos comunitários.
A mudança para a comunidade foi desafiadora. O agente de saúde saiu do centro da cidade sem experiência sobre o modo de vida dentro da Resex, e, no começo, enfrentou dificuldades na garantia do sustento familiar. A economia vinha apenas da produção de farinha, e muitas vezes ver o vazio na mesa deixava o coração apertado. No entanto, isso não desanimou o recém-chegado morador.
Djalma foi um entre tantos outros moradores da Resex capacitados pelo Projeto Saúde e Alegria para atender aqueles que buscavam os serviços. Os trabalhos também foram voltados à produção familiar e aos frutos que a terra dava, implementando ações assertivas para melhoramento das culturas semeadas.
Algumas lembranças da época são marcantes como a quantidade de pessoas fumando e a noite revelando os cigarros acesos em meio a escuridão. Outra preocupação era quanto ao índice de adolescentes que ficavam grávidas na comunidade.
Inicialmente, Djalma ofertou ao PSA serviços de veterinária, mas para ele ainda faltava algo na missão de ajudar a transformar a realidade. “Eu precisaria fazer mais, trabalhar mais pelo povo, eu sentia uma obrigação de ter mais ação. Eu passei a ser monitor da saúde e então a gente começou a entrar no processo de palestras, oficinas, grupos de mulheres e de jovens. Eu senti que mexeu com a comunidade em geral porque quando o PSA chegava todos se envolviam mesmo”, contou.
Outra forma de ajudar os moradores foi quanto aos cuidados básicos no uso dos recursos como a água, destinação correta de resíduos e a importância do saneamento. A conscientização foi feita pelos informativos e rádio comunitária. “Tivemos vários profissionais que nos capacitaram. Quem foi beneficiada com tudo isso foi a própria comunidade”, reforçou.
Ele participou no início das ações do saúde e alegria como monitor de saúde, grupo de voluntários criado pelo projeto, uma experiência pioneira de capacitação de agentes das próprias comunidades para cuidados com a saúde, muito antes de existir o que conhecemos hoje como o programa de de Agentes Comunitário de Saúde – ACSs do SUS.
O envolvimento com o PSA sempre foi base para o trabalho do agente de saúde. Seja nas orientações, nas rodas de conversa, grupos comunitários, Djalma leva informações para melhorar o dia-a-dia das pessoas.
Tendo como referência o médico sanitarista Eugênio Scannavino, o ACS recebeu treinamento teórico e prático, capacitações, além de participar de oficinas em diversas áreas. O conhecimento não ficou para ele, foi compartilhado para outros moradores. “Quando vi o PSA eu disse que era a minha chance de aprender a lidar com a comunidade e conseguir alguma coisa”.
As incontáveis experiências de Djalma perpassam também pela ludicidade, com a criação do Palhaço Formiga que atuou no Circo Mocorongo. O personagem abordava questões de saúde consideradas tabu na época, como o uso de preservativo e as infecções sexualmente transmissíveis. Essa foi a forma encontrada para romper barreiras.
“Eu podia transmitir a educação através do palhaço. As pessoas eram muito mentes fechadas então o meu palhaço começou a trabalhar nas escolas, na comunidade, com essas peças que ajudaram muito”, relembrou.
Em 2003, houve a implantação do primeiro Telecentro de Inclusão Digital dentro da Resex. A construção do prédio e o acesso à internet foram feitos pelos moradores de Suruacá. Djalma conta que trabalhou como monitor no período da noite.
As mãos que já ajudaram a aplicar vacinas, a https://saudeealegria.org.br/wp-content/uploads/2023/02/Criancas-com-Saude-e-Alegria-3-scaled-1-1.jpgistrar remédios e a arar a terra também são responsáveis pela confecção de artesanatos. A voz que narrou jogos esportivos nas comunidades também já fez ecoar informações educativas, inclusivas e participativas no rádio. Como uma árvore de frutos abundantes, Djalma segue trabalhando para fortalecer ainda mais a comunidade e suas pautas. “Já espalhei sementes por vários lugares. Eu me considero um multiplicador do PSA e dos bons”, entre risos disse o morador de Suruacá.
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Terceira temporada do podcast da série ‘Eu sou Saúde e Alegria’ em comemoração aos 35 anos do Projeto Saúde e Alegria. Nesta jornada, são contadas histórias de vários amigos das comunidades em que o PSA atua, e que foram beneficiados com projetos de desenvolvimento socioeconômico, educação, comunicação e saúde.
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Captura e edição de vídeos e fotos: Priscila Tapajoara
Apresentação do podcast: @jessicakumaruara
Reportagem: @geovanebrit0
Mixagem: @raikpereira2019
Arte: @_vanessacampos
Coordenação editorial: @bonfimsamela
Coordenação Geral: @fabinhopena