Com mais de cinquenta sistemas de água implementados em áreas isoladas da floresta amazônica, o Projeto Saúde e Alegria tem inspirado iniciativas também de outras regiões, melhorando as condições sanitárias para populações indígenas e ribeirinhas
Contrastando com a realidade urbana do município de Santarém, listado nesta semana como o terceiro pior no Ranking Nacional do Saneamento Básico do Instituto Trata Brasil, cinquenta e duas comunidades ribeirinhas e indígenas da região Oeste do Pará comemoram avanços com construções de tecnologias de abastecimento e saneamento básico.
Até março de 2022, o Programa de Água e Saneamento do Projeto Saúde e Alegria (PSA) implementou 52 sistemas de abastecimento, destes 34 com bombeamento híbrido (solar-diesel). Foram perfurados 204 poços que beneficiam mais de 15.000 pessoas em 60 comunidades.
O saneamento básico sempre foi uma preocupação do PSA, que ainda na década de 80 identificou através de seu médico fundador, Eugênio Scannavino, uma série de doenças ligadas à veiculação hídrica e falta de condições básicas de higiene em comunidades da Amazônia.
Somente através do Programa Cisterna, o PSA construiu 757 banheiros para famílias do PAE Lago Grande, Várzea, Flona Tapajós, Resex Tapajós-Arapiuns, PAE Montanha Mangabal, aldeias Munduruku, entre outras das zonas rurais dos municípios de Santarém, Itaituba e Belterra.
“Traz esperança de mais saúde, mais higiene pra nós. Por isso a gente está muito feliz por esse projeto ter trazido esse trabalho pra nossa aldeia” – conta o Cacique Domingos da aldeia Bragança, uma das beneficiadas com a construção de banheiros em 2020.
Os banheiros tem auxiliado na melhora do saneamento básico na região. Com uma estrutura fixa, mudaram consideravelmente a rotina das famílias que usavam espaços improvisados no quintal. “Banheiros completos, com placa de concreto, piso com lajota, sanitário, descarga, pia, chuveiro e a fossa em baixo do sanitário” – ressalta o Coordenador de Acesso à Água e Energias Renováveis, Davide Pompermaier.
Com a marca de mais de quinze mil pessoas beneficiadas, reduziram drasticamente os índices de contaminação de veiculação hídrica nas comunidades e aldeias, sobretudo diarreias e desidratação, maior causa da mortalidade infantil na região.
Muitas das soluções construídas em parceria com as comunidades começam a ser aplicadas em outras regiões que enfrentam os mesmos problemas. ”A gente sabe que ainda tem enormes desafios nessa região do Baixo Tapajós, mas felizmente conseguimos encaminhar muita coisa, hoje com as comunidades já à frente dos empreendimentos. Estamos agora sendo demandados para levar essas soluções junto a outras regiões que precisam, inclusive com o apoio das comunidades daqui como multiplicadores desses conhecimentos” – afirma Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria.
As tecnologias de saneamento são um dos exemplos de modelos que vêm sendo replicados por outras iniciativas. Uma articulação do Projeto Conexão Água do Ministério Público Federal (MPF) e da Associação Xavante Etenhiritipá (AXE), com apoio da Embaixada do Canadá e assessoria técnica do PSA, resultou na construção de redes de distribuição com mais de 1,5 km de alcance, autogeridas, que levam água de qualidade às 590 pessoas das famílias indígenas.
Neste mês o Projeto Conexão Água foi selecionado para o 9º Fórum Mundial da Água, em Dakar. Ao todo, 126 projetos de todo o mundo foram selecionados para receber a marca. O objetivo foi apresentar projetos com real impacto econômico, social e ambiental na vida das populações.
“A gente via muitos óbitos de crianças em todo o território Xavante. O projeto foi aprovado e quando foi colocado em prática desde 2019, temos zero mortes de crianças. É água, saneamento que a gente implantou com o apoio do Projeto Saúde e Alegria” – comemorou o cacique da aldeia, Jurandir Siridiwe Xavante.
Para Caetano Scannavino, os resultados apontam um fato inédito em um local até então com taxas de mortalidade infantil nove vezes maior que a média nacional: “Estamos muito felizes por termos ajudado na assessoria técnica desse projeto de saneamento, mas todos os méritos pros próprios Xavantes que se organizaram pra botar água de qualidade, banheiros e fossas, tudo autogerido por eles”.
Implementado há quatro anos, os índices são animadores. A redução de mortes foi de 100%. “Mais uma vez agradeço muito todo esse apoio que o Saúde e Alegria deu pra gente. Seguimos o quarto ano sem mortalidade infantil de veiculação hídrica” – contou Fernanda Reichardt, assessora da Associação Etenhiritipá.