Comunitários inventam tecnologias para facilitar produções agroextrativistas no PA

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Durante oficina de cocriação de tecnologias apropriadas, produtores familiares desenvolveram protótipos para quebrar cumarú, secar sementes de andiroba, fermentar sementes de cupuaçu e coletar mel com mais agilidade

A região do Eixo Forte foi laboratório de invenções no período de 10 a 15 de outubro. Agroextrativistas da várzea, Flona Tapajós, PDS Igarapé do Anta (PA Moju), STTR-Stm e ACOSPER criaram soluções tecnológicas para auxiliá-los na rotina. Durante o encontro, pensaram e executaram soluções para os problemas apontados por eles em diferentes cadeias de valor. O desafio para os moradores que vivem isolados do acesso às tecnologias movidas a energia elétrica, foi o de pensar o que necessitam e de que maneira o instrumento poderia ser construído.

A oficina é uma atividade do Instituto Invento com apoio do WWF-Brasil e contou com a participação de colaboradores de instituições de base comunitária. O objetivo foi criar tecnologias apropriadas de baixo custo como estratégia de geração de renda para as comunidades tradicionais e conservação da floresta em alternativa as atividades econômicas, como garimpo e exploração ilegal de madeira. São parceiros locais o Projeto Saúde e Alegria, STTR-Santarém, ICMBio, Ematerm Sapopema, Cita, FOQS e Ufopa.

Protótipo de secador de andiroba passará por fase de testes, visando utilização nas comunidades. Fotos: Pedro Alcântara.

A ideia é gerar alternativas econômicas ao garimpo ilegal, melhorar a qualidade de vida e renda dessas comunidades por meio de atividades que são saudáveis ao meio ambiente. As tecnologias não são feitas para os beneficiários. Elas são feitas com os beneficiários. A gente ensina a metodologia de design de produtos, máquinas e ferramentas para trabalhar com as tecnologias que são adaptadas ao contexto e a cultura local”, explicou o diretor executivo do Instituto Invento, Odair Scatonili Jr.

Essencial na medicina alternativa, no tratamento de doenças e na produção de essências, quem vê e usa o óleo da andiroba, muitas vezes nem imagina o esforço no processo de produção. Da coleta à comercialização, há muitas etapas que exigem dedicação do agroextrativista. Adilson Pereira da cooperativa Renascer, comunidade São Domingos, que o diga. Produtor experiente, aproveitou a oportunidade para pensar numa forma de melhorar a produção. “É uma demanda que a gente tem para produzir óleos. A nossa ideia é criar um instrumento que venha aproveitar 100% das sementes. Essa oficina a gente está reforçando os conhecimentos que a gente tem para melhorar a nossa produção”.

Elizangela Mafra do STTR-STM, reforça que o lucro da atividade fortalece a renda familiar, conciliando os interesses econômicos com a manutenção da floresta em pé. “Estamos em busca de mais conhecimento para melhorar o uso da andiroba. Quem faz manual, a gente perde muito. De tudo da andiroba a gente aproveita. Então quanto mais conhecimento a gente tiver, mais a gente vai ter recursos e poder ir muito mais além”.

Quem maneja mel de abelhas sem ferrão, tenta otimizar o tempo da colheita do produto. Edno Sousa, secretário da Acosper, diz que a entidade tem apostado na capacitação de meliponicultores para abastecer o futuro entreposto do mel. “Buscamos conhecimento para levar para os produtores. Tecnologias que possam ajudar os nossos produtores a produzir mais rápido”, conta.

Na roça quem planta milho sofre na etapa do debulhamento. Uma das soluções apresentadas foi um debulhador que agiliza o processo, comentou a agricultora Luzanira Pereira da região da PA Curuá Una, “eu aprendi a fazer debulhador de milho e usar outras ferramentas. Dá pra fazer o que eu aprendi aqui, na minha casa”.

Quatro protótipos de tecnologias foram criados: quebrador de cumarú, secador de sementes (andiroba, cupuaçu, urucum, cumarú), fermentador de semente de cupuaçu e  coletor de mel com mais agilidade. As tecnologias passarão por testes e serão refinadas para as próximas duas oficinas realizadas em novembro e em 2023.

O objetivo da primeira foi desenvolver algumas tecnologias junto aos comunitários. Trabalhar principalmente quatro cadeias cupuaçu, cumarú, andiroba e meliponicultura que são as cadeias que o Ecocentro vai atuar. Facilitar o processo de secagem para a andiroba já vai aumentar a lucratividade para o produtor familiar e o Ecocentro, por exemplo” – explicou a engenheira florestal do Programa Floresta Ativa, Maria Soliane.

O Projeto

O projeto Bengo Indígena tem como parte de seus objetivos fortalecer as cadeias de valor associadas aos produtos da socio biodiversidade, como estratégia de geração de renda para as comunidades e conservação da floresta em alternativa as atividades econômicas, como garimpo e exploração ilegal de madeira. O componente de Inovação Social do projeto tem como objetivo a identificação de gargalos tecnológicos e o desenvolvimento, junto com as comunidades, de soluções que contribuam para o fortalecimento destas cadeias de valor.

O Instituto Invento é uma organização social especializada na co-criação de tecnologias adaptadas de impacto socioambiental. E vem desde 2017 colaborando com organizações e comunidades da Amazônia e do Cerrado na busca de soluções tecnológicas para os problemas identificados por elas mesmas. Neste período foram desenvolvidos mais de 40 protótipos de soluções relacionadas a desafios de diferentes cadeias de valor de relevante interesse de comunidades e organizações de agricultores.

O Invento trabalha com uma metodologia de desenho e co-criação de tecnologias chamada CCB – Creative Capacity Building, desenvolvida pelo  D-Lab/MIT no contexto da IDIN, rede da qual fazemos parte. Em 2019, em parceria com o PSA e WTT, o instituto realizou no CEFA uma oficina de co-criação de tecnologias apropriadas, usando esta metodologia.

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