Unidade hospitalar fluvial foi adquirida em 2011 pelo Projeto Saúde e Alegria e repassada na forma de comodato à Prefeitura de Santarem para atender à região do Arapiuns;
Retorno das atividades do Barco Hospital Abaré II foi definido em reunião entre Conselho Municipal de Saúde, Projeto Saúde e Alegria, Secretaria Municipal de Saúde e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém nesta quarta-feira (18).
Sem navegar há aproximadamente quatro anos, a embarcação destinada aos atendimentos nas comunidades da Região do Rio Arapiuns necessita de reparos estruturais e instalação de equipamentos para atendimentos em saúde. Para os moradores que eram assistidos nessas comunidades, a falta do serviço tem prejudicado a saúde ribeirinha, relatou Maria Valdeise, liderança na Comunidade Mentae da região do Arapiuns: “A dificuldade é que nós não temos médicos… Pessoas com picadas de cobra e a gente muita das vezes tem que fretar barco por falta do Abaré e não termos o soro antiofídico”.
Para retomar os atendimentos, o Barco Hospital terá a estrutura reformada e receberá instrumentos para ampliar os serviços em saúde. Serão oferecidas consultas médicas, de enfermagem, odontológicas e exames laboratoriais.
“É mais uma ferramenta da saúde pública para atender a saúde básica das populações do Arapiuns. Esse Barco Hospital Abaré II é de propriedade do Saúde e Alegria repassado à Semsa com a condição de que seja um barco a serviço das populações ribeirinhas do Arapiuns. Eu saio da reunião bastante otimista. Existem recursos financeiros para iniciar a revitalização o mais rápido possível, a equipagem, complementação atualizando a tecnologia para ofertar mais serviços como um laboratório remoto para exames de fezes e urina” – disse o coordenador do PSA, Caetano Scannavino.
Para agilizar a revitalização, foi montado um grupo de trabalho com membros do Conselho Municipal de Saúde, Projeto Saúde e Alegria, Secretaria Municipal de Saúde e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém: “Esse GT será composto por dois representantes de cada instituição para que a gente possa discutir orçamento, cotação, licitação. O nosso foco principal é contribuir para que a população do Arapiuns receba de volta o Barco Hospital Abaré” – enfatizou a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Gracivane Moura.
Para execução dos serviços, serão aplicados recursos oriundos de emenda parlamentar e do Projeto Salvando Vidas do BNDES para diferentes serviços na embarcação: “A Semsa ficou com a responsabilidade de adquirir os equipamentos. É uma emenda do Deputado Airton Faleiro, determinada para esse investimento. Então a gente pode fazer reformas, construções, ou compra de equipamento permanente. A Semsa vai comprar os equipamentos” – explicou Rosalina Bentes, coord. do planejamento da Semsa.
“O recurso já está na conta e na fase de licitação para custeio, ou seja, compra de materiais de equipamentos para a unidade de saúde Abaré II” – Manoel Edivaldo, presidente do STTR.
Abaré, modelo de saúde pública
O Barco hospital virou política pública na Amazônia e no Pantanal em 2010, quando o governo federal lançou a estratégia de Saúde da Família Fluvial, e tornou o modelo navio-hospital uma política com abrangência para as duas regiões. Com estrutura adaptada à realidade amazônica, o navio-hospital Abaré começou a navegar nas águas do Rio Tapajós em 2006 através do Projeto Saúde e Alegria (PSA), em parceria com as prefeituras locais e com apoio da ONG holandesa Terre Dês Hommes (TDH), então sua proprietária. Nesse primeiro contato, foram aproximadamente 15 mil ribeirinhos de 72 comunidades das áreas rurais dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro que passaram a ter acesso regular aos serviços básicos de saúde, com visitas a cada 40 dias, percorrendo longas distâncias e chegando em locais praticamente excluídos da rede pública.
Com 93% de resolutividade – apenas 7 a cada 100 pacientes sendo encaminhados para os centros urbanos- a exitosa experiência tornou-se objeto de estudo do Ministério da Saúde, para então lançar em 2010 a política de Saúde da Família Fluvial para levar, através de barcos de atendimento, serviços regulares de saúde e prevenção para brasileiros que vivem em locais isolados.
A partir dela, o ministério faz repasses federais diretos aos municípios da área de abrangência, que giram em torno de um milhão e cem mil reais anuais por embarcação. São destinados para uso exclusivo das unidades de atendimento no apoio às despesas com combustíveis, medicamentos, tripulação, equipe médica, entre outras necessidades.
“Desde que a iniciativa do Abaré inspirou o governo e virou política pública, os municípios passaram a ter melhores condições para implementar e replicar essa experiência que a gente começou no Tapajós. Com esse apoio garantido, entendemos que nossa missão foi de certa forma cumprida. Repassamos então a gestão do Abaré para as Prefeituras, focando nosso trabalho no apoio às ações complementares, no controle social, e na disseminação do modelo, a começar pela aquisição de uma segunda embarcação, o Abaré II, também repassada para a Prefeitura atender ribeirinhos das outras regiões do município“ – explicou o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.
“A frequência é obrigatória. O barco precisa estar 21 dias por mês em campo, retornando para o mesmo local a cada 60 dias e mantendo um acompanhamento regular dos pacientes. As comunidades devem ter o calendário com antecedência para saber o dia que o barco estará, assim os agentes locais de saúde organizam a triagem. Essas regras que foram coisas que a gente começou a desenvolver em termos de operacionalidade do Abaré acabaram virando condicionantes para que os municípios continuem recebendo mensalmente essa verba. Apesar dos avanços, há ainda muitos desafios.” – complementou.