A Conselheira da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia Beá Tibiriçá falou sobre a cultura do acesso livre e importância do incentivo ao uso;
O Software livre permite que o usuário modifique e redistribua um programa de computador ou aplicativo de celular conforme suas necessidades. É um dos princípios básicos dessa cultura, possibilitar que o internauta seja livre para reconfigurá-lo a partir de sua demanda. Essa modalidade é um estilo de vida para Beatriz Tibiriçá diretora do Coletivo Digital de São Paulo. A especialista é uma das conselheiras da Escola e traz na bagagem, experiências em projetos de informática e cultura digital em diversas esferas: universidades, governos, organizações da sociedade civil e iniciativa privada.
Tibiriçá, professora há 17 anos, atua com Cultura Livre e Inclusão Digital Uma parte importante de todo trabalho que ela faz está no uso e no incentivo ao software livre.
Em uma conversa didática para o Programa Alô Comunidade, Beá falou sobre o impacto do uso do software por comunidades rurais, indígenas, quilombolas e a necessidade de acesso em áreas remotas. Confira a entrevista:
Beá, o que é software livre e qual a sua importância para a sociedade?
Pense assim: Você tem que dar um jeito de ter um bolo para comer na hora do lanche. Você pode comprar um bolo que já vem pronto, fatiá-lo e comer. Ou você pode fazer você mesmo um bolo com a receita que a sua avó ensinou. Colocar pra assar e fatiar pra comer. Do bolo que você comprou, não sabe a receita, o que tem mesmo no bolo ou se estão te enganando. E vai pagar caro pra comer um bolo que você nem pode dar um toque seu pra ficar mais gostoso.
Com software livre é a mesma coisa. Você pode comprar um programa de computador ou um aplicativo das grandes corporações, que são proprietárias. Você vai pagar pra usar, sem saber como é, como foi feito, como entra no seu computador, o que fazer se ele parar de funcionar. Com Software livre você tem um programa que sabe o que ele faz, o que tem dentro, pode mudar, mais sujeito ao que você precisa fazer, adaptar ao seu uso e pode compartilhar com outras pessoas.
Como o Software Livre pode apoiar as atividades desenvolvidas por lideranças comunitárias em seus territórios?
A partir do momento em que você escolhe usar software livre, você tem uma comunidade no mundo inteiro que está em volta daquele projeto, para aperfeiçoar para fazer com que ele tenha o melhor funcionamento possível. Com base naquilo que você vai fazer no seu território, adaptar de forma que funcione da melhor forma possível.
Beá, é muito importante falar sobre inclusão digital. Aqui na Amazônia há uma expressiva parcela das comunidades que vivem num contexto de exclusão. Você acha que é possível reverter esse cenário?
Depois da pandemia ficou bastante evidente que a questão da falta de acesso a rede mundial de computadores, muita gente teve que se virar, pra conseguir acompanhar as aulas, como o caso do estudante que teve que assistir aula da árvore para conseguir sinal de internet. Isso não é um problema de cada um. Nós temos direito a ter acesso à internet, para desenvolver nossas habilidades no mundo digital. Ela traz um mundo novo, coloca outros instrumentos e possibilidades de ação. E temos que brigar por inclusão digital, acesso a internet. Tem que ser como cesta básica, é direito seu.
Por fim, gostaria que você falasse um pouco sobre sua expectativa em integrar a rede.
É uma grande alegria, uma honra enorme fazer parte do conselho da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. Essa proposta coloca pra frente uma ideia que nós sempre carregamos, nós temos que ter as nossas redes. Controlar tudo aquilo que seja divulgado, acumulado como conhecimento.
Ouça a entrevista:
A Escola de Redes Comunitárias da Amazônia
A Escola é parte da iniciativa global “Conectando os Desconectados”, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria.
O objetivo do projeto “Conectando os Desconectados”, do qual escola é o pilar de formação e treinamento, é buscar conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy, e mobilização comunitária.
A escola, que está na fase de planejamento, terá 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará). As aulas iniciam no mês junho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes comunitárias envolvidas.
As comunidades selecionadas que possuem integrantes que participarão da formação são: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.
O conselho de especialistas é formado por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).