Sistemas de abastecimento em aldeias mundurukus que sofrem com contaminação dos garimpos diminuem taxas de mortalidade e doenças de veiculação hídrica

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Em maio de 2021, oito aldeias Munduruku do Médio Tapajós foram beneficiadas com banheiros e sistemas de captação, distribuição e tratamento de água, melhorando as condições sanitárias e diminuindo os índices de contaminação. Em fevereiro deste ano, o  DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio Tapajós) assinou um termo de  cooperação assumindo a manutenção das tecnologias sociais de saneamento;

Nove meses após a instalação de sete sistemas de água e saneamento que beneficiam diretamente 105 famílias de oito aldeias mundurukus do médio Tapajós, os resultados já apontam uma significativa redução no percentual de ocorrências e mortes por doenças de veiculação hídrica.

São sete aldeias beneficiadas – Sawré Jauby, Datie Watpu, Sawré Muybu, Sawré Aboy, Dajé Kapap, Karo Muybu, e Poxo Muybu – todas fortemente impactadas também pela atividade garimpeira, uma região afetada pela extração ilegal do ouro desde a década de 80.

“De lá pra cá, a cor da água foi mudando. Ficou mais suja, e a gente também percebeu que não podia mais banhar no rio como antes porque dava aquela coceira no corpo por causa da água suja” – lamenta o Cacique Juarez, da Aldeia Sawre Muybu.

O depoimento confirma o que revelam os dados de um estudo liderado pela Fiocruz: nove em cada dez participantes apresentaram alto nível de contaminação. As crianças também são impactadas: cerca de 15,8% delas apresentaram problemas em testes de neurodesenvolvimento.

Preocupado com a situação dos indígenas, o Projeto Saúde e Alegria vem desde 2020 empreendendo esforços para apoiá-los com investimentos para melhoria dos serviços de saúde básica, incluindo também medidas de combate à covid-19.

Em maio de 2021, cento e cinco sistemas foram construídos em caráter emergencial e mobilizaram uma complexa logística com caminhões e balsas no transporte de materiais para construção de banheiros com fossas sanitárias para cada família, sistemas de bombeamento de água, de captação das chuvas, de distribuição através de redes hidráulicas até as casas, entre outras tecnologias sociais, como parte das metas do Programa Cisternas implementado na região pelo PSA.

Tecnologias sociais de acesso à água possibilitam qualidade de vida às populações mundurukus. Foto: Caetano Scannavino.

As construções contaram com as parcerias ASPROC (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), co-executora das obras, envolvendo ainda a FUNAI, o DSEI-Tapajós, e a Associação Pariri dos Povos Munduruku. O processo de construção durou cerca de cinco meses, priorizando a mão de obra local através da contratação e capacitação dos moradores das próprias aldeias, principalmente os jovens indígenas.

Os sistemas possibilitaram uma considerável redução no número de ocorrências de contaminações, demonstrou um levantamento realizado pelo DSEI. Para a enfermeira Cleidiane Carvalho, coordenadora do DSEI-Tapajós, os números reforçam a necessidade de se investir em saneamento básico nos territórios e a importância das parcerias: “Fomos contemplados com os sistemas de abastecimento de água nas aldeias e módulos sanitários, que tem reduzido a taxa de doenças de veiculação hídrica. Essa parceria só tem ajudado o Dsei-Tapajós”.

Coordenador do PSA, Caetano Scannavino e enfermeira coordenadora do Dsei Rio Tapajós, Cleidiane Carvalho, exibem Termo de Cooperação assinado. Foto: Jussara Salgado/PSA.

Nesta semana, através da assinatura do termo de cooperação técnica, foi formalizado o repasse das tecnologias sociais de saneamento para a gestão do DSEI, que passa a responder pela manutenção das infraestruturas implantadas (banheiros, sistemas de captação, abastecimento e tratamento da água), juntamente com os agentes indígenas.

“Com isso, o DSEI assume a responsabilidade no apoio aos indígenas para a gestão, manutenção e sustentação dos sistemas, que sempre demandam reparos, ajustes, cuidados e insumos para as operações. Fizemos uma rodada pelas aldeias para esclarecer as responsabilidades e também revisar os equipamentos, tendo em vista que foram implantados a toque de caixa em meio a pandemia, para que pudessem enfrentá-la em melhores condições. Há necessidade de alguns ajustes, reparos e complementos, já identificados pelo DSEI, que seguirá contando sempre que possível com o nosso apoio para agilizar essas melhorias” – ressaltou o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.

Cada aldeia foi beneficiada com tecnologia de acesso a água, compostas por módulos familiares (cada um com reservatório de mil litros, elevado e calha no telhado para captação da água da chuva, pia de cozinha e banheiro), e módulos comunitários (3 reservatórios de 5 mil litros, elevado de madeira, tratamento simplificado de água, rede de distribuição, bomba submersa e grupo gerador).

Outros apoios 

Além dos sistemas de abastecimento de água e construção de banheiros, o PSA implementou outras tecnologias de bem-viver para os Mundurukus: 51 famílias das aldeias Sawré Jaybu, Dace Watpu e Sawré Muybu Munduruku foram beneficiadas com sistemas fotovoltaicos para bombeamento de água implantados com apoio da Fundação Mott, parceira do Projeto Saúde e Alegria.

Sistema de água é movido à energia solar na aldeia.

Visando promover atendimento laboratorial e farmacêutico para que os indígenas possam realizar exames na própria aldeia, foram encaminhados dois laboratórios em pontos estratégicos (Cururu e Karapanatuba) para dar suporte às equipes de saúde indígena, viabilizando exames de sangue, fezes, urina, entre outros, melhorando as condições in loco dos serviços básicos de atenção primária para aproximadamente 9 mil indígenas.

Somam-se ainda as ações da campanha #ComSaudeeAlegriaSemCorona, com entregas de kits higiene/proteção, cestas básicas  e materiais de pesca, de modo a reforçar a segurança alimentar e reduzir a necessidade de deslocamentos, evitando que saiam de suas aldeias e se exponham ao risco da contaminação por Covid-19. Neste mês de fevereiro, quase 1 mil cestas de alimentação foram entregues ao DSEI para distribuição junto às famílias indígenas em situações de maior vulnerabilidade, apoio às gestantes e mães solteiras.

“A gente sabe o desafio gigantesco que o Dsei tem diante de um território imenso, agravado ainda pelo aumento das atividades garimpeiras nos últimos anos. Mesmo sabendo que há muito ainda por fazer, nos deixa feliz saber que estamos contribuindo para ajudar, somar esforços, e trazer um pouco mais de bem-viver para este povo sofrido, guerreiro e merecedor” – acrescentou Scannavino.

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