Oficina realizada na Aldeia Puyanawa no extremo oeste do Acre, interior de Mâncio Lima, foi a última de sete ações de campo realizadas em territórios da Amazônia Legal. Próxima etapa do programa internacional Conectando os Desconectados que no Brasil, liderado pelo Projeto Saúde e Alegria, engloba aulas e capacitações com alunos de sete instituições
A equipe da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia foi recebida com muito entusiasmo na última instituição a receber as ações de campo do projeto. A oficina realizada na Aldeia Puyanawa, no Estado do Acre, contou com a participação de uma liderança comunitária e jovens indígenas que participam de atividades de comunicação em defesa do território.
Os Puyanawa estão organizados em duas aldeias: Barão e Ipiranga que, juntas, reúnem 717 pessoas que buscam fortalecer a sua identidade cultural, defendendo o uso racional dos recursos naturais de seu território, considerados o Povo do Sapo, guardiões da natureza. A comunidade tem como principal fonte de renda e subsistência a produção familiar de farinha (uma das maiores produções da macaxeira do Vale do Juruá) e na produção sustentável pelo reflorestamento de mudas frutíferas e florestais. A Aldeia tem ainda como uma das bandeiras de luta, o resgate e o fortalecimento de sua cultura viva de seus saberes ancestrais, promovendo o incentivo ao Festival ATSÁ e intercâmbios.
A Aldeia é uma das sete organizações integrantes da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, que no período de 30 de abril a 01 de maio, recebeu as ações de campo do projeto. O professor e as jovens lideranças se deslocaram de suas casas, algumas mais distantes da escola indígena, para participar da oficina com o objetivo de refletir e dialogar sobre o território, mapear fortalezas, desafios e sonhos, e desenhar estratégias de comunicação comunitária da região.
“Estou muito feliz de ter participado dessa oficina. Isso é muito importante para nós jovens, temos base de conhecimento de como funciona esse ensino. A gente está abraçando o projeto” – contou o jovem Kauã da Silva.
O processo conduzido pelas professoras da Escola de Redes Adriane Gama e Elis Lucien, acompanhadas do articulador local Puwe Puyanawa, debateu temas importantes para o ativismo territorial, como alternativas de estratégias de comunicação para defesa do meio ambiente e do território. Através da metodologia usada no encontro, os jovens participantes foram estimulados a refletirem sobre suas maiores necessidades e sonhos, como ter uma torre de sinal de internet (apesar de já existir wi-fi paga na maioria das casas), melhoramento da estrada de acesso para a Aldeia, ter uma praça de comunicação, mais cursos de informática e a construção de uma universidade da floresta. “Eu estou aprendendo muito. Foi muito legal estar aprendendo com a realidade de outras pessoas” – ressaltou a jovem Luiza de Lima Puyanawa.
Saúde e Alegria conclui ações da Escola em sete territórios
A partir dos encontros presenciais finalizados nas sete comunidades participantes, o conselho da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia está compondo a grade curricular da formação que acontece de julho a dezembro – fazem parte do Conselho sete especialistas e sete lideranças de cada organização envolvida.
Três jovens estudantes de cada instituição vão representar os três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará) na primeira turma da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. As aulas iniciam no mês de julho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes envolvidas.
Em fevereiro, a Escola de Redes Comunitárias da Amazônia iniciou atividades de campo com aldeia Solimões, em Santarém. Em março, foi a vez dos Guardiões do Bem Viver e da Aldeia Marajaí no Médio Solimões. A equipe da escola chegou no mês de Abril à Rede Wayuri no Alto Rio Negro, Formigueiro no Amazonas, Rede Águas do Cuidar em Ilha de Caratateua, Distrito de Outeiro – Belém-PA e encerra a rodada com a aldeia Puyanawa.
“Saímos desta última oficina com resultado positivo de empoderamento de comunicação comunitária. A gente agradece a todas as regiões, o acolhimento e recepção. A partir de agora a gente vai sistematizar todas as informações que nos foram dadas, com bastante confiança e respeito, e juntos vamos buscar a escola da força e com muitas ações nesse processo de formação desses comunicadores amazônicos” – ressaltou Adriane Gama, da equipe gestora da Escola.
Para o coordenador do Projeto, Paulo Lima, a iniciativa integrante e projeto coordenado pela Associação Para o Progresso das Comunicações (APC), se alinha a uma estratégia fundamental para a garantia de direitos à comunicação de populações indígenas, ribeirinhas e tradicionais da Amazônia. Através das formações, jovens poderão multiplicar o conhecimento em suas regiões e potencializar sua comunicação. “Estamos muito satisfeitos com o engajamento das comunidades e aldeias, e, encorajados a realizar capacitações que buscam fortalecer iniciativas de comunicação comunitárias como rádios comunitárias, telecentros, pontos de acesso à internet público e gratuito nas comunidades para um uso melhor e mais qualificado para saúde, educação e agricultura familiar” – disse.