Atividade integrada ao Festival Latino Americano de Cinema de Alter do Chão foi coordenada pelo Projeto Saúde e Alegria e reuniu dez coletivos audiovisuais de Santarém, Altamira e Itaituba
‘Cinema das Margens: troca de experiências com coletivos audiovisuais do Tapajós destacando narrativas das populações amazônicas sobre mudanças climáticas’ deu nome ao encontro que marcou o último dia de atividades do CineAlter. O evento promovido pelo Instituto Território das Artes (ITA) e Associação de Teatro de Santarém (ATAS) com parceria de diversas instituições e apoiadores, dentre eles, o Projeto Saúde e Alegria, durou quatro dias na vila Balneária de Alter do Chão e contou com diferentes programações.
No último domingo (06), após quatro dias de muitas atividades ligadas às expressões da cultura da Amazônia através da exibição de filmes e curtas, foi realizada a oficina de audiovisual com participação de dez coletivos do Lago Grande, Tapajós, Arapiuns, Itaituba e Altamira. Os grupos são formados por jovens que trabalham com audiovisual nos seus respectivos territórios, experimentando linguagens e estéticas a partir do seu olhar e sua comunidade, explicou o coordenador de Educomunicação do PSA, Fábio Pena: “tanto mostrando os problemas que existem, quanto refletindo críticas sociais, mas também mostrando a beleza, a cultura do povo. Eles puderam demonstrar suas experiências, suas dificuldades e potenciais. Que caminhos esses grupos têm para melhorar sua atuação”.
O encontro possibilitou trocas de conhecimento sobre cultura, produção, economia e desenvolvimento regional através da produção visual. A iniciativa se integra aos objetivos do Projeto Vozes do Tapajós Combatendo as Mudanças Climáticas, parte da iniciativa global Vozes da Ação Climática (VAC), que é coordenado pela Fundação Avina.
“Esse é um dos objetivos do festival. Fazer com que a Amazônia não seja só o conteúdo, o assunto, mas que tenha seus próprios produtores falando do povo da Amazônia por eles mesmos. Busca incentivar os grupos comunitários a se aperfeiçoarem, a desenvolver cada vez mais suas experiências. Um dos temas que a gente abordou foi o das mudanças climáticas que está na pauta do debate internacional e nacional e dentro da oficina a gente discutiu como que os grupos das comunidades podem se apropriar da ferramenta do audiovisual para produzir suas próprias narrativas sobre o clima” – Fábio Pena, coordenador de Educomunicação do PSA.
O jovem Ray Kumaru de Vista Alegre do Capixauã, esteve entre os participantes. Como liderança indígena e defensor da Amazônia, falou sobre a alegria em poder integrar a formação: “Compartilhar conhecimento, compartilhar o nosso documentário que produzimos na aldeia. Espero que a gente possa estar ajudando outra juventude do povo. Poder mostrar pra todo mundo que a gente é capaz de poder ensinar e aprender”.
Jean Silva do Coletivo Guardiões do Bem Viver do PAE Lago Grande, defendeu a participação da juventude como ferramenta de proteção aos territórios: “Foi uma experiência muito boa estar participando dessa troca de conhecimento de vários coletivos que estavam aqui compartilhando ideias e esses conhecimentos do audiovisual para mostrar a realidade das nossas aldeias”.
Gabriel da Praia do Índio, território Munduruku do médio Tapajós, disse que o conteúdo da formação será multiplicado para os demais jovens da aldeia. O indígena que veio do município de Itaituba, região Oeste do Pará, falou sobre o entusiasmo e o desejo de compartilhar conhecimento com os parentes: “Essa apresentação foi muito boa. Eu quero levar para minhas aldeias, para os jovens do medio Tapajós”.
O Conselho Indigena Tupinambá (Citupi), apresentou um vídeo premiado recentemente pela VAC e que será exibido durante a COP27 no Egito. Para o membro da coordenação, Lucas Tupinambá, que representa 25 aldeias da margem esquerda do rio Tapajós, a premiação revela a importância da produção audiovisual pelos próprios moradores dos territórios. “Muito importante a presença do nosso povo através do audiovisual no CineAlter. Criamos através da nossa juventude um vídeo de um minuto e meio que fomos agraciados a ter a exibição na COP 27 que é um encontro de grandes líderes mundiais e vamos passar a mensagem que o nosso Tapajós está clamando. Hoje o nosso rio e o nosso povo estão contaminados por mercúrio. É importante através do audiovisual estarmos demarcando e denunciando o que está acontecendo com nosso povo”.
A oficina faz parte das ações do Projeto Saúde e Alegria que coordena o projeto ‘Vozes do Tapajós combatendo as Mudanças Climáticas’ que integra uma coalizão de seis instituições com atuação na região do alto e médio Tapajós e baixo Amazonas. Juntos, Saúde e Alegria, Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (SAPOPEMA), Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA), Conselho Indígena Tupinambá (CITUPI), Suráras do Tapajós, Coletivo Audiovisual Munduruku Dajekapapeypi e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR), estão promovendo uma agenda comum sobre o tema das mudanças climáticas, agregando e fortalecendo iniciativas que já compõem a agenda de trabalho das organizações.