Apoiada pela Escola de Redes Comunitárias da Amazônia do Projeto Saúde e Alegria, rádio online terá programação sobre ancestralidade, direitos indígenas, cultura e entretenimento
Em operação desde a última sexta-feira (24), a Web Rádio da Rede Wayuri representa as vozes dos 23 Povos Indígenas do Rio Negro. A iniciativa é fruto do projeto dos três estudantes da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia que participaram de capacitações, receberam apoio técnico e financeiro para tornar esse sonho coletivo realidade.
Ao longo de um ano, os comunicadores indígenas participaram de formações sobre rádio amador, energia fotovoltaica e construção de sistema Hermes, segurança de dados, Jornalismo comunitário, Comunicação comunitária e linguagem radiofônica. As temáticas possibilitaram ampliar o conhecimento sobre o uso de software livre e tecnologias potenciais para seus territórios. “Participamos de aulas online com diversos temas relacionados à comunicação e uso de software livres e tivemos encontros presenciais, conexões com territórios indígenas e não indígenas”, contou o comunicador da Rede Wayuri, Adeson Ribeiro.
Como proposta da Escola que é parte da iniciativa global “Conectando os Desconectados”, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo PSA, cada uma das sete organizações escreveu seu projeto para receber mentoria e recurso para consolidá-los.
“Durante todo esse tempo que a Rede Wayuri fez parte do projeto, evoluiu e aprendeu bastante. Foi através desse projeto que a gente colocou nosso sonho em prática. Pra gente foi muito significativo esse projeto e estamos muito felizes e contemplados com essa organização”, destacou a comunicadora da Rede Wayuri, Claudia Ferraz.
A rádio recém inaugurada, terá a princípio, programações três vezes por semana: Alô Parente, Papo da Maloca e Kacuri. A previsão é que em poucos meses, a grade seja ampliada e opere de segunda a sexta. “Nossos próximos passos é dar continuidade. A gente vai poder levar as nossas vozes muito mais além através das nossas línguas, mostrando que nós indígenas do Rio Negro temos um plano de comunicação que é a rádio online”, comenta Ferraz.
O canal é fruto de muita organização e articulação dos povos indígenas e implementa tecnologias com princípios de autonomia e gestão de base comunitária, ressalta a pesquisadora da Escola de Redes, Adriane Gama: “Isso é muito bom porque foi a partir desse processo de inclusão digital que a Escola de Redes conseguiu sair da região do Pará e percorrer outros rios, caminhos, grupos e jovens que tentam fortalecer a comunicação comunitária”. Adriane ressalta que a iniciativa previu a sustentabilidade e como o projeto terá continuidade: “Aqui em São Gabriel da Cachoeira a gente percebe muito esse ativismo, esse engajamento desses jovens, eles conseguem avançar com esses sonhos. Que eles possam seguir com autonomia, sustentabilidade e que possam garantir e fortalecer essa comunicação comunitária indígena na região”.
Juliana Albuquerque, uma das alunas da escola, ressaltou que os estudantes enfrentaram muitos desafios logísticos e operacionais para conseguir implementar acesso à internet e equipar a rádio, devido a distância e limitação para chegar nesse território e pela crise climática com a atual seca extrema na região. Por isso, a inauguração é simbólica e representativa: “Os desafios foram muito maiores do que a gente imaginava. E com muita persistência, pensando no território e na floresta em pé, hoje a gente finaliza esse projeto com a instalação da rádio comunitária”.
A Web Rádio também contou com a consultoria da Rede Wayuri/ISA, através da participação de Naiara Bertoli.
A REDE WAYURI
O Rio Negro está localizado no extremo noroeste do estado do Amazonas, abrange os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Nessa região vivem mais de 40 mil indígenas em cerca de 750 comunidades que abrigam 23 povos indígenas que pertencem a três famílias linguísticas: Aruak, Tukano e Maku: Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Mirity Tapuya, Piratapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuca, Kotiria, Baniwa, Kuripako, Hupda, Yuhupde, Dâw, Nadöb, Baré e Warekena.
As comunidades indígenas atualmente estão organizadas em 91 associações de bases que compõem a FOIRN. Essa estrutura de organização política dos povos indígenas do Rio Negro, fortalece a luta em defesa dos direitos, dos territórios e do controle social da implementação das políticas públicas. Esse formato de organização é responsável na conquista da demarcação de 07 Terras Indígenas e desenvolvimento de ações que contribuem com o bem viver indígena no Rio Negro.
A defesa do território envolve uma forte articulação de comunicação. Em 2017, as lideranças indígenas membros do Conselho Diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) criaram a Rede Wayuri durante uma das suas reuniões, composta por comunicadores indígenas que produzem boletins de áudio Wayuri, levando informação sobre os territórios indígenas do Rio Negro para suas 750 comunidades e atuando como fazedores de eventos do movimento indígena e mobilizadores de ações voltadas à melhoria do bem viver em suas comunidades. A Rede Wayuri recentemente celebrou seis anos e conta com a assessoria do Instituto Socioambiental (ISA) e o apoio financeiro da União Europeia (EU), e entre outros parceiros.
A Rede é uma das sete organizações integrantes da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia no período de 01 a 02 de abril de 2022, recebeu as ações de campo do projeto. Lideranças, comunicadores e alunos da Escola se deslocaram para participar da oficina com o objetivo de refletir e dialogar sobre o território, mapear fortalezas, desafios e sonhos dos povos indígenas do Rio Negro, pela metodologia da Mandala dos Saberes. O processo foi conduzido pelos professores da Escola de Redes Adriane Gama e Guilherme Gitahy de Figueiredo, acompanhados por Gicely Ambrósio, coordenadora do departamento de comunicação da FOIRN e Ana Amélia Hamdan, jornalista do ISA.
“É uma honra ter participado desse projeto. Pra gente foi desafiador. Esse é um resultado muito bonito. Nada é feito sozinho” – Gicely Ambrósio.
“Essa web rádio faz parte da vocação da rádio Wayuri que já vem trabalhando com o Papo da maloca que é um programa FM, quanto com o podcast Wayuri. Com essa inovação, a rede tem essa marca inovadora de comunicação indígena para indígena. A Rádio Web vem fortalecer essa comunicação. O projeto da web rádio chega nesse momento com uma expansão da Internet num território indígena. Vai ser muito importante para levar conteúdo responsável, confiável e que de fato interessam aos povos indígenas do Rio Negro” – Ana Amélia Hamdan – jornalista do Programa Rio Negro do ISA.
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