Afetadas pela seca severa, comunidades recebem filtros comunitários para tratar água barrenta

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Vinte e cinco comunidades da várzea do município de Santarém e Oriximiná foram beneficiadas com a distribuição de filtros coletivos. Iniciativa é fruto da soma de esforços do Projeto Saúde e Alegria, Sanofi,  Água Segura e CAUSE em parceria com a Sapopema e Colônia de Pescadores Z-20

Uma grande operação logística iniciou nesta semana para atender 7.415 pessoas dos PAE’s Urucurituba, Aritapera, Tapará e regiões Arapixuna, Arapiuns (Santarém) e Nhamundá (Oriximiná). A expedição segue no período de 20 a 25 de novembro e atende às comunidades: Pinduri, São Ciríaco, Piracaoera de Cima, Boca de Cima do Aritapera, Cabeça d’onça, Ponta do Surubim-açu, Surubim Açu (quilombo), Centro do Surubim-açu, Centro do Aritapera, Santa Terezinha, Praia do Surubim Açu, Ilha do Bom Vento, Igarapé da Praia, Tapará Grande, Costa do Tapará, Boa Vista, Santana do Tapará, Ilha de São Miguel, Costa do Aritapera, Costa do Lago, São Benedito, Vila Marcos, São Raimundo, São José e Nova Vista.

Os filtros comunitários doados são de alta capacidade  e possibilitam a remoção de impurezas da água, que neste período de intensa estiagem, estão totalmente impróprias para o consumo. “Esse filtro foi feito para essa região. É irônico morar no lugar onde mais tem água do mundo, mas não tem acesso a água potável. O filtro age exatamente nesse problema porque qualquer água pode ser usada e vai ser transformada em água potável. A tecnologia trata com processo físico de separação entre bactérias, vermes e protozoários”, explicou o biólogo da Água Segura, Gabriel Nunes.

A coordenadora do Programa de Infraestrutura Comunitária do PSA, Jussara Salgado, explicou que o filtro é composto de nanotecnologia, uma micromembrana que faz a retenção de até 99,9% de vírus e bactérias, tornando a água potável e própria para consumo, e que quando “passa pelo filtro, se torna potável e pode ser ingerida, melhorando a qualidade de vida da população, diminuindo os índices de doenças de veiculação hídrica”.

A seca severa tem ampliado as dificuldades para conseguir água limpa nesses territórios. A medição do nível do rio nesta quinta-feira (23), marcou 20cm – 64cm a menos que a maior estiagem de 2010. Muito abaixo da média, os moradores contam que fica impossível utilizar a água para o consumo: “Esse ano foi muito difícil. Muita dificuldade de acesso à água. A gente puxava água do rio e tomava imprópria. Agora com esse projeto, vai beneficiar nossa comunidade e melhorar muito a saúde da nossa população”, contou Jessé Campos da comunidade Santa Terezinha, região do Aritapera.

Sem alternativas, a maior parte dos comunitários mapeia áreas onde a água está menos barrenta. Isso condiciona a longas caminhadas, conta a liderança de Ilha de Bom Vento, região do Arapixuna, Cristina Santos: “A distância é muito longa para coletar água potável. São muitos quilômetros para chegar até os lagos e tanto áreas de várzea como terra firme sofrem com isso”.

A presidente da Associação do Quilombo Surubiú Açú, Roseane Cardoso, disse que o índice de diarréias por ingestão aumentou nos últimos meses. A família se organizou para buscar na cidade água mineral: “Eu toda semana compro cinco galões de água porque a água do rio não serve pra consumir. Pra beber não presta porque está muito barrenta e de manhã amanhece com um negócio verde”.

As comunidades selecionadas são as que se encontram nas zonas mais impactadas pelas águas barrentas e contaminadas por despejo inadequado de dejetos. Um processo discutido com as organizações de base por meio da ONG Sapopema e Colônia de Pescadores Z-20. “A gente conversou com nossos parceiros como Z-20 e os conselhos regionais de pesca para fazer o mapeamento das comunidades que precisam de um filtro coletivo para ter um melhor acesso à água. Aqui na região de várzea a água é um problema. Ter acesso a água potável é um grande desafio e a demanda é muito grande. Todas as comunidades têm essa necessidade. Mas aí a gente mapeou as que estão mais necessitadas que sofrem mais o impacto da estiagem”, contou a pesquisadora Neriane da Hora.

Durante as distribuições, são ministradas oficinas de higiene e manutenção dos filtros, para autogestão comunitária. As tecnologias ficam nas escolas municipais para o uso coletivo.

“Um instrumento que chegou agora pra nós e vai ter uma importância muito grande. Devido nós estarmos enfrentando essa estiagem muito grande esse ano, muitas famílias e crianças estão sofrendo com infecções intestinais. Esse filtro vem amenizar a situação” – Manoel Rego, presidente da Associação Piracaoera de Cima.

“A gente faz a filtragem da água para que os comunitários possam usar. Esse filtro veio para somar o cuidado para evitar vômito e diarreia que ainda assola muito a nossa população por conta da poluição dos rios” – Nelma Figueira, ACS de Pinduri.

“A nossa água está muito ruim. O filtro faz com que a nossa água fique boa pra nós e nossas crianças” – Olane Rego, Surubiu Açu.

Complexa logística amazônica 

Montar um roteiro de viagem para qualquer comunidade da Amazônia é um grande desafio. É preciso programar o roteiro, com quantidade de tripulantes, calcular combustível e alimentação necessários, traçar a rota do dia, calcular o horário de uma localidade para outra e as entregas irão acontecer de lancha ou de barco. Uma dinâmica multiplicada pelo número de comunidades atendidas nesta expedição: 25!

Com a estiagem severa, é preciso ter agilidade para mudar os planos durante toda a jornada e encontrar soluções para desembarcar os filtros e fazer as formações necessárias. “onde ancorar a embarcação e pernoitar com segurança por conta da dinâmica do tempo amazônico… Tudo isso vai pra ponta da caneta”, destaca a Técnica de campo do PSA, Ana Costa.

A área também sofre influência da maré, contam os pescadores. Alguns canais possíveis de navegar em parte do dia, fecham, o que impõe novas mudanças no roteiro da viagem, dificultando a previsão do horário exato de chegada nas comunidades já mobilizadas e sem acesso regular a sinal de telefonia e internet, “nesse período em que a estiagem está sendo imensa tem uma dificuldade a mais de fazer chegar nas comunidades”, ressalta Ana.

Apesar disso, os esforços da equipe em campo e das equipes logísticas do Saúde e Alegria, são reconhecidos com os agradecimentos:

“Vai ajudar muito na nossa comunidade, principalmente na nossa escola. Estamos vivendo uma situação muito difícil por conta da estiagem. A gente estava muito precisando de um filtro pra ter uma água boa, de qualidade, potável para ser usada com as nossas crianças. Vai ajudar a diminuir as doenças que a gente sofre” – Sandra dos Santos, Gestora da Escola Santa Cruz.

“Vem contribuir com a melhoria e qualidade de água para nossa população. Mais qualidade de vida porque esse filtro vai melhorar o tratamento da água. Essa água é muito barrenta. Hoje com o recebimento desses filtros vai melhorar cada vez mais” – Joedna Carvalho, enfermeira Boca de Cima do Aritapera.

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