“Carta Paulo Lima” lançada na 14ª Oficina para Inclusão Digital pede maior atenção para a Amazônia

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Documento homenageia o coordenador do Projeto Saúde e Alegria (in memoriam) e destaca elementos necessários para promover a inclusão digital no país. Lançamento foi realizado em Brasília, no Distrito Federal 

Defensor da inclusão digital como um direito humano, Paulo Lima acumulou uma trajetória de luta pelo acesso à internet em regiões isoladas da floresta. Plima, como era carinhosamente chamado, chegou à Amazônia em meados dos anos 2000, com o desejo de contribuir para melhorar a vida de populações ribeirinhas. Era um sonho particular, poder ajudar a diminuir as desigualdades sociais. Do campo da Inclusão Digital desde o fim da década de 1980, passou pelo Ibase/Alternex, Secretaria Executiva da Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS) e, desde 2007 atuava na Coordenação de Inclusão Digital do Projeto Saúde e Alegria.

Paulo Lima estava articulando com outras lideranças a retomada das Oficinas de Inclusão Digital e Participação Social após sete sem a realização do evento, em um contexto dificil para a sociedade brasileira.  Não conseguiu ver a oficina acontecer, mas estava presente. A 14ª Edição prestou uma homenagem com o nome da carta. “Foi uma emoção muito grande essa retomada que a gente fez. E não vamos parar, vai ter oficina todo o ano!, contou Beatriz Tibiriçá, do Coletivo Digital, uma das ONGs promotoras do evento.

A Carta ressalta a importância da retomada das políticas públicas de inclusão digital no país, dos telecentros, dos direitos digitais como o letramento digital e do livre acesso à internet, do software livre, das redes comunitárias como forma de combater a desinformação e de fortalecer a autonomia das tecnologias e gestão comunitária, das estratégias de segurança de dados, da soberania digital e ancestral. O documento, que conta com a adesão de dezenas de institutos, coletivos, associações, organizações governamentais e redes, será encaminhado para toda a administração pública e ficará disponível, no site do evento, para novas assinaturas.

Na cerimônia de encerramento também foi anunciado o retorno do Fórum Internacional do Software Livre (FISL), com previsão para julho de 2024, abrigando uma nova oficina de inclusão digital. Foto: Fábio Pena/PSA.

“É a retomada de um processo que havia sido parado há 7 anos por conta dos desmontes das políticas sociais e de inclusão. Estamos retomando esse processo e colocando a pauta da inclusão digital no processo de reconstrução do país. Nós vivemos numa sociedade de informação e conhecimento e quem não tem acesso adequado a essas tecnologias também está mais excluído socialmente. Nós do PSA sempre batalhamos por essa pauta e viemos trazer o nosso ponto de vista, o nosso reforço a essa agenda”, contou um dos  coordenadores do PSA, Fábio Pena.

O encontro contou com o apoio institucional de órgãos e entidades do governo e sociedade civil como o Sesi, Serpro, Dataprev, Comitê Gestor da Internet e Projeto Saúde e Alegria. Na cerimônia de encerramento também foi anunciado o retorno do Fórum Internacional do Software Livre (FISL), com previsão para julho de 2024, abrigando uma nova oficina de inclusão digital.

Leia aqui na íntegra.

“Nesta Carta que contém contribuições do próprio Paulo, tivemos a oportunidade de incluir ainda neste documento, temáticas de incentivo às pautas de gênero, infraestrutura de cuidados e meio ambiente, fomento das redes sociodigitais, justiça climática sobre os princípios da circularidade contemplando a realidade da Amazônia. Esse foi um momento histórico depois de sete anos a gente retorna a Brasília para reunir figuras importantes da cultura digital interagindo com uma atual geração sob novos olhares, inclusive, a partir dos princípios colaborativos do Software livre”, contou a pesquisadora da Escola de Redes, Adriane Gama.

Escola de Redes Comunitárias da Amazônia 

Pilar de formação e treinamento do projeto “Conectando os Desconectados”, uma iniciativa global, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria, a escola é um legado de Paulo Lima (in memoriam), cuja atuação incansável buscou conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy e mobilização comunitária.

Em 2021, um conselho consultivo foi formado para discutir as metodologias e áreas temáticas para as ações da escola. O grupo de especialistas é composto por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).

A primeira turma da escola contou com a participação de 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará). As comunidades que possuíam integrantes na formação foram: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.

“Nós somos os realizadores de coisas impossíveis. Por exemplo, a Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, da qual eu sou conselheira também, fez e aconteceu. Nós juntamos todos os fazedores e montamos a 14ª Oficina de Inclusão Digital e Participação Social que acabou de aprovar a carta Paulo Lima de Inclusão Digital e Participação Social. Carta ao povo brasileiro. Isso é uma emoção muito grande, inclusive que o Paulo Lima participou da escrita desses documentos que nós usamos para compartilhar com todo mundo na oficina. Ele esteve o tempo todo conosco. Toda a Amazônia estava aqui”, ressaltou Beá Tibiriçá.

Inclusão Digital como legado de Pima para a Amazônia

“Em nossa região implantamos cerca de 40 Telecentros Culturais (desde 2001, quando estava ainda na Rits) e hoje atuamos regionalmente com o Projeto da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, com 7 organizações do Acre, Pará e Amazonas. Estamos também coordenando ações de Telemedicina nos municípios de Santarém, Aveiro e Belterra. Temos muito interesse em contribuir no Conselho do FUST que vimos nascer lá em 2000 e que tanto lutamos para que fosse enfim aplicado para o que foi pensado”, escreveu o próprio, menos de uma semana antes de falecer.

Paulo Lima, historiador e Mestre em Recursos Naturais da Amazônia, era um apaixonado pela arte de ensinar. Atuava há treze anos como professor no Iespes, onde lecionava para os cursos de direito e jornalismo. Paulo, que foi consultor da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), era também especialista em avaliação e gestão de projetos sociais. Com experiência na área de História, Sociologia Rural, Ciências Ambientais, Ciência Política, Redes Comunitárias e Comunicação Social, atuava com comunidades tradicionais, Amazônia, sociedade da informação, comunicação alternativa, história, sociedade civil e movimentos sociais.

Estava animado com um novo projeto de inclusão digital que havia iniciado recentemente, o Conexão dos Povos da Floresta, dos Mundurukus ao baixo Tapajós, que levaria conexão de internet para populações indígenas e ribeirinhas da floresta. Dias antes de partir, havia realizado testes com as primeiras antenas e muito entusiasmado, chamou a equipe do Projeto de Redes Comunitários, a qual coordenava para compartilhar o sucesso da experiência.

Projeto Saúde e Alegria representado pelo coordenador Fábio Pena e pesquisadora Adriane Gama.

Saiba mais sobre o evento e a Carta Paulo Lima da 14ª OID na íntegra aqui: https://oid.org.br/

* Com informações de Sepro

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