No dia da Amazônia, o Projeto Saúde e Alegria lança vídeo que mostra soluções replicáveis. Desde 1987, se uniu à causa e busca evidenciar possibilidades concretas para proteger à vida
Com abrangência nas regiões dos rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns, o Projeto Saúde e Alegria por meio do Programa Floresta Ativa consolidou a estratégia de fortalecimento da chamada ‘Economia da Floresta’. O programa visa garantir a expansão e diversificação da cadeia de suprimento de produtos florestais não madeireiros, com qualidade e sustentabilidade.
E apesar de a região ser crucial para o futuro da Amazônia, tem enfrentado grandes desafios como a exploração ilegal e os impactos negativos dos garimpos. “Estamos na fronteira do Pará com o Amazonas, garimpos… um modelo que não deu certo e uma conta pra todo mundo pagar”, comenta Caetano Scannavino, destacando a urgência de alternativas sustentáveis.
Para reverter esse cenário, o Floresta Ativa iniciou as ações no Tapajós, fortalecendo as comunidades locais. “Nossa estratégia é fortalecer as comunidades, suas estratégias de sobrevivência, suas infraestruturas, seus modos de vida, investindo em várias frentes: saúde, educação, infraestrutura e economia”, explica Davide Pompermaier, coordenador do programa que tem como uma das estratégias, incentivar o plantio de sistemas agroflorestais em unidades familiares.
O processo de implantação dos sistemas agroflorestais tem ciclo anual: a primeira fase inicia identificando as famílias interessadas e desenvolvendo em conjunto o projeto. Em seguida é preciso preparar a área que receberá o plantio, coletar as sementes necessárias, produzir as mudas. No início do período da chuva, é realizado o plantio, que precisa depois receber tratos culturais periódicos ao longo do tempo.
“Todos nós estamos mais do que satisfeitos com esse trabalho. Com fé em Deus ainda tô vivo, vou ver muita coisa” – José Oliveira, agricultor.
No primeiro ciclo, o retorno vem dos alimentos produzidos pelas culturas agrícolas de ciclo curto. Entre o segundo e o terceiro ano começa a produção de fruta. A partir do quinto ano inicia a produção de sementes florestais, das quais as oleaginosas já têm um interesse comercial.
- SAF’s contribuem para:
- Restaurar áreas de floresta degradadas pelas práticas agrícolas de corte e queima
- Introduzir práticas agroflorestais sustentáveis
- Incentivar os plantios de espécies florestais e frutíferas com potencial econômico
- Produzir alimento para segurança alimentar das famílias e para atender a demandas das escolas das comunidades via PNAE
A restauração florestal produtiva por meio do plantio de sistemas agroflorestais (SAFs) em unidades familiares desempenha um papel vital na promoção da sustentabilidade ambiental e no fortalecimento econômico das comunidades. Essa abordagem inovadora combina a plantação de árvores com cultivos agrícolas e criação de animais, criando ecossistemas multifuncionais que beneficiam tanto o meio ambiente quanto os agricultores familiares.
Os SAFs não apenas contribuem para a recuperação de áreas degradadas, mas também oferecem uma série de vantagens. A presença de árvores em meio às plantações agrícolas proporciona sombra, melhorando a qualidade do solo e reduzindo a erosão. Além disso, a diversidade de espécies presentes em um SAF cria um equilíbrio natural, diminuindo a necessidade de insumos químicos e promovendo a resistência a pragas.
“Aqui se planta chuva, se planta água também. Não se planta só floresta. Aqui estamos falando do futuro da vida do planeta, não é só a diversidade da Amazônia, mas o papel da amazônia na produção do ciclo de água e de chuva no continente” – Davide Pompermaier, PSA.
Em unidades familiares, a implementação de sistemas agroflorestais não só aumenta a produção de alimentos, madeira e outros produtos florestais, mas também diversifica as fontes de renda. Ao integrar a produção agrícola com espécies florestais, as famílias agricultoras conseguem garantir sua subsistência enquanto contribuem para a restauração ecológica.
Além disso, a restauração florestal por meio dos SAFs desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas, capturando carbono da atmosfera e promovendo a biodiversidade. Esse modelo de gestão sustentável não apenas responde aos desafios ambientais, mas também fortalece as comunidades locais, proporcionando uma base sólida para o desenvolvimento rural resiliente e equitativo. Portanto, investir na restauração florestal produtiva em unidades familiares por meio de sistemas agroflorestais é uma estratégia essencial para a construção de um futuro mais sustentável e resiliente.
No ciclo 2021-2022, foram produzidas aproximadamente 24.000 mudas, em 2 viveiros, que foram plantadas em 48 hectares de SAFs com 54 famílias. Já no ciclo 2022-2023, o número de de viveiros aumentou para 8, produzindo 70.000 mudas que estão sendo plantadas em 64 hectares de SAFs com 105 famílias, nos quintais agroflorestais e em reposição em SAFs do ciclo 2021-2022. E neste ciclo 2023-2024 a expectativa é de produzir 40.000 mudas e plantar 56 hectares de sistemas agroflorestais, envolvendo 106 famílias.
Água é vida
A floresta preservada produz água, mas nem sempre ela está disponível para os moradores. Com investimentos diretos nas comunidades, o projeto assegurou infraestrutura para garantir o acesso à água potável. “A gente sofria muito com diarreia, vômito. A gente sabia que não devíamos tomar aquela água, mas a gente era obrigado, porque não tinha outra”, contou Ido Batista da Silva, presidente da associação de moradores da comunidade de Mangal.
O Projeto Floresta Ativa implementou dez sistemas de abastecimento de água nas comunidades atendidas. “Nosso trabalho permite o acesso à água potável tanto para o uso doméstico quanto para atividades socioprodutivas”, afirma Jussara Batista, coordenadora do Programa de Infraestrutura Comunitária.
Sociobioeconomia e Sustentabilidade
O Floresta Ativa apoia as comunidades na estruturação e expansão de cadeias de valor da sociobioeconomia, incluindo a restauração florestal. Os Sistemas Agroflorestais diversificam a produção, conservam a biodiversidade, o solo e os recursos hídricos, além de ajudar na regeneração de ecossistemas degradados e na segurança alimentar das comunidades rurais. Os viveiros do projeto produzem uma média de 50 mil mudas por ano.
“Estamos agora iniciando um processo de legalização dos viveiros. Temos dois viveiros com Renasem do Mapa, capazes de fornecer mudas legalizadas”, destacou Márcio Santos, coordenador de ATER do PSA.
Manejo Sustentável e Meliponicultura
Outro componente do projeto é o manejo da andiroba, uma planta com diversas propriedades medicinais, muito utilizada na indústria farmacêutica e de cosméticos. A partir do interesse da Natura em desenvolver uma cadeia de fornecimento de insumos florestais na região oeste do Pará, em 2018 o PSA começou a fornecer apoio e assistência técnica a Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós e a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós – COOMFLONA para organizar a coleta de amêndoas de andiroba.
A meliponicultura (manejo de abelhas sem ferrão), é outra frente importante. “As abelhas são responsáveis por 60 a 70% da polinização das espécies florestais, essenciais para a manutenção da floresta e para a polinização das espécies que plantamos nos sistemas agroflorestais”, explicou Manoel Edvaldo Santos Matos, diretor presidente da ACOSPER.
O mel e outros derivados, como pólen, própolis e cera, trazem novas oportunidades de alimento e renda para as comunidades. “Trabalhamos com duas espécies: abelha canudo e abelha jataí”, completa Matos.
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