Nova etapa de levantamento foi realizada no período de 1º a 4 de setembro em oito comunidades das duas regiões. Objetivo é analisar a atividade e propor ações para melhoramento da cadeia produtiva sustentável do mel de abelha;
O Diagnóstico iniciado em 18 de agosto, na várzea, chegou às comunidades da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns e PAE Lago Grande. Nessa região, o Saúde e Alegria já desenvolve assessoramento das comunidades para o manejo de abelhas. Levantamento foi realizado no sentido de identificar potencialidades, avaliação e gargalos da atividade.
Técnicos do Programa Floresta Ativa visitaram os meliponários, conversaram com os produtores e analisaram cada componente do manejo das comunidades Santi, Cefa, Carão, Aldeia Aminã, Anã, Bacurí, Aldeia Solimões e São Francisco. “A cadeia da meliponicultura tem tudo para se consolidar, mas pra fazer isso é necessário ter essas informações, diálogo entre o produtor e o técnico. A gente já vem trabalhando há bastante tempo com as comunidades de terra firme, onde já temos um trabalho organizado, colmeias padrões” – contou o Técnico do Saúde e Alegria, Alexandre Godinho.
O próximo passo da estratégia de valorização da cadeia produtiva é dar visibilidade para o esforço comunitário e legalizar a produção do mel sustentável que garante renda aos comunitários, contribuindo para manutenção da floresta em pé. O extensionista rural, Márcio Roberto, esclareceu que a etapa do manejo já é uma realidade consolidada, entretanto o desafio é promover a legalização da produção: “A gente percebeu que o principal gargalo dessa cadeia é gerar renda com acesso a mercado que paga mais pelo mel, que vem de uma floresta, com um histórico. Vamos discutir metas e caminhos com apoio de entidades parceiras, principalmente no sentido de ter a legalidade da atividade. Num futuro próximo, colocar esse mel numa prateleira do supermercado, com origem e identificação desse mel”.
A produção do mel representa uma importante atividade econômica para os moradores de regiões de floresta com a extração do mel e seus derivados, como o pólen e o própolis. Na Aldeia de Aminã, os povos da etnia Tupaiú praticam o manejo das abelhas Canudo. O presidente da comunidade, Orlando Cardoso contou que a renda “melhorou muito para as famílias, porque tem algumas que tem quarenta caixas, tiram vinte, trinta litros de mel e tem uma renda razoável”.
Na Comunidade Santí, região da Resex, o resultado do manejo tem contribuído até para a educação dos comunitários, disse o meliponicultor Newton Ferreira que se formou com suporte do valor oriundo da atividade: “Compramos material com o dinheiro tirado do mel. Um dia eu estava agoniado com meus filhos pra comprar material e nesse dia nós tiramos dez litros e deu pra comprar material dos quatro”.
Em localidades que praticam o ecoturismo (turismo de base comunitária) o mel é um dos atrativos. “O turista vem, degusta o mel, coleta, a gente comercializa e está gerando renda para as famílias. Nós queremos que esse mel chegue no mundo todo, seja reconhecido” – destacou Aldair Godinho, Meliponicultor em Anã.
Meliponicultura no Oeste do Pará
O Saúde e Alegria através do Projeto de Meliponicultura do Programa Floresta Ativa ultrapassa manejo de 120 milhões de abelhas 48 comunidades na Resex Tapajós Arapiuns, Pae Lago Grande, Floresta Nacional do Tapajós- Flona, região do Eixo Forte em Santarém e agora na várzea totalizando 6 mil colmeias com meta de atingir 8 mil em 2020.
Uma das produtoras mais antigas é Edlena Cristina de Oliveira da comunidade São Francisco, Rio Arapiuns. Há vinte anos é meliponicultura e contou que a relação com a atividade vai muito além da economia: “A meliponicultura me chama muita atenção porque a gente estimula o número de abelhas e a florada acaba aumentando. Quem desenvolve atividade com abelha, sem desmatar, consegue renda com mel, pólen, própolis. Eu amo muito o que eu faço e esse meu trabalho eu faço com muito carinho”.
As capacitações são importantes para esclarecer dúvidas e apontar caminhos aos moradores. Joelma Lopes da comunidade Carão na Resex é hoje referência no manejo, entretanto, relatou que há alguns anos tinha medo da atividade: “eu não sabia a importância que as abelhas tinham pra nós. Não tinha conhecimento e a partir do curso de capacitação do Saúde e Alegria surgiu o interesse. Eu tinha medo e participando das capacitações eu vi que dava pra mim. Antes do manejo a minha renda era praticamente zero porque eu trabalhava com mandioca pra fazer farinha, então eu não tinha renda. Depois que eu comecei a trabalhar com abelha eu passei a ter”.
A polinização de plantações de frutas, legumes e grãos é fundamental para a reprodução de 90% das plantas, do equilíbrio ao meio ambiente e geração de renda para populações tradicionais através da cadeia produtiva do mel. No Centro Experimental Floresta Ativa, dois modelos de meliponário com 150 colmeias de abelhas canudos foram instalados para que sirvam de exemplo e inspiração aos comunitários. Para que a atividade de grande potencial econômico seja a chave para a geração de renda, capacitações frequentes são realizadas, onde além dos conhecimentos, recebem materiais necessários para investir no processamento da cadeia produtiva e garantir segurança e produtividade do trabalho. Itens como macacões, botas, peneiras, baldes, chapéus e embalagens para colocar mel e espátulas são entregues aos manejadores.
Economia da Floresta pós-covid
De maneira gradual atividades relacionadas à capacitação dos comunitários para incentivo de produções sustentáveis na floresta estão voltando, com o máximo de rigor e cuidado. Para as viagens, técnicos são testados e só podem seguir após avaliação da equipe médica do PSA. Além disso, cumprem protocolos que vão desde o uso de máscaras, lavagem constante das mãos e uso de álcool em gel.
A intenção do Programa Floresta Ativa que é realizado pelo PSA em parceria com organizações locais como o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém é possibilitar aos moradores de diferentes regiões da Amazônia, formas de garantir o sustento aliando proteção ao meio ambiente. O projeto de meliponicultura inclui capacitação dos produtores, entrega de kits para manejadores, apoio para a certificação dos produtos e desenvolvimento de soluções logísticas para o escoamento adequado da produção. E a comercialização dos produtos de meliponicultura receberá um novo impulso com a criação da Casa do Mel, no EcoCentro de Economia da Floresta, que está sendo instalado na cidade de Santarém.
Proteger a diversidade de espécies de abelhas sem ferrão (ameaçadas pelo desmatamento, pelas queimadas e pelo uso intensivo de defensivos agrícolas) é imperativo para a manutenção da floresta, uma vez que essas abelhas são as grandes responsáveis pela polinização de árvores nativas. Assim, a criação racional de abelhas sem ferrão para produção de mel e derivados (como geleia real, própolis e cera) tem um impacto positivo tanto no meio ambiente quanto na renda das comunidades ribeirinhas.