Se despediram em Santarém, no Oeste do Pará, os vinte e um alunos da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, que no período de 08 a 13 de dezembro, participaram da última formação presencial. A partir de agora, os estudantes seguem para a implementação de projetos em suas respectivas comunidades
A jornada de formação da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia culminou na última terça-feira (13), com a conclusão de módulos de capacitação em redes comunitárias. Ao longo do último semestre, os estudantes que representam sete instituições dos estados Pará, Amazonas e Acre, participaram de oficinas, cursos, treinamentos, workshops e mentorias.
Neste último encontro, sediado em Santarém, aprenderam sobre as formas de comunicação já existentes nas comunidades e comunicação ancestral, segurança da Internet e tecnopolítica, conceitos de rede: software, hardware, firmware, IP, gateway, protocolos de rede, topologia de Rede, dinâmica tranças, identificação e mostra dos equipamentos de rede: roteadores, servidor local, cabos e fontes. E aprenderam na prática como construir uma rede mesh, instalar firmware, configurar rede LimeApp e demais estratégias para criar as próprias redes nas comunidades.
“Na formação eles conheceram opções de conectividade e o domínio de ferramentas como roteadores, estrutura de redes de computadores buscando conexão à internet. A gente precisa dominar alguns conceitos de como montar uma torre que tenha geração de sinal de internet, como espalhar internet por nossa comunidade”, explicou o coordenador da Escola, Paulo Lima.
Durante o encontro, os alunos foram estimulados a pensar em como a estratégia de inclusão digital pode ser mais propositiva nos territórios. A proposta é que dominem além técnicas para aliar o funcionamento da rede à produção de conteúdos educativos, para saúde, educação, cidadania, para além do uso do computador, internet, whatsapp e smartphone.
Os conteúdos foram ministrados pelos oficineiros Bruna Zanolli (Rizomática) e Luandro Vieira. Toda a temática foi planejada para garantir autonomia dos participantes no retorno aos seus territórios, explica Zanolli. “Trabalhamos muitos conceitos de redes de internet e intranet para poder ter nas comunidades mais autonomia em relação ao conteúdo que eles produzem, divulgam. A gente acha que esse tipo de rede pode ajudar não só conectando a internet, mas com a preocupação do bom uso dessa internet, de como ela vai ser usada na proteção do território, na proteção das lutas indígenas”, ressalta.
A ideia de independência, ativou o alerta para que os jovens possam buscar novas formas de garantir a participação comunicativa em suas regiões, fortalecendo o acesso e criando novas maneiras de conexão à internet, defende Vieira: “Aqui estamos vendo todo o processo desde pensar criticamente o que é uma internet e uma rede comunitária e como cada comunidade pode ter autonomia sobre sua própria estrutura de comunicação”.
Para a gestora do projeto, os seis dias de programação foram organizados para que os jovens de diferentes municípios dos três estados, pudessem participar da imersão e finalizar os encontros para aplicar o conhecimento em seus projetos de impacto. “Inicia uma nova etapa que é de mentoria dos projetos. Esses grupos e essas pessoas vão estar montando projetos e ideias de redes Comunitárias no qual possam ser implementadas de acordo com a viabilidade dentro dos seus territórios. Cada grupo está sendo mentorado por um profissional da gestão do projeto. Com essa formação a gente espera que aconteça o despertar de novas ideias e Iniciativas”, diz Sabrina Costa.
No PAE Lago Grande, os jovens integrantes do Coletivo Guardiões do Bem Viver planejam implementar uma rádio via internet que aproxime os moradores das 154 comunidades do imenso território. “A nossa região é muito grande e muito distante uma das outras. A gente está montando um projeto pra entregar uma rádio web que é pra deixar todos da nossa região informados do que está acontecendo nela”, contou Karina Matos.
Na Aldeia Marajaí, terra indígena do povo Mayoruna, localizada na margem direita do Rio Solimões no município de Alvarães Amazonas, a ideia dos alunos é construir um telecentro para atender além das 192 famílias e 900 habitantes, o público do entorno. “A partir desse conhecimento que nós estamos adquirindo, vamos levar pro Marajai. Estamos com um propósito de construir um Telecentro voltado para a Educomunicação, escola e comunidade. Ao redor da nossa aldeia temos várias comunidades que ficam distantes. Os alunos terminam o ensino médio e ficam parados. Com esse Telecentro vamos fazer reuniões e trazer os jovens das comunidades indígenas e não indígena para fazerem cursos técnicos e profissionalizantes”, explica Jovane Neves.
Arte-educação na Escola de Redes Comunitárias
Para promover o mapeamento imaginativo do próprio território, os estudantes receberam o acompanhamento da equipe de arte-educação do Projeto Saúde e Alegria. Através do lúdico e das metodologias participativas utilizadas no Gran Circo Mocorongo, as arte-educadoras Elis Lucien, Adriane Gama, Daiane Araújo e Kevin Pascoal auxiliaram na última formação presencial da escola.
Recentemente, a Escola participou do Fórum de Governança da internet na Etiópia e na na Colômbia. Na bagagem, além dos conhecimentos, dinâmicas como o bingo humano foram aplicadas. “Práticas voltadas para tecnologias apropriadas para a nossa região, e culmina com esses dois encontros anteriores que participamos pela Rede na Colômbia e na África. A gente vem compartilhar esses conhecimentos nesse encontro com a proposta de que a gente avance no aprendizado e na proposta colaborativa de conhecimento de tecnologia, autonomia e gestão participativa nesses territórios da Amazônia”.
A Educadora Popular Elis Lucien lembrou que a maior parte das atividades foram remotas e a realização de encontros presenciais torna a dinâmica muito interessante, pois possibilita interação prática: “Permite que eles se conheçam melhor porque nas aulas online a gente só trabalha a parte teórica. Agora a gente conseguiu trazer essa formação com a equipe toda do projeto. Fazendo com que outras pessoas pudessem vir e conhecer os alunos dessas grandes redes. Fazer com que eles se conectem, se vejam e sintam presentes dentro de uma escola”, ressalta.
Para as estudantes Samira de Menezes e Dayane Marques da Vila de Lindóia, em Itacoatiara, no Amazonas, as técnicas foram fundamentais para garantir a aprendizagem: “A gente conseguiu abrir nossos olhos para comunicação. A grande missão das redes Comunitárias é levar a comunicação pra aquelas áreas mais carentes que estão distantes da cidade. Um aprendizado que vamos levar para o nosso território”, dizem.
Conectando os Desconectados
A Escola Redes Comunitárias é parte da iniciativa global “Conectando os Desconectados”, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria. Tem 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará), sendo elas: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.