Projeto Saúde e Alegria realizou em 2024 ações de economia da floresta, instalação de sistemas de abastecimento de água, distribuição de filtros para o tratamento, capacitação em comunicação autônoma e prevenção em saúde
Em 2024 o Projeto Saúde e Alegria (PSA) realizou ações de fortalecimento à saúde, segurança alimentar e saneamento em territórios da região do alto Rio Tapajós. Ao longo do ano, o PSA levou infraestrutura, orientações e atendimentos em saúde às aldeias. As equipes também avaliaram cenários e resultados relacionados a saúde dos indígenas, como a utilização de filtros com nanotecnologia, doados a regiões impactadas pelo garimpo ilegal.
As ações iniciaram na região em 2021 com os pedidos de organizações de base lideradas por indígenas do alto e médio Tapajós. Em 2022, a equipe técnica do Programa de Infraestrutura Comunitária realizou o levantamento e mapeamento das comunidades visando implementar sistemas de abastecimento de água, atividades de geração de renda com apoio ao Coletivo Munduruku Poy criado em 2022 para estruturar alternativas sustentáveise apoio à saúde indígena na parceria com o Dsei Rio Tapajós.
“A gente sabe que saúde, saneamento e meio ambiente estão interligados. Se estiver faltando um, traz prejuízo à saúde das comunidades, principalmente aos indígenas. Então, a implantação dos sistemas de água, além de garantir uma segurança hídrica, garante o bem estar dessas famílias. Eles tem melhorias, para pegar água para cozinhar, tomar banho e produzir”, destacou o Gestor de Saneamento Ambiental da Sesai, Elson Hyos.
Em 2024 foram entregues quatro sistemas de abastecimento de água (SAA) nas aldeias do rio Cururu: Morro do Careca, Missão Velha, Bananal do Rio Cururu e Aipirep. As aldeias da região do alto Tapajós sofrem com o alto índice de contaminação por veiculação hídrica devido ao consumo de águas contaminadas por desejos dos garimpos ilegais. Com a instalação de SAA,territórios que antes dependiam da água dos rios e lago, passaram a utilizarsistemas de captação e distribuição. As tecnologias possibilitam qualidade de vida e bem estar a indígenas e ribeirinhos dos territórios, numa soma de esforços com o DSEI-RT que atende a uma população de 10.629 indígenas da etnia Munduruku, distribuídos em 164 aldeias.
“Antes a gente usava a água do rio, lavava roupa, as vasilhas, e consumia tudo vindo da água no rio. Isso causava diarreia nas crianças, vômitos em adultos, e essa era o problema que mais afetava as comunidades. Malária também afetava nossa população, no passo em que a água estava muito suja. Hoje, esses sistemas melhoraram muito a nossa situação. Não estamos mais sentia aquelas coisas que sentíamos antes, depois do poço sentimos uma melhora Cacique da Aldeia Waro Baxe, Raimundo Waro.
Com a conclusão dos sistemas foram doados kits com equipamentos que aferem a qualidade da água nos territórios atendidos pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) – Rio Tapajós. A ação faz parte do Projeto Aliados pela Água, uma iniciativa apoiada pela Coca-Cola e Fundação Avina. O PSA, por meio dos apoiadores, está comprometido em garantir não só o acesso à água, mas também a confiança de que ela é própria para o consumo. Os dispositivos foram doados ao Serviço de Edificação e Saneamento Ambiental Indígena do DSEI-RT, e vão atender populações impactadas pelo garimpo ilegal e mudanças climáticas.
Foram doados dois kits de análise e monitoramento da qualidade da água com equipamentos que permitem medir os parâmetros de pH, turbidez, cor e coliformes fecais e totais. Através do monitoramento é possível identificar as condições da fonte de abastecimento de água e definir o tipo de tratamento a ser dado, caso algum parâmetro esteja em desconformidade.
“Hoje o acesso a água é importante para a comunidade, para que todos tenham a necessidade de consumir, não precisem ir ao rio. O rio não está 100%, está poluído, e aparece doenças que prejudicam nossa saúde. Usamos os coletivos indígenas para divulgar, e buscar apoio”, contou o jovem indígena Munduruku, Frank Akay.
“A gente ouve muitos relatos de diarréias, coceiras. A gente queria entender a partir dos próprios indígenas como é isso, inclusive até pra entender como está sendo o uso dos filtros de nanotecnologia que o PSA já trouxe pra cá, há mais ou menos um ano. Usamos metodologia para entender o uso da água, por meio do banho de rio, água pra beber, e como isso influenciava na vida deles. Entendemos que com a chegada dos filtros, diminuiu o número de diarréias, doenças transmitidas pela água” – Médica Infectologista do PSA, Ana Carolina Porto.
O Rio Tapajós apresenta riscos de contaminação em alguns trechos, por conta da poluição provocada pela atividade garimpeira, além da concentração de bactérias por conta da forte estiagem. Com os kits, será possível verificar a qualidade da água nessas áreas, e verificar se os sistemas implementados pelo PSA estão promovendo água em estado adequado a essa população.
“O PSA não está comprometido apenas no acesso à água, mas também verificar se essa água é adequada para o consumo. Oficializamos a entrega desses equipamentos, que permitem fazer as análises físico-químicas, e também insumos bacteriológicos, que vão garantir e melhorar a rede de vigilância da DSEI-RT, em Itaituba” destacou o técnico de campo do PSA, Rodrigo Souza.
A região dispõe do mínimo de acesso à saneamento básico, bem distante do que preconiza a meta nº 6 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): ‘alcançar o acesso universal e equitativo de água potável e saneamento para todos’. Sem banheiros, muitos improvisam e cavam buracos para utilizar sanitários e constroem espaços com palha para o banhoEm 2023 o Programa de Infraestrutura Comunitária entregouia sete módulos sanitários domiciliares, após uma série de desafios logísticos e operacionais. Por meio do esforço coletivo de lideranças, organizações como a Associação Indígena Pariri – Munduruku, o DSEI Rio Tapajós, FUNAI e Projeto Saúde e Alegria (PSA) com apoio do Projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF, 59 pessoas de sete famílias foram beneficiadas na aldeia Sawre Apompo.
“A gente tem que aprender a cuidar da saúde da gente, porque a água é vida. Carregar água é muito pesado, e a gente tinha muita dificuldade. Agora ficou bom, com as torneiras melhoramos um pouco”, relatou a moradora da aldeia Morro do Careca, Roseli Paygo.
Este ano o Programa Saúde na Floresta também realizou formação para profissionais da saúde sobre Tuberculose. O objetivo foi capacitar enfermeiros e técnicos de enfermagem sobre prevenção, monitoramento, diagnóstico precoce e tratamento da doença. A iniciativa contou com apoio do Unicef, por meio do projeto “Emergência Munduruku; Água, saneamento, higiene e promoção de saúde para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade da Terra Indígena Munduruku”. A formação foi realizada entre os dias 6 e 8 de novembro, no auditório do Centro de Referência em Assistência Social – CRAS em Itaituba.
“A Tuberculose ainda é uma doença que está presente no Pará, inclusive o estado é campeão nas estatísticas de casos de Tuberculose. E a doença está presente nas Terras Indígenas, por isso há uma necessidade que os profissionais estejam capacitados, para saber identificar, monitorar e tratar os pacientes”, destacou a Assistente Social do PSA, Efraina Barbosa.
As orientações foram destinadas aos profissionais que atuam no setor de Prevenção e Controle das Doenças e dos Agravos, que pertence à Divisão de Atenção à Saúde Indígena (DIASI). Participaram enfermeiros e técnicos de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso e CASAI Itaituba. Ao longo da formação foi apresentado o panorama de casos da doenças no país e na área de atuação da divisão, os profissionais receberam orientações sobre como fazer a notificação e monitoramento dos casos, e também como monitorar os casos nos territórios.
“Falamos sobre a diferença entre os diagnósticos de Tuberculose, doença, e a Tuberculose Latente, que é uma realidade que temos no Brasil é um ponto que a gente precisa tocar para erradicar a Tuberculose como um problema de saúde pública. Nós pudemos também ouvir deles, quais as maiores dificuldades que eles tem em campo, não apenas em relação a Tuberculose, mas em outros aspectos como diagnóstico, desafios culturais” ressaltou a médica do PSA, Ana Carolina.
Além disso, a equipe também realizou ações de orientação quanto ao uso adequado do liquido, explicou o o Assistente de gestão do Programa Saúde da Floresta, Mateus Waimer: “A gente explica sobre o uso do cloro, dos filtros, para que todos entendam a importância dessas tecnologias. Conseguimos identificar, que a população mesmo já percebeu uma diminuição de contaminações por meio da água”
“Superar os desafios logísticos é fazer acontecer, então nós fazemos acontecer. A gente enfrenta diversos desafios em relação a seca e cheia. No rio Cururu, nossa equipe teve muita dificuldade para trazer essas tecnologias às comunidades. Em cada aldeia a gente viu suas particularidades em relação ao acesso à água, e as dificuldades e desafios”, contou o técnico de campo do PSA, Rodrigo Souza.
Em junho, o PSA entregou instalações de energia elétrica nas Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI) nas aldeias da etnia Munduruku, região do alto Rio Tapajós, que agora contam com energia solar off-grid. A energia gerada pelos grupos geradores é utilizada para alimentar sistemas de abastecimento de água, UBSI, escolas e residências, o que implica no alto consumo de combustível e elevado custo de manutenção desses equipamentos. Essa ferramenta está contribuindo para os atendimentos no território.
“A gente consegue em tempo hábil, a gente consegue realizar os diagnósticos de doenças e tratar os pacientes. Nós atuamos em uma área de difícil acesso, mas essas tecnologias estão contribuindo para melhorar os serviços de enfermagem, comunicação com outros territórios, e tudo isso implica na assistência aos indígenas desses territórios”, ressaltou a enfermeira do polo Waropompom.
O Programa de Economia da Floresta fortaleceu as ações de renda comunitária em 2024. Apoiou as atividades comunitárias a exemplo do Encontro promovido na Aldeia Waro Apompu, Terra Indígena Munduruku em Jacareacanga-Pará, um marco importante para as lideranças indígenas, representantes de organizações e membros das aldeias que se reuniram para discutir a safra da castanha e iniciativas de desenvolvimento sustentável no território.
Em 2024, 282 latas de castanha foram coletadas, envolvendo onze de trinta e uma aldeias integrantes da estratégia. Os coletores enfrentaram grandes dificuldades para atender a demanda do mercado da castanha in natura que está aquecida após o período da pandemia. A produção ficou abaixo do esperado na região do Alto Tapajós, mesmo considerando a variação anual da dinâmica da castanha. Alguns fatores podem ter contribuído para a diminuição na produção de sementes, como por exemplo, as consequências das alterações climáticas, como diminuição das chuvas e aumento das temperaturas. Os indígenas relataram que árvores esse ano produziram menos, ocorrendo abortamento de flores e frutos. Isso tem dificultado o planejamento das atividades de coletas que até então, são realizadas com base nas estimativas de produção natural da espécie que é bianual com altas e baixas de produção.
Promover práticas de coleta sustentável preserva a floresta e seus recursos, proporciona alternativas econômicas para as comunidades, desencorajando a participação no garimpo ilegal. Atualmente a coleta da castanha opera como primeira atividade piloto de muitas que virão e se torna uma estratégia-chave para enfrentar o problema do garimpo, protegendo o meio ambiente e fortalecendo as comunidades. Além da safra da castanha, o encontro abordou temas como a formalização e estatuto da associação, merenda escolar tradicional indígena e o Projeto de Copaíba, borracha e agricultura, diversificando a produção, para que os indígenas tenham renda o ano todo, podendo ficar na aldeia.
Fotos: Projeto Saúde e Alegria/Pedro Alcântara e Cristian Arapiun.