Primeira edição do curso promovido pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA), reuniu mais de trinta moradores de aldeias indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas
Com objetivo de capacitar jovens e líderes comunitários em inclusão digital, trinta e oito pessoas participaram do curso que ampliou conhecimentos sobre o uso consciente e educativo da tecnologia para promover a autonomia digital das comunidades. A iniciativa liderada pelo Projeto Saúde e Alegria – PSA faz parte das capacitações planejadas pela Escola Floresta Ativa, recém-lançada em Santarém, com ênfase no fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade e no acesso às novas tecnologias.
O PSA vem implementando pontos de acesso à internet via satélite nas comunidades da região. Já foram 43 pólos instalados, participando da Rede Conexão Povos da Floresta, um amplo projeto de inclusão digital liderado por organizações territoriais da Amazônia como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, e Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos –CONAQ.
Como braço de formação das ações do PSA, a Escola Floresta ativa tem “a proposta de capacitar a juventude em relação a essas temáticas que unem tecnologia e a realidade socioambiental das comunidades. Fazer uma inclusão digital de fato, porque não basta promover o acesso, mas sim facilitar os usos sociais, culturais e econômicos nos potenciais das comunidades”, ressaltou o coordenador do Programa de Educomunicação do PSA, Fábio Pena.
A formação aconteceu no período de 22 a 26 de abril no Centro Experimental Floresta Ativa, onde boa parte das formações devem acontecer. O espaço foi preparado para receber os alunos na Resex Tapajós-Arapiuns e receber públicos de outros territórios, como a Flona Tapajós, Lago Grande, entre outros.
Na prática, os participantes aprenderam sobre como conectar comunidades remotas por meio da internet e de que forma devem lidar com os desafios específicos de usar a internet em territórios amazônicos. Foram evidenciados, por exemplo, aspectos de segurança de dados para proteção de informações pessoais para evitar riscos.
“Tem muita gente na comunidade que não sabe usar a internet. A gente está vindo nessa formação para melhorar o uso da internet na comunidade e como devemos usar”, Elielson Azevedo.
O curso enfatizou as aplicações educacionais, de saúde e socioeconômicas para que as pessoas sejam gestoras comunitárias da tecnologia, como destacou o técnico de inclusão digital do PSA, Bruno Amir: “Esse comunitário é peça principal nesse processo de expansão tecnológica. Não apenas para consumir internet, mas também para produzir, criar, trocar experiências entre esses territórios no sentido de proteger a comunidade, fomentar a economia, melhorar acesso à educação”.
É o caso da aldeia Vista Alegre do Capixauã que tem uma pousada construída com apoio do PSA, uma experiência de turismo de base comunitária que pode se fortalecer com o uso da internet, como conta a liderança Claudete Kumaruara: “Aprendi a usar a internet de forma correta, porque a gente tem que ter cuidado com os nossos dados na internet porque muitas vezes a gente vai acessando qualquer coisa e permitindo e vai acessando nosso sistema de dados. Levar essa internet para nossa comunidade é importante porque a gente faz a divulgação do nosso turismo de base comunitária, nossas lutas, a nossa existência e monitoramento territorial. Uma arma pra gente se defender”.
Em São Pedro, região do Arapiuns, uma Unidade Básica de Saúde recebeu conexão para operar teleatendimentos e acesso aos moradores. Com a capacitação, Marilvana Sousa, explica que os moradores ampliarão possibilidades de defesa do bioma: “tudo isso que está acontecendo no nosso território vai facilitar ainda mais pra nós que moramos numa reserva, num território que a gente está querendo conservar”.
“Pra mim foi um privilégio participar desse projeto e junto com essas pessoas, aprender como manusear esse aplicativo, como trabalhar com a internet e levar conhecimento pra esses territórios” – Adamiana Santos, quilombo São José do Ituqui.
Os mediadores de inclusão digital atuarão na ponta, como disseminadores dos conteúdos compartilhados. Uma necessidade, afirma o coordenador geral do projeto, Caetano Scannavino:
“Emocionado em testemunhar o curso de mediadores digitais. É mais um esforço de fazer chegar tecnologia de ponta na ponta, mas nada adianta se a gente não faz um processo de cocriação com as comunidades capacitando uma rede de agentes comunitários em tecnologias de informação para que eles possam irradiar isso nas aldeias das comunidades e trabalhando a autogestão de empreendimentos de comunicação, internet e telecentro para fazer o melhor uso de tecnologia”.
Empoderamento digital
Também dentro da estratégia da Escola Floresta Ativa, está sendo implementado o CED – Centro de Empoderamento Digital, a partir da parceria com a RECODE, organização que atua no campo da inclusão digital para a cidadania e que compõe o projeto Conexão Povos da Floresta.
O CED – CEFA irá atender de forma presencial e remota as comunidades do entorno do CEFA, conforme o aumento de comunidades atendidas pelas instalações das antenas de conexão banda larga. Para tanto, foram realizados diagnósticos participativos sobre os benefícios do acesso à internet para fortalecimento dos territórios de acordo com suas demandas e potencialidades, para que os moradores sejam capacitados os moradores através das práticas de bom uso da internet.
“Estamos entusiasmados com esta parceria de impacto colaborativo entre Recode, PSA, Reurbi, Nossas, Imazon, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, MapBiomas, além de financiadores como Skoll Foundation e Movimento Bem Maior. O engajamento das lideranças das 5 comunidades envolvidas no novo CED (Centro de Empoderamento Digital) junto ao nosso educador local contribuirão para que a cultura ancestral se una à tecnologia em prol dos povos e da floresta em pé” – Rodrigo Baggio, CEO da Recode.
A Recode é uma organização social com foco em empoderamento digital, atuante há 29 anos no Brasil e em mais 11 países. O CED Paulo Lima poderá contribuir para a criação e consolidação de ações em andamento, tanto do Projeto Saúde e Alegria como de projetos das comunidades e aldeias da região.
Escola Floresta Ativa
A iniciativa do Projeto Saúde e Alegria conta com o apoio da Fundação Toyota do Brasil e foi lançada em 25 de abril em Santarém com a presença de representantes do PSA, Fundação Toyota do Brasil, parceiros das comunidades e poder público.
“É um projeto que tem como foco principal olhar as oportunidades da região e por meio de programas de educação, formar quase 500 pessoas, gerando oportunidades em tantas áreas. Nesse primeiro curso de mediadores digitais, foi muito bacana porque falamos de inclusão digital, área que está numa crescente tremenda” – Otacílio do Nascimento, diretor executivo da Fundação Toyota do Brasil.
A estratégia inclui cursos da área de inclusão digital, turismo de base comunitária e seus serviços (gestão de empreendimentos coletivos, boas práticas de manipulação de alimentos, gastronomia, condutores de trilhas na natureza, boas práticas de receptivo), manejo de óleos e sementes da floresta, manejo de abelhas e produção de mel, energias renováveis (formação de eletricistas do sol), artesanato da floresta, gestão e proteção territorial.
Conexão Povos da Floresta
Por meio de uma rede estruturada de parceiros, a iniciativa visa conectar em rede, através de internet rápida, mais de 1 milhão de pessoas de comunidades da Amazônia brasileira, garantindo a efetividade do poder da conexão tecnológica para todos os povos da floresta que residem em áreas protegidas. Juntamente às tecnologias de uso e gestão comunitária da internet, um ecossistema de plataformas está sendo desenvolvido para fortalecer a rede entre os povos e o melhor que a internet pode oferecer como instrumento de transformação social mediante demandas comunitárias.
A proposta é que o projeto possa fortalecer o monitoramento territorial, possibilitando autonomia de vigilância para e pelos povos da floresta; Saúde conectando telemedicina e atendimentos remotos, engajando as pessoas a permanecerem por mais tempo em seus territórios com qualidade de vida; Educação oportunizando a implementação da formação educacional com conteúdos disponibilizados online; Empreendedorismo garantindo mecanismos para o desenvolvimento de negócios graças à comunicação remota e, cultura e Ancestralidade com a manutenção da cultura viva para as próximas gerações, aumentando a visibilidade das tradições dos povos da floresta para o mundo.
“Projeto que veio pra beneficiar as comunidades amazônidas. Nós enquanto lideranças das comunidades viemos buscar conhecimento e aprimorar em relação ao letramento e empoderamento digital nos territórios” – Marlon Rebelo, Feagle.