Projeto amplia acesso à internet, fomentando redes comunitárias na Amazônia. Em março equipe da Rede Floresta Digital visitou iniciativas do Quilombo Gibrié de São Lourenço e Comunidade Acará-Açu no Pará
A comunidade quilombola Gibrié de São Lourenço, localizada em Barcarena, e a Comunidade Acará-Açu, no município de Acará, ambas no Pará, receberam a visita do Projeto Rede Comunitária que marca um ano de início das atividades. A iniciativa, desenvolvida pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA) e DW Akademie com apoio da União Europeia, busca fortalecer redes comunitárias e promover a inclusão digital em territórios tradicionais.
A visita teve como objetivo acompanhar a implementação do projeto que fortalece comunidades que desenvolvem projetos de sociobieconomia nos estados do Acre, Amazonas, Pará e Amapá.
Para Rodrigo, diretor do departamento da América Latina da DW Akademie, “avaliar os resultados do primeiro ano do projeto tem sido gratificante, pois as comunidades estão engajadas e demonstram grande esperança na independência que a inclusão digital pode proporcionar”. Ele foi acompanhado pelo diretor geral da DW Akademie, Carsten von Nahmen, que realizou a primeira visita ao Brasil. Os dois também mencionaram a felicidade em conhecer de perto o impacto do projeto: “Estamos muito contentes, estamos sendo recebidos com muito carinho e é muito bonito ver a energia das comunidades”. Para a organização de desenvolvimento de mídia alemã, o projeto é uma oportunidade de retomar o trabalho na região amazônica com mais intensidade, após experiência quinze anos atrás com fortalecimento de capacidades no jornalismo ambiental.
Fábio Pena, coordenador do PSA, contou que a iniciativa busca promover a inclusão digital para apoiar esses projetos socioprodutivos sustentáveis desenvolvidos nessas comunidades: “essas comunidades vêm desenvolvendo e demonstrando que tem soluções inclusive para a questão do clima. Então são projetos que estão alinhados com essa proposta do desenvolvimento sustentável”.
No Quilombo Gibrié de São Lourenço, uma das contribuições do projeto é a construção de um espaço e equipagem de uma rádio comunitária digital. Segundo Antônio Freitas, responsável pela meliponicultura na comunidade, “a rádio servirá para divulgar os projetos desenvolvidos e fortalecer a identidade quilombola na região”. A iniciativa também busca ampliar a visibilidade dos quilombos de Barcarena, promovendo conscientização sobre a cultura e os modos de vida locais: “O projeto da rádio tem como objetivo novamente juntar tanto essas culturas, essa diversidade de pessoas que vivem dentro do nosso Quilombo, histórias, até mesmo do âmbito de culinárias, para poder novamente expandir, multiplicar esses conhecimentos dentro do Quilombo e fora do nosso Quilombo”.
“Construir esse espaço, vai proporcionar maior visibilidade à nossa comunidade. Essa interação que a gente quer promover com as outras comunidades, entrevistar o nosso povo do quilombo Gibrié de São Lourenço, contar nossas histórias, divulgar para quem queira saber, conhecer mais, vai ser maravilhoso. Principalmente porque a gente vai estar trabalhando com a nossa juventude, com as mulheres, que são a força feminina aqui deste território. Então, trabalhar com a juventude, que é o futuro deste país, fazendo com que eles sejam espontâneos, saindo do que nós éramos antes, não deixando a nossa cultura, mas inovando, recriando, formulando” – Juzenite Santos, Quilombo de Gibrié de São Lourenço.
Na Comunidade Acará-Açu, foi inaugurado um espaço que ganhou o nome de Cabana Digital, que vai permitir que os comunitários utilizem a internet para comercializar seus produtos e fortalecer suas iniciativas produtivas. Isabela Campos, uma das coordenadoras do projeto Cabana Digital pela Rede Floresta Digital em acará-açu, destacou que a cabana é um espaço coletivo, “onde cada integrante da comunidade contribuiu para sua construção e agora pode utilizar para expandir suas atividades econômicas”.
Uma das iniciativas desenvolvidas na comunidade é o grupo Guardiãs do Cacau, um empreendimento liderado por mulheres que transforma o cacau agroecológico produzido localmente em chocolate artesanal.
O Projeto Rede Comunitária Floresta Digital garante os recursos para a construção dos espaços comunitários, a compra dos equipamentos e o apoio técnico que se realiza em cooperação com a Casa Preta e uma equipe de especialistas em criação de conectividade participativa para as instalações e a capacitação dos agentes locais. Uma parceria com a Rede Conexão Povos da Floresta também viabilizou as antenas de internet em uma das comunidades.

A visita também incluiu a participação da Casa Preta da Amazônia, organização sediada em Belém que é uma das parceiras técnicas na implementação do projeto e um Encontro de representantes de Jornalistas e Comunicadores Sociais da Amazônia, onde foram discutidas estratégias de comunicação e fortalecimento de redes comunitárias diante da crise climática mundial.
Para as lideranças comunitárias, o projeto Rede Floresta Digital representa uma oportunidade de ampliar a autonomia dos territórios tradicionais. Pajé Mário Santos, coordenador da Associação Gibrié, ressaltou que “a internet chega num momento crucial, possibilitando a divulgação dos produtos e a conexão com outras comunidades”.

A expectativa é que a infraestrutura digital impulsione a economia local e contribua para a valorização cultural, fortalecendo as redes comunitárias e a resiliência das comunidades envolvidas. O projeto também reforça a autodeterminação dos povos tradicionais, permitindo que eles tenham mais protagonismo na defesa de seus direitos e na difusão de seus saberes ancestrais.
“É realmente muito gratificante ver o quanto a gente pode ser valorizado dentro daquilo que fazemos dentro do nosso território e quem está proporcionando isso pra gente nesse primeiro momento é a DW Akademie em parceria com o PSA e a gente agradece demais e acredita muito que esse trabalho tem muitos tem muito ainda a contribuir com o nosso território” – Antonina Cunha do Oliveira, liderança da Comunidade Acará-Açu.